Fernando Procópio - Divulgação
Fernando ProcópioDivulgação
Por RICARDO SCHOTT

Rio - Cria de Marechal Hermes, subúrbio carioca, e ligado ao samba por intermédio da família ("bisavô, avô, pai, tio"), Fernando Procópio já conseguiu colocar uma música no repertório de Zeca Pagodinho - o samba 'Um É Ruim, O Outro É Pior', parceria dele com o pai Cesar e o tio Serginho, que vai entrar no próximo disco do sambista. Também está gravando um disco próprio e já vem fazendo sucesso nos shows com dois sambas anti-homofobia. 'Na Boca do Povo' diz que "o homem que gosta de homem merece respeito". E 'Eu Vos Declaro' fala sobre o casamento homoafetivo.

"Eu Vos Declaro surgiu dum verso que ouvi do meu parceiro de música, Flávio Galiza, que dizia 'eu vos declaro marido e marido/eu vos declaro mulher e mulher'. Achei aquilo o máximo e falei que nem precisava cantar o resto, pois a música era minha e iria terminar. É o primeiro samba, em mais de 100 anos de história, a abordar as relações homoafetivas de maneira respeitosa", relata Procópio.

Já 'Na Boca do Povo' faz uma brincadeira inicial em que a rima insinua a palavra "boiola", mas a ideia é justamente interagir com o preconceituoso arraigado nas pessoas. "É um partido-alto nato, de pergunta e resposta. Apresentei a ideia pro meu parceiro, Tinho Brito, e ele topou de cara o desafio. Com essa canção vencemos o Batuque da Boa, concurso promovido pela cervejaria Antártica, no Parque Madureira, que premiou o melhor samba inédito de 2018".

A música gravada por Zeca, por sua vez, já é mais tradicional. "É um partido-alto numa pegada mais regional, que surgiu de uma brincadeira do sujo falando do mal lavado. Levamos isso para os ares nordestinos, com expressões da região. O resultado ficou bem legal", conta. A música foi apresentada por Serginho, tio dele, em um dos encontros de escolha de repertório promovidos por Zeca. Fernando nem sabe se Zeca conhece suas duas canções solo.

"Acredito que ele nem tenha conhecimento dessas canções desconstruídas que ando fazendo", conta. "Mas seria maneiríssimo se um dia tivesse uma delas registradas na voz dele. É um ídolo e uma das minhas referências musicais".

Fernando já sofreu homofobia por cantar essas letras? "Sou heterossexual, não me sinto confortável de dizer que sofri homofobia pois sei que não é meu lugar de fala. Mas já sofri alguns ataques homofóbicos nas redes sociais. Nas redes, protegidos por perfis, sempre há muita intolerância, mas para cada comentário preconceituoso e nocivo recebo vários outros carinhosos e acolhedores", conta.

 

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