Rio - Há 25 anos, como em uma espécie de previsão do atual desastre florestal no país, estreava o longa 'Amazônia em Chamas'. A produção, que dava protagonismo à devastação da maior reserva florestal do planeta, rendeu a Sonia Braga uma indicação ao Globo de Ouro. Amanhã, a atriz volta às telas de cinema de todo o país com o filme 'Bacurau', mas teme que os problemas e reivindicações do passado voltem a ser pauta.
"A gente está falando sobre a mesma coisa há quantos anos? Há quanto tempo? E olha quantas coisas já foram conquistadas e agora estamos perdendo essas conquistas. E esse problema sério, mais agudo, que estamos vivendo é essa emergência na Amazônia e dos nossos irmãos indígenas", lamenta a atriz.
Bacurau
O longa 'Bacurau', dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, é, nesse sentido, um manifesto político contra decisões governamentais. O filme conta a história de uma comunidade que desaparece dos mapas, e seus moradores tentam entender o que está acontecendo. A cidade fictícia de Bacurau, localizada no sertão brasileiro, reflete a resiliência do povo nordestino.
"A força desse filme que vem do povo, da raça e das raízes. Quero que as pessoas vejam e me contem onde elas se reconheceram e que força elas encontraram no filme", destaca.
A produção, vencedora do Prêmio do Júri no Festival de Cannes, chega com altas expectativas no país após diversos protestos em exibições desde maio deste ano.
"O momento era delicado quando a gente foi a Cannes, mas a gente estava avisando. Nós tínhamos o sentimento que isso poderia acontecer. Mas a gente já passou muito além de um momento delicado, a gente está correndo o risco de perder muitas coisas e até mesmo a nossa Constituição. E isso não se pode admitir. Acho que nenhum brasileiro deve ficar calado nesse momento. Vamos para a rua, vamos fazer o que é melhor para o povo brasileiro. No final das contas, todo mundo quer a mesma coisa: três refeições por dia, morar debaixo de um teto e viver com dignidade", manifesta a atriz.
Ainda na seara da política, Sonia tem dedicado o trabalho no longa, como Domingas, à vereadora e ativista pelos direitos humanos Marielle Franco, brutalmente executada em março do ano passado.
"Eu tenho dedicado esse trabalho a Marielle primeiro porque Marielle vive dentro de nós e também por um motivo pessoal. Estive com ela 15 dias antes em um debate que fizemos para falar sobre a segurança no Rio de Janeiro. Logo depois, recebemos a notícia de que ela tinha sido executada. A partir desse momento, eu a carreguei comigo e acho que todos nós devemos continuar com o nome dela", afirma, emocionada.
Novelas
Considerada um patrimônio nacional, Sonia Braga aproveita o lançamento do filme para esclarecer boatos de que não voltaria ao Brasil.
"Eu também ouvi essa história de que não voltaria ao Brasil, mas não entendi. Tem coisas que eu não falo. Essa coisa de 'eu não volto ao Brasil' não existe em mim, não existe no meu coração. Não existe porque quero ir de novo a São Bernardo, quero ver Boulos (ex-candidato à Presidência da República). Quero marchar de novo, se for necessário, ao lado de Caetano Veloso, pela Amazônia. Eu vou estar na rua, vou estar na praça", promete a artista.
E se a nossa eterna Gabriela quer estar no Brasil, será que existe vontade de voltar a fazer novelas? "Vontade eu sempre tive. Sempre adorei fazer novelas. Não fazer novelas é um castigo para mim, porque eu sempre achei que a novela é o teatro democrático brasileiro", destaca a atriz, que ao mesmo tempo, pondera sobre estar em alguma trama. "É ali que as pessoas podem se encontrar e ver de graça, mas, ao mesmo tempo, existe esse monopólio da novela que complica", lamenta.
Oscar
Apesar de aclamado mundialmente, 'Bacurau' não vai ser o representante do Brasil na cerimônia do Oscar de 2020. O filme escolhido, e anunciado nesta terça-feira, foi 'A Vida Invisível', do diretor Karim Aïnouz, que conta com a participação de Fernanda Montenegro, Gregório Duvivier e Bárbara Santos. Por aqui, o filme só estreia no dia 31 de outubro.
