O ator Selton Mello interpreta o detetive particular cego Nelson França em 'França e o Labirinto', nova audiossérie do Spotify, que estreia hojeBruno di Torino / Divulgação

Rio - Os fãs de suspense podem conectar os fones de ouvido e se preparar para uma experiência inédita com a audiossérie "França e o Labirinto", que estreia nesta terça-feira (29) no Spotify. Selton Mello, de 50 anos, empresta sua voz marcante a Nelson França e guia os ouvintes pela jornada do detetive particular cego atrás de um famoso serial killer. Para dar vida ao investigador, o ator resgatou a experiência que teve ainda na infância ao trabalhar em um dos estúdios de dublagem mais icônicos do Brasil.
"Eu fui dublador profissional no mitológico estúdio da Herbert Richers dos 12 até os 22 anos. Foi um período muito rico na minha formação. Eu aprendi muito com grandes dubladores e aprendi a me expressar com a minha voz, não tinha mais nada além dela. E isso me deu alguma coisa diferente como ator, acho que a minha voz é muito reconhecível", declara o artista, que, além dos papéis no cinema e na TV, também é conhecido por dublar grandes produções como "Karate Kid" e as animações "Irmão Urso" e "A Nova Onda do Imperador". Este, aliás, Selton afirma ser seu trabalho como dublador "mais amado" pelo público.
O ator ainda relembra uma situação parecida com o que seu personagem vive no primeiro episódio de "França e o Labirinto". "Eu entrei num táxi e o cara já sacou que era eu pelo jeito como eu falei 'Copacabana'. Tem uma coisa de reconhecer a minha voz, isso é muito interessante. Então, eu sempre gostei de trabalhar com a minha voz. Quando pintou esse projeto, eu adorei todo o pacote: a história, o personagem, a ideia de trabalhar no Spotify", diz Selton.
Com produção e direção assinadas por Alexandre Ottoni e Deive Pazos, da Jovem Nerd, a audiossérie representa um encontro de inovação e tradição até mesmo para Selton, que revela ter conhecido o mundo dos programas que contam histórias de crimes reais após gravar o projeto. "Para quem curte true crime, é muito atrante, só que é com atores, muito bem escrito, com uma ambientação fabulosa. Eu não era um público, mas agora tenho me interessado, depois de ter feito essa experiência", explica.
"E o planeta é redondo, o mundo é circular e as coisas voltam. Por exemplo, a minha mãe ouvia novelas de rádio. Não é da minha época, mas, quando eu fui para os estúdios da Herbert Richers, ela me levava e ficava no pátio, esperando a minha horinha. Ela ficava ali viajando, reconhecendo as vozes (dos atores). Não sabia nem como era a pessoa. De uma certa forma, o mundo gira e a gente, agora, está fazendo uma audiossérie, que nada mais é do que um retorno às rádionovelas. De repente, isso volta de um outro jeito, com a tecnologia de hoje. É um trabalho muito rico. Eu curti bastante a experiência e espero fazer outros", avisa. A produção vem após o sucesso de outros projetos como "Batman Despertar", com Rocco e Camila Pitanga e Tainá Müller, e "Paciente 63", protagonizado por Mel Lisboa e Seu Jorge.
O mistério e as aventuras de Nelson França podem ser acompanhadas pelos ouvintes de uma maneira mais imersiva a partir do áudio binaural, tecnologia em que o som é localizado e cerca quem está escutando, trazendo para o público a perspectiva do protagonista. O ator promete que a trama é boa companhia para todos os momentos: "Cada um vai ter a sua viagem. A pessoa vai estar na condução, indo para o trabalho, e ouvindo ali uns dois episódios. Porque eles são gostosos, não são longos, estão num tamanho muito bom. Então, a pessoa vai viajar, sentindo o que o personagem estava sentindo. As pessoas vão ter uma experiência muito rara", garante.
'O Auto da Compadecida 2'
Para os fãs de Selton, "França e o Labirinto" interrompe um hiato do ator, afastado da TV desde o fim da novela "Nos Tempos do Imperador", em fevereiro de 2022, na TV Globo. E o projeto também abre caminho para três filmes previstos para chegar aos cinemas brasileiros no ano que vem. O mineiro contracenou com Marjorie Estiano em seu primeiro terror, intitulado "Enterre Seus Mortos", baseado no livro de Ana Paula Maia.
Além disso, o artista se juntou a Fernanda Montenegro e Fernanda Torres em "Ainda Estou Aqui", novo longa de Walter Salles que retrata o período da ditatura militar no Brasil na perspectiva do escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens Paiva, ex-deputado federal que foi preso em 1971.
E o lançamento mais aguardado de Mello para 2024 é a continuação de "O Auto da Compadecida" (2000), renovando a parceria com Matheus Nachtergaele na pele de Chicó e João Grilo, personagens inesquecíveis do clássico de Ariano Suassuna. "Tem sido uma experiência muito emocionante, porque, 25 anos depois, a gente se reencontra. E é um espelho, porque eu olho para o Matheus e vem tanta lembrança, e ele olha para mim e também se emociona, é louco. São duas entidades quase, não é nem eu e ele, é o João Grilo e Chicó", comenta o ator, que deu vida ao rapaz conhecido pelo bordão "Não sei, só sei que foi assim".
Dirigido por Guel Arraes e Flávia Lacerda, "O Auto da Compadecida 2" teve suas filmagens iniciadas no último dia 20, trazendo Taís Araújo como a nova Compadecida e outros nomes de peso, como Eduardo Sterblitch, Fabiula Nascimento, Luis Miranda, Humberto Martins, Juliano Cazarré e Luellem de Castro. Virginia Cavendish e Enrique Diaz também reprisam os papéis de Rosinha e Joaquim Brejeiro, respectivamente, no filme que tem previsão de estreia para o final do ano que vem.