'Elis, a Musical' comemora 10 anos de estreia com temporada especialCaio Gallucci/Divulgação

Rio - Laila Garin está de volta no papel de Elis Regina com o espetáculo "Elis, a Musical", que celebra 10 anos desde a primeira exibição com uma temporada especial, em cartaz no Teatro Riachuelo, no Centro do Rio, até o dia 10 de dezembro. Dirigida por Dennis Carvalho e com texto de Nelson Motta e Patrícia Andrade, a montagem retornou aos palcos prometendo emocionar o público mais uma vez, contando a história de luta e glória da Pimentinha, como a cantora era conhecida. Ao longo da peça, os fãs revisitam canções e momentos marcantes da trajetória da artista gaúcha, que morreu em janeiro de 1982, aos 36 anos.
"Está sendo até mais emocionante do que eu imaginava, é muito especial. Estou vendo como a Elis tem uma força imensa mesmo", declara a atriz que interpreta a cantora no espetáculo. "A gente tem um elenco jovem, novo e, desde os ensaios, a gente já viu a potência da obra de Elis reverberando nesses atores", destaca Laila. "Mesmo sem a gente ter mudado uma linha do texto, muitas cenas são ressignificadas pelo que a gente viveu nos últimos tempos, e Elis, ainda, (continua) com sua autenticidade e provocando muito. É muito atual, para o bem e para o mal, infelizmente, na verdade", acrescenta.
Laila também enfatiza a importância de se resgatar a história de uma das maiores vozes do país, no encerramento do primeiro ano do presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT), em seu terceiro mandato. Para a baiana, a história de Elis se confunde com a do Brasil, principalmente entre os anos de 1975 e 1982, quando a cantora se tornou mais engajada nos embates contra a ditadura militar, que durou de 1964 a 1985. Neste período, a vocalista lançou alguns de seus trabalhos mais emblemáticos, como o disco Falso brilhante (1976), que traz o sucesso "Como Nossos Pais", canção escrita por Belchior que se popularizou na voz da gaúcha.
"Independente de qualquer coisa, quando a gente revisita a nossa história, a gente está se conhecendo, estamos trabalhando a nossa identidade como o país como povo. É claro que a obra de Elis não dá conta de tudo, mas dá conta de uma parte importante", afirma. "A gente é um país sem memória. Vivemos umas coisas bem pesadas nos últimos anos, um desmonte da cultura, uma ameaça à democracia... E, aqui, a gente lembra que a gente viveu uma ditadura e que alguns direitos e liberdades que temos hoje foram muito difíceis de serem conquistados", opina.
Questionada sobre o público-alvo do musical, a atriz afirma que a montagem é para todas as classes sociais e faixas etárias: "Tem pessoas que, há dez anos, eram crianças, ainda não tinham ido para o teatro e, agora, podem ir. A gente pôde fazer, por exemplo, para os netos de Elis, que estavam lá na plateia, emocionados (na temporada paulista, em outubro)", relembra a artista que, em 2014, teve seu trabalho reconhecido com o troféu de Melhor Atriz em premiações como o Prêmio Shell, Bibi Ferreira e APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).
"Tem as pessoas que viram há dez anos que vieram falar comigo e estão muito emocionadas de novo. Então, é para quem não conhece conhecer, e, através de Elis, acabar conhecendo a história do país. Para quem já conhece (o musical), existe um poder do teatro que é da comunhão, nós estarmos numa sala ao mesmo tempo, com uma coisa acontecendo ali, ao vivo. Depois da pandemia, as pessoas estão com sede e o teatro está mais forte do que nunca. Nesse sentido, é para todos", pontua.
Nova série
Além da presença forte nos palcos, Laila Garin também pode ser encontrada nas plataformas de streaming. A atriz está no elenco da série "Fim", que estreou no Globoplay em outubro deste ano, no papel de Norma, prima de Ruth (Marjorie Estiano), que sai do interior para viver no Rio de Janeiro dos anos 1970 e acaba se casando com o libertino Silvio (Bruno Mazzeo). Da mesma forma como "Elis, a Musical", a adaptação do romance homônimo de Fernanda Torres também estabelece uma conexão entre o passado e o presente ao contar a história de um grupo de amigos e suas relações através do tempo.
"Eu acho que 'Fim' tem o poder de fazer a gente olhar a vida um pouco 'de cima', assim como o espetáculo 'Elis, revisitar os tempos atrás e ver a nossa evolução. A minha personagem em 'Fim' é uma mulher que teria uma vida totalmente convencional, mas acaba desquitada, divorciada e emancipada, sendo que ela nem era feminista. A série me confronta muito com a liberdade que a mulher tem hoje, como era difícil anos atrás, e quanto ainda é necessário você ter um homem do seu lado para ter o mínimo de respeito", opina.
"Essa relação com o tempo faz a gente ver onde estamos na história, o quanto ainda falta para se conquistar e o quanto já se conquistou. Pra mim, a questão do feminismo e machismo é tão forte quanto a questão da finitude e do cuidado, a mulher como essa pessoa que cuida de todos", continua.
Enquanto trabalha com diferentes obras que dialogam com o passado, a atriz é sincera ao refletir sobre sua relação pessoal com o futuro: "Nesse momento, eu não sei como eu me vejo daqui a dez anos", confessa Laila, que, mesmo assim, revela seus "sonhos mais belos". "Gostaria de ter um teatro e um estúdio de voz, trabalhar com outros atores e estar fazendo muito cinema — é assim que eu me vejo".
Serviços - 'Elis, a Musical' no Teatro Riachuelo
Últimas apresentações. Quinta, às 20h. Sexta, 20h30. Sábado, às 16h e 20h. Domingo, 18h.
Endereço: Rua do Passeio, 40 - Centro
Ingressos a partir de R$ 25 (meia-entrada), disponíveis no site Sympla.
Classificação: 14 anos.