Gabriela Lopes Siqueira - gestora do Camarote FavelaPaulinne Carvalho - Camarote Favela

Está chegando a hora de mais um Carnaval, e quem já pisou no Sambódromo sabe: ali é o verdadeiro retrato do Brasil, misturado com fortes emoções. Tem celebridade por todos os lados querendo o melhor ângulo de foto para postar nas redes sociais, tem o tio da comunidade com aquela cervejinha na mão e o enredo da escola já decorado de cabo a rabo, tem o jovem classe média universitário, a moça do subúrbio que pegou três conduções pra chegar e ver a escola do coração brilhar, a velha guarda que dedicou bons anos de vida à escola, na concentração, com o coração acelerado porque está chegando a hora de entrar na mais bela das avenidas. Esse mix é o que faz a Sapucaí ser o palco mais democrático do mundo.

A diversidade é a alma do Carnaval. Sem ela, o samba desafina. Já pensou se o Sambódromo fosse um lugar monocromático, sem a mistura de cores, ritmos e histórias? Seria como feijoada sem torresmo, não dá! O luxo é ser quem você é. Todo mundo é bem-vindo, seja de salto ou de chinelo, de bermuda ou de terno. Bom, terno é um pouco de exagero, mas vale tudo. O importante é o sorriso no rosto e o samba no pé.

No Carnaval, glamour e raiz não são inimigos. Pelo contrário, são como arroz e feijão: inseparáveis. Tem ator global pegando dica de samba com o passista da comunidade, tem empresário aprendendo a batucar com o ritmista da favela, e tem influencer deixando o celular de lado pra curtir um pagodão com a galera. Ninguém está preocupado com o sobrenome ou com a condição social. O que vale é a energia, o respeito e o amor pelo Carnaval.

Foi assim em 1989, quando Joãozinho Trinta eternizou a frase “quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo”, levando para a avenida um desfile riquíssimo que exaltava a cultura popular. Mais recentemente, em 2018, a Paraíso do Tuiuti emocionou o Brasil com uma crítica política feroz, provando que o samba também é voz. E quantas vezes a Mangueira fez sua ode aos telhados de zinco e à força do povo negro - “O nêgo samba, nêgo joga capoeira” - na voz incomparável de Jamelão?

E é isso que faz o Sambódromo ser tão especial. Durante os dias de festa, a Sapucaí vira um microcosmo do Brasil que a gente sonha: um lugar onde todo mundo tem vez, voz e espaço. O gari, a empresária, o estudante, a influenciadora e o ambulante dividem o mesmo espaço, o mesmo samba e a mesma paixão. Onde o importante não é de onde você veio, mas sim como você samba!

Por isso é tão importante que a diversidade esteja presente em todos os setores do Carnaval, inclusive nos camarotes. Porque o Carnaval não é só festa: é cultura, resistência, identidade. E o Camarote Favela, que tenho a alegria de administrar, tem orgulho de ser parte desse movimento, de mostrar que a verdadeira riqueza do Carnaval está na sua pluralidade.

Nos próximos dias, estaremos com vocês neste espaço contando o que acontece nesse mundo incrível a partir deste ponto de observação especial, o Camarote Favela, que está em seu quarto ano e conta com a parceria do DIA. Por reunir o que existe de melhor no Rio de Janeiro, o Favela é o camarote mais democrático da Marquês de Sapucaí. São artistas, lideranças comunitárias, celebridades e gente do povo, gestores públicos e amantes da cultura popular, tudo junto e misturado em um ambiente de respeito absoluto ao desfile, onde os shows só acontecem no intervalo entre as escolas.


Quando você vier para a Sapucaí, lembre-se: o que faz o Carnaval ser essa maravilha toda é a mistura. Porque, no fim das contas, o que importa mesmo é o samba. E o samba, meus amigos, é de todos nós!