Rio - Em outubro de 2013, uma imagem impressionante aguçou a curiosidade de muita gente. O “big rider” Pedro Scooby, com a ajuda do seu mentor Carlos Burle, surfou a maior onda de sua vida em Portugal, da Praia do Norte, em Nazaré, logo após Maya Gabeira sofrer um grave acidente tentando quebrar o recorde de ondas gigantes. Com Scooby, o resultado da aventura foi positivo, comemorado, reconhecido e, agora, será exibido com detalhes no reality show “Pedro vai pro Mar”, que estreia nesta terça-feira, às 22h, no canal a cabo Off.
Além da fatídica onda gigante, uma equipe de filmagem acompanhou, por 13 episódios, o surfista pelo mundo e mostra lugares paradisíacos e pouco explorados, a relação entre a equipe de Scooby, os perrengues e também as vitórias. A participação especial fica por conta de um pequeno de dois anos que rouba mais a atenção do surfista do que uma onda perfeita: Dom, fruto do casamento do atleta com Luana Piovani.
A família de Scooby, chave importante para seu bom desempenho no mar, segue os passos do surfista sempre que pode. Nessa primeira temporada, o casal aparece em Fernando de Noronha, onde aconteceu o batizado de Dom. Aliás, o pequeno já demonstra paixão pelo mar tão forte quanto pai e mãe. Em entrevista, Pedro conta como começou a escrever seu nome na história do esporte pelo mundo, como equilibra o vício em adrenalina com a família em casa, e rejeita, de uma vez por todas, o título de celebridade. Confira abaixo na íntegra:
Como surgiu a ideia de fazer o reality “Pedro vai pro Mar”?
Pedro Scooby: Eu já tinha um programa no Off chamado “Desejar Profundo” em que eu, Carlos Burle, a Maya Gabeira e o Felipe Cesarano corríamos o mundo atrás de ondas grandes. Só que tem um outro lado que não era mostrado. Eu também pego outro tipos de onda, como medianas e pequenas, e o programa vai mostrar isso. Normalmente, surfista de onda grande só é bom em onda grande, e quem é bom em manobra aérea, só em bom em manobra aérea. Geralmente tem essa divisão. Eu transito pelos dois lados. Agora, além das ondas gigantes, vamos desbravar lugares que ninguém sabe que tem onda, tipo o Marrocos. Esse outro lado é muito bonito também. Claro, a onda grande tem aquela adrenalina, todo mundo quer saber se o cara vai sair dela bem, mas o outro lado é lindo. Vamos atrás de ondas perfeitas em lugares paradisíacos.
O nome da série veio da música "O Sambista e o Surfista", que o Arlindo Cruz fez para você. Com o samba sua relação também é bem estreita, né?
Muito. Eu sou um cara que sou muito fã de samba e quando eu descobri que o Arlindo tinha feito uma música para mim foi demais. Foi isso que estreitou a minha relação com ele, somos muito amigos. Eu era fã número um dele, acho que ele nem sabia disso, e ele fez pra mim. Olha a loucura. Eu quase chorei no telefone quando o produtor do ‘Esquenta’ me ligou contando (risos).
E você canta também?
Já rolou esse episódio aí, mas eu acho que não tenho nenhum talento para cantar. Eu fui convidado pelo próprio Arlindo para gravar com ele essa música no estúdio (vai estar no novo CD dele), e depois ele me convidou para cantar no show de aniversário dele de 56 anos, no Vivo Rio. Aquilo estava lotado, eu fiquei morrendo de vergonha, mas fui lá. Pelo que as pessoas disseram, eu até que sou afinado. Mas acho que não tenho ritmo (risos). Não toco nada, e nem penso em tocar. Na verdade, toco todos os instrumentos mal. Gosto de batucar em qualquer lugar, mas não tenho talento nenhum.
Como surfista, você não participa de competições. Por quê?
Eu já competi mais moleque, já quiserem me colocar em circuitos mundiais de ondas grandes… Hoje tenho amigos que são tops do circuito mundial, mas isso não me faz feliz. Tudo que eu mostro no programa, a minha reverência ao surfe e ao esporte, eu só tenho porque não gosto de competição. Eu sou sincero. Eu podia competir, mas busquei o outro lado, que é mais difícil, e graças a Deus consegui me destacar, fazer um nome e viver como free surfer (aquele que viaja o mundo atrás de ondas boas) reconhecido hoje.
Por que é mais difícil? Para conseguir se destacar, por causa do perigo….?
Por tudo. No Brasil, a cultura do surfe em geral é bem menor do que lugares como a Califórnia e a Austrália, por exemplo. Eu fui crescendo aos poucos, pegando onda, buscando ondas, sabendo que esse universo ainda era pequeno aqui. Pô, se o surfe de competição é pequeno, imagina o free surfer. Lá fora, não. Eu meti o pé na porta mesmo e foi dando certo, graças a Deus.
Você está falando que aqui no Brasil o espaço para o esporte ainda é pequeno. Não pensa em morar fora, então?
Penso sim. Tenho um plano de morar na Califórnia no ano que vem por seis meses. E daí vai a família inteira. Ainda é um plano que não se concretizou. Sempre pinta um trabalho aqui, outro ali, mas a gente vai esquematizar.
Você é muito novo ainda, tem 25 anos. Quando decidiu ser surfista profissional e tentar viver disso?
Eu sempre tive esse sonho, desde novo. Eu dizia que ia ser sufista e tinha certeza que ia dar certo. Até que um dia meu pai chegou para conversar porque eu estava mal na escola. Ele disse que eu tinha que estudar e o surfe estava atrapalhando. Ele disse: ‘quanto tempo eu preciso para saber se você vai se dar bem nessa ou se vai ter que estudar sério?’. Eu pedi um ano. E nesse um ano eu me dediquei muito. Eu tinha uns 15 anos, mais ou menos, e me destaquei nas competições e ganhei muito dinheiro. Consegui levar a escola junto na boa. E foi logo depois dessa época que eu quis abandonar a competição e me tornar free surfer, com uns 17 anos. Eu falei com meu patrocinador e foi tudo se caminhando.
Você nunca teve medo do incerto?
Eu sempre tive o apoio da minha família, o que é muito importante. Eu já vi em outras famílias um moleque que tem um puta talento e, por medo dos pais, não desenvolve isso e acaba em alguma profissão que não gosta só porque tem que fazer faculdade e etc. Eu não estaria tão realizado hoje em dia se eu seguisse outro caminho. É muito maior que a questão financeira. É a satisfação pessoal do seu sonho, sabe? Tem que estudar? Lógico! Mas também tem que incentivar se o filho tem talento e quer alguma coisa, porque não dá para ter talento desperdiçado.
Ainda rola esse preconceito do surfe ser coisa de vagabundo mesmo com toda exposição positiva do esporte? Porque hoje temos você, a Maya, tem o Everaldo Pato com o programa “Nalu pelo Mundo” (Multishow)…
Hoje em dia mudou muito aqui no Brasil. Você ser sufista não é como antigamente. Não significa que você é um louco, vagabundo que vive na praia e só. Eu me preparo pra caramba, tenho treino o tempo inteiro. Você gera uma empresa. Eu tenho pessoas trabalhando pra mim. É muita coisa para cuidar, para prestar atenção. Claro que ainda rola um resquício desse pensamento de antigamente, mas hoje o surfe tem muito mais reconhecimento, sem dúvida.
E hoje, quando você viaja para encarar as ondas gigantescas, você não pensa duas vezes por Dom e Luana que estão em casa te esperando?
Cara, eu me dedico muito. Eu faço treino de apneia para melhorar minha respiração, faço tanta coisa e penso tão positivo que sei que não vai dar errado. Claro, eu posso morrer numa onda grande? Posso. Ainda mais porque sou viciado em adrenalina. Sei que pode acontecer. Mas acho que todo filho que o pai acaba passando por alguma situação série parecida, de morte ou qualquer outra coisa, vai pensar que a situação aconteceu com o pai fazendo aquilo que mais ama. É difícil, mas acho que parece mais compreensível. Se eu morrer pegando onda, meu filho vai pensar ‘meu pai era incrível, pegou uma onda gigante, teve uma puta carreira, foi reconhecido por isso...’. Surfar é o que eu escolhi fazer para o resto da vida, e minha família me apoia. Dá medo? Lógico, mas eles entendem. E outra, você pode morrer atravessando a rua, né? Eu acredito muito em Deus, e sei que quando for minha hora não vai ser pegando onda.
Você acha que é melhor surfista ou melhor pai?
Ah, cara… Melhor pai. Eu gostaria de ser ainda melhor, na verdade. Queria passar mais tempo com ele, mas eu viajo muito. Ser pai é a coisa que eu mais me dedico para fazer bem, eu acho. Quero ser um bom pai, e depois um bom surfista.
O que mudou em você com a paternidade?
Eu descobri que a Luana estava grávida com 22 anos, e foi a melhor escolha da vida. Eu sou muito feliz e não me arrependo de nada. O Dom me faz o cara mais feliz do mundo, todos os dias. Ele mudou tudo, na forma de pensar, de me relacionar com as pessoas… Tudo.
E o que mudou em você com o casamento?
A gente amadurece, né? No meu caso, eu amadureci muito. Eu era moleque quando casei, e as responsabilidades aparecem na hora. Ou você continua ou vira as costas. Hoje eu sou um homem de casa, eu resolvi matar isso no peito, abracei essa ideia e tudo melhorou. Esse amadurecimento foi incrível pra mim como homem, para minha carreira, para minha relação com patrocinadores, com tudo. Quando você se dedica, a responsabilidade não vira problema, vira solução. Se tornar um bom marido ou bom pai é consequência da sua escolha, do que você quer pra sua vida.
Mas eu já li que você não gosta de ser considerado uma celebridade por estar casado com a Luana, que já era uma atriz consagrada quando vocês começaram a namorar. Como lidou com a questão social que a vida dela te colocou?
Hoje isso não me incomoda mais. Eu sei que existe, mas eu finjo que não. Sempre tem um paparazo que enche o saco na rua, na praia… Tem. Mas não me incomodo mais. Eu não sou celebridade, eu sou atleta e não gosto desse mundo. Sou pai de família, atleta, não tenho nada a ver com isso. A diferença é que hoje eu não brigo mais com as pessoas. Eu acabei caindo de pára-quedas nesse mundo, mas dentro de casa não falamos sobre essas coisas. Eu não vivo isso, pouco ligo TV em casa... Eu sou um cara muito desligado desse universo. O que eu vivo hoje em dia é a minha família dentro de casa e minha carreira fora. Só isso.
Para finalizar, você acha que tem chance do programa ganhar uma segunda temporada?
Já estou me preparando para viajar para a Indonésia para isso. Eu vou, volto para a Copa do Mundo e depois sigo para a Austrália. Durante todo esse tempo, de olho para achar picos com ondas boas. E graças a Deus que a tecnologia ajuda nessas horas, para matar as saudades de quem fica aqui (Dom e Luana). Eu vou e volto para a família, vou e volto para a família… É assim. Não gosto de ficar parado, gosto de fazer acontecer.
Reportagem Nina Ramos