Por karilayn.areias

Rio - Ele é um moreno, alto, bonito e sensual. Tem 26 anos, namora muito bem, obrigada, é cria do Vidigal, comunidade do Rio de Janeiro, e atualmente tira a mulherada do sério na novela "Em Família", da Globo. Marcello Melo Jr. afirma que até com as senhoras idosas o seu fogoso e controverso Jairo anda fazendo sucesso. "Elas aparecem felizinhas para mim e dizem: 'O Jairo é minha vida' (risos)", contou o ator em bate-papo com o iG.

A trama do rapaz que se casa com a desequilibrada Juliana (Vanessa Gerbelli) acabou atraindo os holofotes por vários motivos. O primeiro já foi dito: a disposição sexual infindável de Jairo. Mas o personagem, segundo o próprio ator, também levantou a discussão sobre preconceito e violência.

Marcello Melo Jr. é destaque como Jairo na novela 'Em FamíliaReprodução

"Ele tem, sim, uma personalidade forte, tem menos paciência e explode em determinadas situações, mas isso não faz dele um mau caráter como estava se encaminhando no início da história. No decorrer da novela ele passou por desafios naturais e agora está se adaptando a um novo universo."

Numa rápida pincelada, "Viver a Vida", "A Vida da Gente", "Lado a Lado", "Última Parada 174", "Meu Nome Não É Johnny" e muitos outros sucessos estão no currículo do jovem ator. No papo, cercado de planos e realizações, Marcello comenta ainda a reta final da novela deManoel Carlos, a suposta crise nos bastidores, seu dia a dia no Vidigal e ainda planos de família para o futuro. Confira abaixo:

iG: A novela está quase entrando na reta final. Já dá pra fazer um balanço de tudo que o Jairo causou de mudanças para você?

Marcello Melo Jr: Me sinto muito realizado pelo personagem ter caído no gosto popular. As pessoas estão gostando mais da trama que ele se envolveu. Particularmente, é mais uma realização profissional em ver um trabalho bem desenvolvido, é gratificante. E por outro lado, estou feliz também porque as pessoas estão conseguindo ver o lado mais humano do Jairo. Estão tendo uma posição melhor sobre ele, reparando que ele não é tão agressivo quanto parece, ou tão vilão quanto parece. Ele tem, sim, uma personalidade forte, tem menos paciência e explode em determinadas situações, mas isso não faz dele um mau caráter como estava se encaminhando no início da história. No decorrer da novela ele passou por desafios naturais e agora está se adaptando a um novo universo.

O que você mais escuta nas ruas sobre o personagem?

Engraçado que no começo eu ouvia muitas coisas do tipo "para de bater na Juliana" e etc. E agora escuto "ele nem é tão mau encarado assim; eu me divirto com o personagem; gosto de como ele lida com as coisas". A partir do momento que ele foi trabalhar na casa de leilão, esse quadro virou. A questão trabalhista ajudou a humanizar o Jairo. O lance do roubo das joias, por exemplo, que todo mundo pensou que ele estava envolvido, ajudou as pessoas a começarem a pensar de forma diferente. Uma coisa pode não ser tudo que a gente acha que é.

Você quer dizer, então, que rolou um preconceito prévio com o Jairo e agora as pessoas estão entendendo sua personalidade melhor?

Sim. É automático ter uma reação quando se conhece alguém, a gente já faz a análise do outro. Só depois que você vai conhecer de verdade, avaliar, criar uma relação melhor. Foi interessante isso no decorrer da trama, ver que o personagem não era o que primeiramente se pensou que fosse. As pessoas correm atrás do seu lugar ao sol, fazem suas escolhas, trabalham honestamente para isso. Qualquer um merece uma chance ou uma segunda chance.

Essa é uma situação que, aliás, acontece muitas vezes na vida real, né? Você, por exemplo, mora no Vidigal, é negro, começou sua carreira no Nós do Morro. Quão importante é para você estar hoje na novela das 21h com um personagem que levanta essa discussão que você aponta?

É importante em todos os quesitos. Eu, graças a Deus, estou em um momento bom, com meu trabalho valorizado, com mais espaço. Nós estamos conquistando mais personagens, não sempre caricatos. Temos mostrado trabalhos de várias vertentes e com qualidade para isso. As pessoas estão com outro olhar para a comunidade. Espero que só aumente esse espírito de coletividade, porque espaço tem para todo mundo. É conquistar e manter com qualidade e profissionalismo.

Você passou a ser mais cantado pela mulherada por conta do fogo do Jairo?

(risos) Acho que é uma coisa que acaba se tornando um fetiche, né? Uma fantasia, aquele homem mais sexual, mais carnal. Desperta a fantasia de todo mundo. Acho que, automaticamente, você acaba se analisando e vendo como está em casa, se você e sua mulher estão mais para Jairo e Juliana ou Virgílio e Helena (risos). As pessoas começaram a falar da pegada do Jairo, essa coisa do perfil do macho alfa, bem disposto. É o moreno alto, bonito e sensual (risos). Ter um homem nessa posição acaba deixando a mulherada mais ouriçada. A rapazeada, meus amigos, brincam que estou tirando onda, pegando a patroa… A gente se diverte. Agora, engraçado mesmo são as senhoras de idade. A terceira idade fica louca, elas aparecem felizinhas para mim e dizem “o Jairo é minha vida” (risos).

E sua namorada (a modelo e jornalista Caroline Alves) não tem ciúmes?

Não, não, ela entende bem. Ela sabe que é reconhecimento do meu trabalho. Fica feliz.

Como você enxerga essa relação do Jairo com a Juliana? Você acha que ele realmente ama aquela mulher?

Acho que amor é muito delicado e particular. Cada um tem uma forma de amar. Creio que eles dois criaram uma admiração, uma identificação forte um pelo outro. Os dois têm personalidade forte, são de diferentes classes sociais, passaram por diversas situações e foram se adaptando, se conhecendo. Por tanta estranheza e tanta identificação, acho que eles já começaram a criar não amor, mas uma paixão admiradora. Senão era mais fácil cada um continuar sua vida separado do que se entender. E eles sempre fazem questão de se entender.

Ao mesmo tempo que ele é sensual, ele é agressivo. O que você acha que faz ele chegar nesse limite?

Ele tem a paciência curta, né? Falta conhecimento do diálogo, é muito do universo de onde ele vem. Para ele, às vezes é mais fácil acabar uma discussão com um tapa, não tem paciência ou classe para conversar. Quando alguma coisa ultrapassar esse limite de paciência dele, que já é pouco, ele explode logo.

Você tem alguma semelhança com o Jairo?

 Semelhança alguma! Aliás, quando gravo cenas mais agressivas com a Vanessa, procuro pegar o mais leve possível antes, porque já tem o calor da cena, e depois sempre dou um abraço nela, peço desculpas… Sou bem mais delicado, mas conheço muitos Jairos por aí. Tem aquele ditado que em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher, né? Tento fazer o mesmo. Temos que respeitar, mas tento dar uma ideia, dar uma amenizada na situação.

Você comentou do carinho com Vanessa. Como é dividir a tela e o set com ela?

Incrível. Ela é supergenerosa, estudiosa, dedicada. Está fazendo um trabalho ótimo e foi um dos maiores presentes que ganhei nesta novela. A gente aprende muito um com o outro, existe uma troca generosa. Só tenho a agradecer por tudo que ela me permitiu nessa história.

Algumas informações dão conta sobre uma crise nos bastidores da novela entre a direção, trama encurtada, capítulos atrasados. É verdade? Como está o trabalho nos bastidores para você?

Sinto mais uma questão trabalhista em função do roteiro. A data de encerramento a gente nunca sabe, ainda tem essa loucura por causa da Copa do Mundo… Isso está mexendo com a cabeça da galera e algumas coisas estão sendo adaptadas. É apenas disso que sinto reflexo. A gente se compromete e no set conseguimos sentir o sabor do trabalho, da galera dedicada independentemente de qualquer coisa. Ali, todo mundo está de verdade. Capítulo é outra coisa que faz parte do show. Vamos que vamos.

Você continua morando no Vidigal com sua família?

Continuo. Moro com minha namorada.

Vocês já pensam em casar, ter filhos?

Ainda não sou pai, sou tio babão da Ana Clara, então já acabo sendo meio pai com ela. Eu e minha namorada temos planos de casar, sempre conversamos sobre isso, mas morar junto e dividir as coisas já é um casamento também, né? O bonitinho mesmo, com festa, deixa para a hora certa.

Estar em uma novela das 21h mudou em alguma coisa seu dia a dia na comunidade?

É de onde venho e mantenho minha cabeça no lugar e o pé no chão. Demoramos para encontrar nosso espaço e eu caminho firme para não criar fantasias. Sempre busquei ter meu trabalho reconhecido, não ser reconhecido do meu trabalho. Aqui na comunidade tem outros exemplos, como o Thiago (Martins), a Roberta (Rodrigues)... A galera já está acostumada com a gente lá. Eles têm admiração e sabem que estamos representando a comunidade, rola uma cumplicidade. Teve a questão da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), a comunidade virou ponto turístico, agora outras pessoas passam por lá, mas todo mundo é pé no chão.

Não rola o assédio de fã, então?

Rola mais quando vem primo de fora, ou tio, ou quando eu viajo e tal. Mas é natural, sempre me comportei normalmente e continuo assim. Nós ainda ficamos no portão conversando até 4h, 5h da manhã, fazemos nosso churrasquinho, sempre tem festa na casa de um, agora vai começar festa junina na rua...

Você tem vontade de sair do Vidigal?

Olha, eu ainda não consegui comprar um lugar meu e construir o que é meu, como a Roberta (Rodrigues), graça a Deus, conseguiu fazer para os pais, irmãos dela. Tenho vontade não de sair do Vidigal, mas de ter um espaço grande, com quintal, quartos, espaço para as crianças brincarem, uma coisa arejada. Não sei se lá eu consigo isso, porque não tem tanto espaço mais. Mas lá é meu lugar, tenho uma admiração enorme.

A carreira como ator já mudou muito sua vida financeiramente?

Hoje estou mais estável, tenho meu carrinho para ir ao Projac gravar, tenho um dinheirinho para viajar, ajudar em casa, comprar as coisas que eu quero. Estou mais confortável, claro.

Você tem um maior sonho?

Não sou muito apegado a coisas materiais. Sou mais sentimental. Eu quero mesmo, de coração, um mundo melhor. Nada me faria mais feliz do que colocar um filho em um mundo preparado para ter uma relação de amor, de cuidado e carinho. A gente evoluiu tanto em tecnologia, mas o ser humano se atrasou. Está mais vazio, solitário. Meu desejo seria esse. Mais respeito pelo próximo. Eu, pelo menos, procuro fazer isso.

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