Aline Maia, coreógrafa que viralizou com o hit ’Tá OK’, diz que vídeo Reprodução / Instagram / Jhuan Martins

Rio - Que a música "Tá OK" já virou hit não é segredo. O sucesso de Dennis DJ, em parceria MC Kevin o Chris, que revisita as raízes do funk carioca já alcançou o topo das principais paradas do Brasil. A música chegou a entrar para a playlist "TOP 50 – Mundo" do Spotify. Nas últimas semanas, usuários das redes sociais que gostam deste tipo de música certamente se depararam com o vídeo da coreografia feita por Aline Maia. Ao DIA, a dançarina contou um pouco de sua história e como foi o processo de criação da dança.
"Quando eu escuto uma música, ela toca nos meus sentidos e no meu coração. Chega a arrepiar, sinto uma conexão forte e isso me deixa muito inspirada. Na coreografia de 'Tá OK', que é dividida em três etapas, a parte de movimentos de quadril, que é o rebolado das mulheres do funk, eu fiz em dez minutos. Estava muito inspirada porque essa canção traz uma sonoridade da minha infância e da minha adolescência. Todo o instrumental dela é a minha história com o funk e com o Rio de Janeiro", revelou a dançarina.
Aline, que foi convidada para montar uma coreografia para a música, contou que já ia produzir uma dança para a canção quando recebeu um e-mail da equipe do Dennis DJ. "No dia em que eu ouvi a música pela primeira vez, ela ficou em looping na minha casa e tocou umas 100 vezes. Trabalhando as minhas, eu ficava me questionando: 'caraca, queria ter dinheiro pra fazer esse vídeo, colocar mais pessoas, pagar um videomaker pra fazer uma filmagem boa'. No dia seguinte eu recebi um e-mail da equipe do Dennis me chamando para gerar esse conteúdo", revelou.
A coreógrafa disse que investiu todo o dinheiro da publicidade no vídeo, que foi gravado na Rocinha, trazendo a estética da favela. "Para mim, foi muito orgânico, porque eu já venho trazendo isso dentro do meu conteúdo. Resgato a essência do funk raiz", contou.
Além da estética, um dos motivos do vídeo ter viralizado foi a crítica às dancinhas de TikTok presente nele. Enquanto Aline faz coreografia que está no videoclipe oficial, criada pelo tiktoker Xurrasco, Pablinho Fantástico aparece e, então, os dois começam a fazer um passinho.
"A princípio eu ia fazer uma coreografia só com movimentos de quadril com mulheres, mas, dentro das exigências da ação, tínhamos que reproduzir a dancinha do Xurrasco. Como esse tipo de dança não é da nossa geração, surgiu a ideia de fazer uma crítica mostrando o que é a raiz do funk, que é o passinho. No final, o que a gente faz ali não é uma crítica negativa, é para mostrar às pessoas, para os jovens, como que era e como é a verdadeira dança do funk", revelou.
Aline, que conheceu Dennis e Kevin após o vídeo se tornar um viral, contou que o encontro foi emocionante para ela: "Eu admiro muito os dois por essa música. Foi uma honra conhecer eles, porque o Dennis é uma relíquia do funk e o Kevin é um dos melhores artistas da atualidade. Eu fiquei muito emocionada de ver essa parceria e o quanto eu colaborei para a música deles, foi bem natural, prazerosa".
O vídeo, feito pela coreógrafa ao lado dos dançarinos Pablinho Fantástico e Lorena Rosa, viralizou nas redes sociais. Só no Instagram, a publicação conta com mais de seis milhões de reproduções. Embora já tenha alguns vídeos viralizados, ela destaca que nenhum outro havia chegado neste nível.
"Foi despretensioso e eu acho que viralizou por causa do amor. E foi muito gratificante, porque o meu objetivo principal é trazer o respeito em relação à nossa cultura e história. O vídeo traz uma sensação de pertencimento e orgulho. Eu fiquei muito impactada de ver onde a dança pode chegar", comentou, emocionada.
Nascida e criada em Jacarepaguá, na Zona Oeste, Aline se mudou para Curitiba aos 16 anos com a família, mas nunca deixou as raízes cariocas de lado, já que visitava a avó e as tias nas férias escolares. "Eu nunca me desliguei do Rio. Todo este tempo em que fiquei longe sentia como se uma parte da minha vida estivesse cortada", lembrou.
Apaixonada pela dança, começou a fazer aulas aos oito anos de idade e, aos 13, passou a estudar o estilo urbano. "Desde então, não parei mais. Participei de grupos de dança, festivais e workshops", contou.
Aos 18 anos, a coreógrafa iniciou a faculdade de Rádio e Televisão e, para arcar com os custos e despesas, começou a dar aulas e logo a dança se tornou profissão. Com a graduação, Aline se apaixonou pelo audiovisual e passou a gravar vídeos de coreografias para as redes sociais.
Durante a pandemia de covid-19, a coreógrafa precisou se reinventar. "Abri uma plataforma de aulas de dança online e, hoje, tenho mais de cinco mil alunas. Foi aí que eu tive condições financeiras de voltar sozinha para o Rio", contou a artista, que completou: 
"Quando eu voltei, fiz um projeto de resgatar a minha memória afetiva com o funk relíquia, o funk raiz, o batidão. Já estava em uma fase de que a tendência do TikTok não me satisfazia profissionalmente. Foi então que comecei a resgatar várias músicas antigas e meus vídeos viralizaram".
Embora não dê aulas para bailarinos, Aline vê a profissão como uma paixão e sonha em levar a dança para mais pessoas. "Meu foco são aulas para pessoas que não dançam e querem se exercitar de uma maneira mais divertida. A dança mudou muito a minha vida, meu jeito de enxergar a vida. A música mexe muito com meus sentidos, me deixa mais feliz de um modo geral. O meu objetivo sempre foi compartilhar isso com outras pessoas para que elas sintam a mesma felicidade que eu sinto quando danço", pontuou.
"Hoje, o meu maior objetivo é levar a dança para mais lugares, principalmente o funk, para ser visto sem discriminação, porque além de fazer bem para o corpo e a mente, é uma maneira de fazer com pessoas que vivenciam essa cultura tenham mais oportunidades de viver dessa arte. Então, quanto mais esse gênero for aceito aos olhos da sociedade, mais pessoas vão ter a oportunidade de viver nesse caminho", refletiu.