Paulo Gustavo e Thales BretasReprodução / Instagram

Rio - Paulo Gustavo ganhou uma homenagem merecida em Niterói, cidade que morou durante anos com a família, marcou o início de sua carreira e foi cenário de seus filmes e peças de teatro. A exposição 'Rir, Um Ato de Resistência' celebra a vida, o humor e o legado do artista, foi idealizada pelo viúvo, Thales Bretas, e acontece de terça-feira a domingo, até o dia 1º de junho no mezanino do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC).
"Revisitar a memória dele foi muito difícil e, ao mesmo tempo, muito importante porque é preciso deixar o luto e transformar a saudade numa saudade mais saudável. É difícil saber o momento de fazer isso e a exposição está me levando para esse lugar de reconectar com a nossa história. Estou tendo que ver muitas cenas, fotos de acervo pessoal, do nosso casamento, convite do casamento...", conta Thales, emocionado.
Dividida em cinco galerias, a exposição conta com uma seleção de itens que marcaram a carreira do ator na TV e teatro, incluindo figurinos icônicos usados em espetáculos e produções audiovisuais, peças de arte de sua coleção pessoal, fotografias inéditas que retratam momentos da vida e carreira dele e um curta-metragem especial, exibido exclusivamente para os visitantes.
O viúvo do humorista admite que nos últimos dias está mais emotivo, justamente por ter que mexer nessas lembranças, que ele evitou ver logo após a morte do marido. "É uma dificuldade necessária porque preciso enfrentar isso em algum momento e acho que agora, quase quatro anos depois, estou um pouco mais pronto. Se parar para pensar, a gente nunca acha que está pronto o suficiente porque sempre vai ser doloroso", analisa.
Paulo Gustavo morreu aos 42 anos, no dia 4 de maio de 2021, de complicações da Covid-19. A perda precoce do artista comoveu fãs de todo o Brasil. "Daqui a alguns anos ainda vai ser difícil também, então minha esperança com isso tudo é transformar essa saudade e revisitar de uma forma mais saudável e tentar pensar nisso tudo que a gente viveu com uma gratidão, por ser felizardo de ter vivido um grande amor e construído uma família tão bonita e forte, mas é difícil pensar que esses planos foram abortados", complementa.
Quando Paulo faleceu, seus filhos Gael e Romeu tinham apenas 1 ano e meio e Thales conta que durante muito tempo tentou ser pragmático e não mexer com essa dor da perda. "Tinha meu consultório, tinha meus filhos, precisei tocar muitas coisas sozinho. Precisei ser prático, de seguir em frente e não quis me conectar tanto com a dor porque eu não podia me derrubar, dois filhos pequenos para criar", recorda o médico, sem conter o choro.
Para ter força, ele tentou não remoer essa dor logo depois da morte do marido e o luto acabou acontecendo aos poucos. "Eu me reconecto mais com isso agora, mas está vindo num momento um pouco mais saudável, com mais calma. Os meninos estão maiores, entendem um pouco mais. Tem também uma calma maior no Brasil porque vivi um luto assistido, as pessoas ficavam todas atentas para o meu luto, como eu estava me sentindo, como estava criando os meus filhos, como eu estava me relacionando com a família", relembra.
'Eles já entendem que tiveram um pai incrível'
Para preservar a memória de Paulo Gustavo, Thales diz que os filhos, atualmente com 5 anos, assistem a alguns trabalhos do pai. Ele também conversa com as crianças sobre o motivo de serem abordados na rua para pedido de fotos. "Tenho fotos pela casa, fotos do nosso casamento e tento passar de uma forma mais saudável possível, a medida que eles demandam. Toda vez que eles perguntaram, falo da forma mais natural possível que o Paulo era uma pessoa incrível, falo o quanto a gente planejou eles, desejou e amou, e o quão felizes fomos construindo essa família juntos". 
O dermatologista explica para os meninos que o pai adoeceu em um momento em que muitas pessoas do mundo todo ficaram doentes e não melhoraram e também deixaram suas famílias. "Falo como eles são privilegiados de ter um pai tão incrível, tão amado no Brasil e é por isso que algumas pessoas param a gente na rua e me reconhecem e reconhecem eles. Eles já entendem que tiveram um pai muito incrível".
Por enquanto, Gael e Romeu ainda não assistem a atuação do pai no "Vai Que Cola" e no filme "Minha Mãe é Uma Peça" por terem piadas que não são para a idade deles. "Mas quando eles veem algo, eles morrem de rir e se orgulham do pai", completa.
Roupas, obras de arte e acessórios de grife
O acervo da exposição reúne objetos pessoais, obras de artes, fotografias, peças de roupas e acessórios do artista para que os fãs conheçam de perto um pouco mais também sobre os gostos de Paulo Gustavo. "Sempre quis fazer uma homenagem para o Paulo, desde que tudo aconteceu eu sentia que o que ele viveu, o que ele foi e passou precisava ser mostrado para as pessoas de uma forma ainda mais carinhosa, mais próxima, não só os personagens e tudo o que ele era na televisão, mas a pessoa que ele era física também", pontua o médico.
A mostra conta também com uma parte 'instagramável' em que as pessoas podem se vestir de dona Hermínia, com direito à réplica do vestido e peruca, no mesmo cenário que foi feito o cartaz do filme "Minha Mãe é Uma Peça 3". "O maior pulo do gato da exposição é ver os objetos de uso pessoal do Paulo Gustavo, os sapatos muito brilhosos, os casacos, as roupas que ele gostava de usar", conta.
O humorista era vaidoso e gostava de peças de grife. "Ele era essa figura, gostava de coisas diferentes, ele era artista, uma estrela e precisava compor com tudo isso que ele era. Ele gostava de investir tanto em arte, como em moda e acho que tudo está nessa esfera gigante e luminosa que é a arte".
O viúvo admite que é apegado a tudo, aos momentos que eles representam e o que viveram. "Mas tem uma em especial que é um casaco todo de cristal que eu sou apaixonado, acho que vai ser bom mostrar essa paixão para o povo", destaca.
Thales ressalta que a ideia da exposição é mostrar a genialidade de Paulo Gustavo como um todo. "Ele era uma pessoa que gostava muito de brilho, de cristais e acho que um pouco dessa excentricidade da cabeça do Paulo, só que eu tinha muita dificuldade de tocar tudo isso" explica.
Após a morte do humorista, o dermatologista morou durante seis meses com os filhos Romeu e Gael na Austrália com sua irmã e uma amiga precisou ficar no apartamento que ele vivia com Paulo Gustavo no Leblon, Zona Sul: Juliana Cintra, marchand (comerciante), que vendeu muitas coleções de artes para Paulo e Thales, e é co-curadora da exposição.  
"A princípio, o closet que a gente tem estava intacto. Aí eu expliquei para ela que as roupas do Paulo ainda estavam lá e, caso ela precisasse de um espaço, poderia colocar num armário. Quando ela se mudou, ela disse que queria me ajudar, eu respondi que queria muito fazer uma exposição, mostrar para as pessoas as roupas que ele usava tanto em cena como fora", lembra o médico.
A curadoria é do francês Nicolas Martin Ferreira, que trabalha com frequência no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC). "Comentei que sempre pensei em fazer uma exposição e começar pelo MAC, porque é em Niterói, ele tinha um carinho muito especial por onde ele cresceu, ele mostrava muito nos filmes e próprio museu tem uma arquitetura muito bonita do Oscar Niemeyer, que a gente admirava muito. O Paulo gostava muito de arquitetura", recorda.
O nome da exposição é uma frase de Paulo Gustavo dita no fim de 2020, durante a pandemia. "Foi uma frase emblemática que a gente aprendeu muito e muito importante num momento que era tão difícil sorrir. Você conseguir passar por tudo isso, e ainda sorrir, passar a ver as coisas bonitas da vida... E é a mensagem que a gente quer passar da exposição que, apesar de tudo, é possível sorrir e faz parte você resistir disso tudo", conclui.
Serviço: 
Exposição: Paulo Gustavo - "RIR, UM ATO DE RESISTÊNCIA"
Terça a domingo, das 10h às 18h (entrada até 17h30)
Local: MAC - Museu de Arte Contemporânea de Niterói / Mezanino
Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/n - Boa Viagem, Niterói
Ingressos: R$16 (inteira) e R$ 8 (meia-entrada / pessoas com mais de 60 anos, estudantes de escolas particulares e universidades, ID Jovem)
Classificação: Livre