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Você começou muito jovem na música. Quando percebeu que o rap seria mais do que um hobby?
A gente sente a inquietação no coração e, no fundo, a gente sabe quando algo é para valer. Eu lembro que minha mãe trabalhava muito pra pagar minha faculdade, e eu não queria decepcionar. Sei da importância da educação, mas não era na sala de aula que eu acreditava que ia mudar nossas vidas — era na música. Eu peguei o dinheiro da mensalidade e fui gravar umas músicas. Depois disso, foi ralação. Eu tive que provar para todos que ia dar certo e, graças a Deus, tem dado!
Suas letras falam sobre superação, sonhos e conquistas. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira até agora?
Os desafios sempre surgem, mas mudam de acordo com o contexto da vida. Com certeza, o início foi o mais desafiador: não tinha recurso financeiro, ninguém conhecia meu trabalho, eu era só mais um sonhador. Comer macarrão instantâneo preparado na água quente do chuveiro, viajar e dormir num carro pequeno de passeio, cantar e não receber cachê — são episódios do início da carreira que me fazem valorizar cada conquista ao longo dessa jornada.
O sucesso trouxe muitas mudanças. O que ainda te mantém com os pés no chão?
Lembrar de onde venho! Os valores que aprendi em casa, com a minha mãe. Eu já tive momentos em que me deslumbrei com dinheiro, com a fama. Imagina sair do nada e ver o quanto sua vida mudou?! Mas o joelho no chão da minha mãe, suas palavras sempre sábias, me sustentam e mostram que o dinheiro é um detalhe, reflexo do meu trabalho, mas nunca será o mais importante diante da vida.
Você mistura rap com elementos do pop e do funk. Como você enxerga essa mistura de estilos no seu som?
Hoje tudo se converge, tudo se encaixa. O Brasil é um país rico culturalmente, e a gente consome musicalmente de tudo um pouco — e isso é o mais legal! Eu gosto de misturar, gosto de apresentar pro meu público essa variedade como algo que acrescenta. O objetivo é deixar minha mensagem no som. Já fiz muitas coisas diferentes, ousei — acho que o 'Projeto Atmosfera', que fiz com uma orquestra, mostra exatamente esse dinamismo de fazer música e não ter limitação, seja rap com pop, com orquestra, com muito grave.
Muitos jovens se inspiram em você. Que conselho você daria para quem está começando no rap agora?
Que acredite no seu sonho, no seu som, que faça seu melhor, que não tenha vergonha de colocar no rap sua verdade. Use as ferramentas que tiver ao seu alcance, comece com o que tem e faça acontecer. Não existe fórmula para o sucesso, mas existe sua luta, sua força de vontade.
Como é a sua rotina fora dos palcos? O que você gosta de fazer quando não está compondo ou se apresentando?
Gosto de estar com minha família, gosto de ficar na minha casa, com meus amigos, de desfrutar dos momentos que a estrada nem sempre permite. Uma comida com tempero caseiro, ver minha filha e meus sobrinhos correndo pela casa, fazer uma atividade física… Acho que tudo isso é autocuidado, é o que me enche de felicidade nas horas vagas: ver a vida na sua rotina, simplesmente acontecendo.
A fama também mexe com a vida pessoal. Como você lida com a exposição e a curiosidade do público sobre sua intimidade?
A fama é sinônimo de exposição para nós que temos uma vida pública. Não tem o que fazer, uma coisa leva à outra. Eu tento não deixar de viver por conta disso. Existe o cuidado de preservar as pessoas que estão à minha volta, mas isso não paralisa minhas vontades e a necessidade de viver como qualquer outra pessoa.
Já pensou em parcerias fora do universo do rap? Tem algum artista que você ainda sonha em gravar junto?
Com certeza! Eu gosto de música, independente do estilo. Já pensei em parcerias com artistas da MPB e já gravei com muita gente bacana. Imagina fazer algo com Jorge Aragão — meu rap com seu samba, escrever algo com esse mestre da composição, por exemplo? Seria uma honra. Mas também curto trocar com nomes novos, que trazem verdade no que fazem.
Quais são seus próximos passos? Vem álbum novo, turnê ou projeto especial por aí?
De onde vem a sua inspiração na hora de compor? Tem algum ritual ou momento ideal pra escrever?
A vida me inspira. Ter olhos e ouvidos atentos a tudo. A inspiração vem no cotidiano, na vida acontecendo. O artista é uma fonte de lembranças — sejam minhas vivências ou daqueles que estão à minha volta. Tudo se torna referência. É o coração guiando a caneta.
Você já conquistou muita coisa, mas ainda tem sede de quê na música?
Acho que o prêmio máximo que a música poderia me dar é o reconhecimento de que minhas letras podem despertar emoções novas e boas em quem escuta. Acho que venci quando percebi e entendi que essa seria minha maior missão e lição como artista. Eu só quero continuar ecoando esse tipo de verdade. O que eu puder conquistar depois disso vai ser um bônus!
Brasília, sua cidade natal, tem um papel forte na sua identidade artística. O que ela representa para você hoje?
Brasília é meu berço, é o lugar que gosto de estar e amo voltar. Eu tenho o privilégio de visitar e conhecer lugares todo final de semana. Nosso Brasil é lindo, as pessoas são generosas e donas de um coração receptivo. Amo esses encontros. Mas Brasília é onde reconheço minha rapaziada, onde minha música surgiu e a galera abraçou. A sensação de pertencimento que tenho com esse quadradinho e seu entorno é única pra mim.