José de Abreu em cena no espetáculo A BaleiaNil Canine/Divulgação
José de Abreu usa enchimentos para fazer homem de 300 quilos na peça 'A Baleia': 'Corpo esquenta'
Espetáculo está em cartaz no Teatro Adolpho Bloch, na Glória, até o dia 20 de julho
Rio - Após 10 anos, José de Abreu volta ao teatro com o espetáculo "A Baleia", do dramaturgo norte-americano Samuel D. Hunter, em cartaz no Teatro Adolpho Bloch, na Glória, até o dia 20 de julho. Ele interpreta Charlie, um professor de redação obeso, que leva uma vida solitária e tenta recuperar o tempo que ficou afastado da filha, diante de muitas limitações de locomoção impostas pelo sobrepeso. Além disso, o ator também pode ser visto na novela "Guerreiros do Sol", disponível no Globoplay.
"A peça é teatro na veia, é uma peça forte, mas tem também momentos de relaxamento. E o personagem é um ser humano maravilhoso, ele só vê as coisas boas que as pessoas têm", detalha o artista.
Aos 79 anos, Zé precisa ter fôlego e disposição em cena. Para interpretar um professor obeso, de 300 quilos, ele usa enchimentos - com barriga de látex, camadas de neoprene e bolsas de gelo, que pesam quatro quilos. A história também já foi contada no cinema pelo diretor Darren Aronofsky, em 2022, e conquistou três Oscars, incluindo o de melhor ator para Brandon Fraser. Foi durante o tempo em que viveu na França, que o artista manifestou o interesse em montá-la no Brasil.
"A roupa é muito quente, meu corpo esquenta muito porque, embora ele fique parado no sofá ou na cadeira de rodas, ele é agitado interiormente, e isso também cansa o ator, ele tem a respiração sempre ofegante... Uso um colete com oito bolsas de gelo, são quatro do lado da frente, quatro do lado de trás. Isso foi o estudo que a gente fez. O gelo termina a peça congelado ainda, porque o neoprene mantém a temperatura. Embora eu sue muito, normal, porque é uma pessoa que sofre de obesidade, também sua muito", explica.
Para dar vida ao personagem com sobrepeso em excesso, Abreu estudou muito o tema e assistiu programas que abordam o assunto, como "Quilos Mortais". "Faz nove meses que estou assistindo tudo o que tem sobre o tema. Vi no Youtube muitas montagens da peça pelo mundo também e temos uma médica que trabalha com a gente e fez a orientação. A gente foi rigoroso de respeitar as pessoas que têm esse tipo de obesidade".
A peça fala sobre solidão, intolerância religiosa, preconceito contra a homossexualidade e mostra a tentativa do personagem de se reaproximar da filha. "A obesidade foi um recurso que o autor usou porque o namorado dele, o grande amor da vida do Charlie, morre de inanição, ele para de comer. Ele vai na igreja com o pai dele, quando ele volta para casa, ele para de tomar banho, de dormir, de comer e morre de inanição. E o outro come pelos dois", conta ele, que contracena com Luisa Thiré, Gabriela Freire e Eduardo Speroni no espetáculo, dirigido por Luís Artur Nunes.
A obesidade entra para fazer sentido essas inversões de papéis e outro mote da peça que chama a atenção é o afastamento que o professor teve da filha depois que se revelou homossexual. "O preconceito chega na Justiça, ele perde o direito de ver a filha e tenta resgatar esse contato com a adolescente que não vê há anos", relata.
Relação com a Globo
Há três anos, José de Abreu não tem mais contrato fixo com a Globo. "Mas eu continuo fazendo uma novela por ano", comemora ele, que, após sua saída, ouviu dizer que ele tinha um dos maiores salários da emissora. "É a minha casa há 45 anos. Eu acho que frequentei mais a Globo do que a minha casa, né? Então essa mudança assim de contrato não mudou muito".
O ator acabou de interpretar o personagem Rodolfo Barros, na novela das 19h, "Volta por Cima" e já pode ser visto ainda na novela do Globoplay "Guerreiros do Sol", de George Moura e Sergio Goldenberg. Ele interpreta um dos antagonistas, coronel Elói, que começa a trama casado com Rosa, papel de Isadora Cruz, protagonista da trama.
"O amor dele pela Rosa, no começo da novela, é um amor improvável, mas que acaba dando certo... Ele começa a ver que a Rosa é uma pessoa diferente, uma pessoa especial, ele começa a ouvi-la e eles acabam tendo uma vida amorosa e intensa", conta.
Tudo começa quando Josué Alencar (Thomás Aquino) enfrenta o poderoso Coronel Elói Bandeira (José de Abreu) na disputa pelo amor de Rosa. Sentindo-se humilhado por ter sido desafiado por um homem mais pobre, Elói decide se vingar da família Alencar e provoca uma tragédia que muda o destino de todos.
Vida pessoal e relacionamento
Há seis anos, José de Abreu tem um relacionamento com a maquiadora Carol Junger. Por conta da diferença de idade entre eles, de mais de 50 anos, muita gente achou que não daria certo. "É o improvável que deu certo. Tem que acreditar nessas coisas, assim como o Elói acreditou que a Rosa podia ser a esposa dele. Na nossa relação, a gente não fica se perguntando quantos anos tem, isso que existe, a gente nem sente isso. A gente viaja junto o tempo inteiro, nada me faz não acompanhá-la. Obviamente, eu não gosto de bloco, ela gosta, ela vai com as amigas dela", explica.
Por enquanto, os dois moram juntos e não pretendem oficializar a união. "A gente conversou que ia fazer a cerimônia em Bali, alguma coisa assim, mas só para nós mesmo, acabou passando e não faz falta".