Julia Mendes Nanda Araújo / Divulgação

Rio - Após brilhar em "Mar do Sertão" (2022), da TV Globo, Julia Mendes retorna às telinhas como Adália na série "Paulo, o Apóstolo", que estreia nesta segunda-feira (7), a partir das 21h, na Record. Na produção bíblica, a personagem viverá um dilema entre a fé e a família. Em entrevista ao Meia Hora, a artista, que também faz sucesso nas redes sociais como "Juju Conta Tudo", fala de fé, bastidores, novos públicos e o desejo de fazer uma vilã. Confira: 

- Como foi receber o convite para fazer uma novela com esse peso histórico?
Foi um presente. A história de Paulo e o universo bíblico têm uma força simbólica muito grande. Quando recebi o convite, senti um frio na barriga. Não só pela responsabilidade histórica, mas pelo desafio emocional da personagem. A Adália me chegou com intensidade desde a primeira leitura.

- Teve que estudar Bíblia, história ou pegou tudo no feeling e no roteiro?
Eu mergulhei em tudo. Não dava para fazer pela metade. Li muito sobre o contexto histórico, assisti a documentários, e claro, reli passagens da Bíblia. Mas o que mais me ajudou foi entender as relações humanas daquele tempo, que no fundo não são tão diferentes das de hoje. A partir daí, o feeling entrou para costurar tudo com verdade.

- Qual foi a cena mais intensa que você já gravou até agora?
Sem dúvida, a cena da prisão, quando Adália e Timão são levados por ordem de Saulo. É uma sequência cheia de socos, empurrões, quedas no chão, tudo isso coreografado nos mínimos detalhes para funcionar tecnicamente. E mesmo com essa precisão, a emoção precisava estar ali, viva, real. Foi exaustiva e profundamente intensa, tanto pela carga dramática quanto pelo desafio físico e técnico.

- O enredo tem um certo fundamento espiritual e de fé. Já rolou alguma experiência mística ou arrepio no set?
Às vezes, no silêncio que antecede uma cena, principalmente as que falam de amor, de fé, de coragem… eu me emociono. Independente da religião, é muito bonito quando um grupo de pessoas se junta com o propósito de contar uma história que fala dessas forças humanas. Nesses momentos, o set inteiro parece respirar junto.

- Em que você se parece ou não tem nada a ver com Adália?
Eu me pareço na entrega. Quando ela ama, ela ama com tudo. E eu sou assim também: intensa, visceral. Mas acho que ela tem uma fé mais estável, enquanto a minha é mais feita de perguntas do que de certezas.

- Você já tinha um público consolidado nas redes. Sentiu que chegou uma galera fora dessa bolha depois da estreia?
Totalmente. Senti uma conexão com pessoas que talvez nunca tivessem me visto atuando. Gente que veio me escrever depois de ver a novela, emocionada com a história. Isso me toca muito.

- A Julia da vida real acredita em milagre?
Acredito. Mas não só nos milagres grandiosos. Acredito no milagre de uma conversa que muda o rumo de um dia. No abraço que salva. Na intuição que protege. Milagre, para mim, é quando a vida sussurra e a gente escuta.

- Se a 'JujuMeContaTudo' pudesse dar um conselho para a Adália, qual seria?
'Confia na sua intuição'. A gente escuta tanto o entorno, que às vezes esquece de se guiar por essa tecnologia ancestral que vive dentro da gente. A intuição é um poder gigante, e eu diria para ela confiar mais nesse farol interno.

- Gravar uma obra de época costuma ter seus desafios. O que te impactou nesse processo?
O que mais me impactou foi essa viagem real no tempo. O cuidado com o figurino, o cenário, os detalhes… tudo isso ajuda profundamente a dar vida à personagem. Quando eu pisava no set caracterizada, sentia que já estava lá, em outra época. É um mergulho que me fascina.

- Entre a série sobre a 'Boate Kiss', a novela Mar do Sertão' e, agora, 'Paulo', você já transitou por papéis bem diferentes. O que falta na sua carreira?
Acho que falta uma vilã bem marcante, daquelas que o público ama odiar. Quero muito explorar esse lugar. E quem sabe uma personagem cômica também, que brinque mais com o deboche e o nonsense. Eu amo transitar.

- Em tempos tão polarizados, como está sendo lidar com uma obra que mexe com crenças religiosas?
Com muito respeito. Não estou ali para convencer ninguém, mas para contar uma história com verdade. A fé, como qualquer outro tema humano, pode ser campo de reflexão e afeto, não de disputa.
- Sobre os bastidores, como está sendo sua relação com o elenco?
Uma delícia. Tem muita troca, muito cuidado, muita escuta e, principalmente, a gente se diverte. A gente se apoia, se admira. E isso, quando acontece, transborda pra tela.