Camila MárdilaDivulgação/Julia Mataruna

Rio - Camila Márdila integra o elenco de "Ângela Diniz: Assassinada e Condenada", série da HBO Max dirigida por Andrucha Waddington. Baseada no podcast "Praia dos Ossos", da Rádio Novelo, a produção de seis episódios revisita a trajetória da socialite mineira que foi assassinada, em 1976, com quatro tiros pelo último companheiro, o empresário Doca Street, em Búzios. A atriz interpreta Lulu, amiga que ajuda a iluminar o universo da protagonista, vivida por Marjorie Estiano.
"Quando eu recebi o convite fiquei bastante entusiasmada, porque eu acho que tive poucas oportunidades de viver personagens que se entregam à diversão, à curtição e que vibram essa energia. Então, foi um novo desafio para mim, compor esse corpo que é mais expandido", diz.
Para construir a personagem, a atriz partiu de histórias das amigas reais da socialite, muitas delas ouvidas no projeto da Rádio Novelo. "Eu me nutri bastante da forma como as pessoas se sentiam em torno da Ângela e também a partir de uma construção que está ligada ali no roteiro da relação de extrema confiança. A Lulu se torna uma espécie de família da Ângela no Rio de Janeiro", menciona.
Camila ressalta que o podcast serviu como guia para entender o universo da protagonista e todos que a cercavam. "Alguns pedaços a gente de fato têm enquanto arquivos, mas são poucos registros da Ângela, por exemplo. Então, é muito interessante ter essa obra que exalta a vida dela, por mais que a gente saiba desse final trágico. Acho muito bonito que tenha uma série para criar memória visual dessa figura para além do feminicídio sofrido."
A presença constante permitiu que Lulu exercesse o papel de confidente, atravessando tantos os momentos alegres quanto os períodos mais sombrios, incluindo a batalha de Ângela pela guarda da filha após a separação do marido em Minas Gerais e o julgamento social a que ela era submetida.
"Nós trabalhamos bastante esse elo num campo de confiança. Ela tinha que ser a pessoa que perpassa tanto o ambiente social quanto a intimidade da personagem. Acho que isso ficou bastante forte na série, inclusive na maneira de retratar essa amizade, que transcende esferas ali da convivência das duas".
A amizade entre Lulu e Ângela é um dos vínculos afetivos mais fortes da série, e Márdila destaca que a sintonia com Marjorie ficou perceptível desde o processo de preparação. "É muito bonito poder levar um pouco dessa admiração que eu já tinha por ela como atriz, que sempre foi uma referência, e emprestar esse olhar de alguém que realmente vê na outra uma inspiração para essa relação", afirma.
Para Camila, revisitar a história de Ângela Diniz é uma forma de refletir sobre a persistência da violência de gênero na sociedade brasileira. "Vem provocar um sentimento de indignação em apresentar uma história que aconteceu nos anos 70 e que reflete diretamente a nossa atualidade. A gente sabe que é da estrutura do nosso pensamento social e cultural esse lugar do corpo feminino como algo que está à mercê de julgamento, vigilância e de controle pelo olhar masculino dominante".
A produção também evidencia o absurdo das justificativas sociais para validar crimes contra mulheres, como a "legítima defesa da honra" usada na defesa de Doca Street no julgamento de 1979 e rejeitada no segundo júri realizado em 1981. A tese foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2023.
"Tinham pessoas que estavam do lado do assassino, corroborando para a narrativa de que essa mulher teria convocado a própria morte por conta do seu comportamento. Esse modo de viver ser colocado em jogo como se justificasse o assassinato é absurdo, porém uma realidade. Então, como que a gente enquanto espectadores lida com essa contradição? Isso direciona alguns debates que realmente precisam ser sempre resgatados com um caráter de urgência", acredita.
Cinema Nacional
O envolvimento na série marcou o primeiro projeto de Camila sob a direção de Andrucha Waddington, com quem vai repetir a parceira no filme "Os Corretores". "Parecia que a gente já tinha feito vários projetos juntos, porque atingimos um lugar de confiança que acho muito precioso num processo criativo. Você realmente sentir que o outro te considera e ter liberdade para falar o que você pensa, então, acredito que a gente logo se sentiu ali parceiros na busca da melhor maneira de contar essa história", conta.
A artista compartilha detalhes do longa-metragem que é protagonizado e roteirizado por Fernanda Torres e conta com Bruno Mazzeo, Irene Ravache, Fulvio Stefanini, Milhem Cortaz e Jaffar Bambirra no elenco. "Interpreto a Mila e é uma tragicomédia imobiliária no Rio de Janeiro. Eu posso dizer que estamos nos divertindo horrores filmando essas cenas e tenho certeza de que a galera vai rir desesperadamente", adianta.
Este momento da carreira da atriz também representa a expansão para a direção e roteiro, com a estreia do curta "Sandra". A atriz vê essa transição como um passo de conexão da própria experiência em frente às câmeras com uma nova perspectiva fora delas. "Sempre tive um olhar 360 num set, gosto de saber o que está acontecendo na totalidade, sabe? E mesmo antes, na construção, no processo, eu gosto de me sentir envolvida, saber quais dificuldades a equipe está enfrentando na realização de cada cena. Acho que eu sempre tive essa sede de aprender e de estar ciente dessa estrutura toda. 'Sandra' veio confirmar esse prazer imenso, porque me realizei fazendo esse filme, e sinto vontade de fazer muitos mais ainda", deseja.