Gabriela Duarte em cena do espetáculo ’O papel de parede amarelo e EU’Priscila Prade / Divulgação

Rio - Conhecida por grandes trabalhos em novelas, Gabriela Duarte estrela o primeiro monólogo no teatro, "O Papel de Parede Amarelo", inspirado no conto da romancista norte-americana Charlotte Perkins Gilman (1860-1935).  No espetáculo, que está em cartaz até este domingo (21), no Teatro I Love Prio, na Zona Sul, a atriz interpreta uma mulher diagnosticada com depressão e histeria. A personagem é forçada pelo marido a se isolar em casa e desenvolve uma obsessão com o papel de parede do quarto dela. 
As 51 anos, a artista conta o que a motivou a encarar esse desafio, neste momento da carreira, e o que mais a sensibilizou nessa história. "Nasceu de um desejo de autoria. Enquanto escrevia minha autobiografia, percebi que queria 'andar com as próprias pernas' e experimentar algo que me desafiasse radicalmente. A história de 'O Papel de Parede Amarelo e Eu' me atravessa porque fala de controle sobre o corpo feminino, saúde mental, isolamento e identidade — temas que ainda são dolorosamente atuais", afirma Gabriela. 
Ela ainda diz como esse trabalho dialoga com sua trajetória como mulher e artista. "Vivi e observei muitas formas de silenciamento. No palco, tomo para mim o direito de parecer 'louca' se necessário, para romper padrões e afirmar um caminho autoral — inclusive aceitando o estranhamento que isso provoca. Esse trabalho conversa com a minha trajetória de filha, mãe e atriz que aprendeu a se posicionar".
A atriz deseja que o público deixe o teatro reflexivo depois de assistir à produção, dirigida por Alessandra Maestrini e Denise Stoklos. "Quero que saia pensando sobre autonomia e identidade — a própria, não a que os outros impõem. Se uma pessoa for tocada a questionar os papéis que lhe deram e a cuidar da própria saúde mental, já terá valido", frisa.
Volta aos folhetins
Afastada das novelas desde "Orgulho e Paixão" (2018), Gabriela recorda que já foi desconvidada de uma novela da TV Globo, e como o episódio mudou a forma dela enxergar a televisão. "Me fez olhar a televisão com menos idealização e mais autonomia. Doeu, claro, mas me reposicionou para dizer mais 'não' e buscar experiências que fizessem sentido", afirma a artista, que revela o que seria determinante para ela retornar aos folhetins. "Pesam o papel e a liberdade criativa — e também quem está conduzindo o projeto. Hoje priorizo coerência com o meu caminho e espaço real de criação".
Com trabalhos em novelas como "Top Model" (1989), "Irmãos Coragem" (1995) e "Por Amor" (1997), a  atriz confessa que se cansou das personagens boazinhas e busca papéis diferentes. "Cansei do rótulo de 'mocinha'. Quero personagens cheios de fricção — ambíguos, contraditórios, que me coloquem em risco artístico. Gênero? Tenho vontade de aprofundar a comédia adulta e o drama psicológico".
Comparações com a mãe
Filha de Regina Duarte, Gabriela contou recentemente que ainda sente a necessidade de provar que tem "o próprio CPF" devido as comparações com a mãe. "Na prática, lido com as comparações com minha mãe reconhecendo nossa história — ela é minha raiz —, mas afirmando minhas escolhas e meu tempo. Aprendi a rir de mim mesma e a sustentar meu caminho, sem negar a filiação", explica.
Vida pessoal
Mamãe de Manuela e Frederico, frutos do antigo casamento com o fotógrafo Jairo Goldflus, a artista revela os aprendizados com os filhos, que estão na adolescência. "Aprendi a estar mais perto sem ser invasiva e a atualizar códigos geracionais. A autonomia deles me ensina a flexibilizar — e a presença diária virou um privilégio", lista ela, que atualmente namora o empresário Fernando Frewka.
"Depois de um casamento longo, permitir um novo amor foi sobre recomeço e leveza. O que mais me encanta é viver outras coisas com honestidade e prioridades claras — família, trabalho autoral e paz", declara.