Ailton Krenak
Ailton KrenakAlinne Tuffengdjian/TV Globo
Por Juliana Pimenta
Rio - Respeito e consciência. É assim que os indígenas querem que o dia 19 de abril seja visto. E em homenagem à pluralidade e à diversidade cultural dos mais de 300 povos indígenas brasileiros, a Globo exibe nesta segunda-feira, após o 'BBB 21', o especial 'Falas da Terra'. A produção traz depoimentos de 21 indígenas que contam suas histórias de resistência e de luta e dão dimensão da pluralidade e da diversidade cultural do povo que deu origem ao Brasil.


Além de ser um dos convidados a contar sua história, Ailton Krenak, líder do Movimento Socioambiental de Defesa dos Direitos Indígenas, escritor e organizador da Aliança dos Povos da Floresta, é também consultor de 'Falas da Terra'. Ele participou da escolha dos personagens e da criação do projeto. Reconhecido como uma das figuras mais expoentes no movimento indígena, Krenak destaca a importância de se falar e aprender sobre a cultura dos povos originários.

"Nós temos a lei 11.645 que orienta ações educativas de História e Cultura Indígena em nossas escolas, uma abertura recente que deve ser ocupada por novas abordagens da nossa presença na vida brasileira. O dia 19 de abril foi estabelecido como uma convocatória na década de 1940, no Congresso Indigenista, para denunciar o Genocídio Ameríndio. Não celebrando nada, apenas invocando o dever dos Estados nacionais em convocar a mobilização e respeito aos Direitos dos Povos Indígenas", destaca o escritor.

Confira outros depoimentos:

Djuena Tikuna, cantora do Estado do Amazonas, foi a primeira indígena a protagonizar um espetáculo musical no Teatro Amazonas. Sua luta é pela preservação da cultura e da língua indígena através da música. Jornalista de formação, é ainda a primeira indígena formada em seu Estado. "Meu povo, Tikuna, é muito musical. Quando me mudei para Manaus, fui transformando a minha música na minha ferramenta de luta e de resistência. Sempre vi os olhares do preconceito, mas nunca desisti da música. É uma mensagem de que meu povo resiste, meu povo já sofreu, já viveu massacres".

Emerson Uýra é bióloga, artista e tem reconhecida atuação na luta pela preservação ambiental através da arte e pelo respeito à diversidade. Uýra se apresenta como uma "árvore que anda", em referência ao seu conhecimento científico da biologia e das propriedades medicinais das plantas. "Busco contar os nexos entre violências social e ambiental, mas também entre diversidade humana e diversidade biológica. Também gosto de recontar em meu próprio corpo, a história, a estética dos bichos, as plantas e os processos da natureza. São para lembrar e fazer encantar os mundos – do quanto podemos também aprender com os outros seres vivos, que já habitam este mundo muito antes de nós".

Daniel Munduruku é escritor e vencedor do prêmio Jabuti e do Prêmio de Literatura pela Unesco. Mestre e Doutor em Educação, Daniel luta pela divulgação da cultura indígena e acredita que ela deva acontecer principalmente por meio da Educação. Daniel defende que o Dia do Índio seja um dia de consciência indígena e não uma data de celebração. "A palavra 'índio' é uma ficção que foi introjetada na mente dos brasileiros pelo sistema oficial de ensino. É uma palavra que não diz quem somos, mas o que as pessoas acham que somos. Costumam nos chamar de preguiçosos, selvagens, atrasados, inúteis. Todos estes adjetivos estão dentro da palavra 'índio'". 
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Jequaka Mirim ficou conhecido internacionalmente como Kunumi MC quando participou da cerimônia de abertura da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. Sua principal luta é pela divulgação da cultura indígena e sua maior demonstração de resistência é pelo rap. "A música para mim é como um irmão que está sempre ali disposto, só basta a gente receber com muito amor essa força que ela traz. Não tem como esconder a realidade do sofrimento do indígena, e a música também ajuda a mostrar isso".