Marieta SeveroGlobo/Fabio Rocha

Rio – Depois de interpretar vilãs ricas em “Verdades Secretas” (2015) e “O Outro Lado do Paraíso” (2017), Marieta Severo, de 75 anos, retorna às telinhas com um papel popular. No ar como a Noca, de “Um Lugar ao Sol”, a atriz fala sobre a simplicidade da personagem, que é avó da protagonista Lara (Andréia Horta) na novela escrita por Lícia Manzo, a primeira totalmente inédita da Rede Globo na faixa das 21h desde o início da pandemia.
Na trama, após o falecimento de sua filha Clarice, Vó Noca passa a cuidar de sua neta e ajudá-la com os dilemas da vida até na fase adulta. “São só as duas no mundo, elas criaram uma liga. Ela soube conduzir a neta em relação a grande dor da perda dos pais, enxergar uma saída, fazer lista das coisas bonitas e boas da vida. Ela encaminhou a neta para lidar com essa dor de maneira positiva”, diz.
Mas a história de Noca não para por aí e um grande segredo começou a ser revelado na última semana: o roubo do seu filho Jerônimo de seus braços quando ele tinha pouco tempo de vida, trazendo muitas perguntas ao folhetim. “Tem um passado que vai sendo revelado. Que sombra é essa com que ela lida com muita sabedoria, luz e positividade? Isso vai sendo revelado ao longo da história”, revela.
“A Vó Noca é uma sobrevivente do machismo, de uma falta de oportunidades, ela tem uma sombra na vida dela, mas é extremamente solar carregando essa sombra. Ela tem a coisa mais linda: a sabedoria da vida, aprendeu com a vida. É uma mulher com pouca instrução, mas é extremamente sábia. O conhecimento formal é bonito, mas a sabedoria da vida é absoluta”, pensa Marieta.
Ensinamentos
“Um lugar ao Sol” traz diferentes tramas paralelas e reflexões. Por meio de Vó Noca, a novela traz o debate sobre a velhice e estereótipos em relação aos idosos. “É interessante porque a Vó Noca, uma mulher mais velha, muitas vezes, bagunça o coreto da neta. Eu diria que a neta é mais careta que a avó, ela está sempre ampliando os horizontes e as perspectivas da neta. Tem uma forma de se comportar fora do tradicional”, reflete.
“É um lugar esse especial o da avó, um lugar de afeto absoluto e puro, de vivência e de sabedoria que a vida dá para gente. Colocar isso em destaque é muito importante porque a tendência da sociedade é deixar os velhos de fora. E realmente a vida ensina que a gente tem algumas coisas a dizer. Acho muito sábio abrir essa discussão e valorizar a velhice”, completa.
Para Marieta, a personagem ainda ensina sobre resiliência quando diz a frase “sempre dá pra ir adiante, mesmo quando parece que não sobrou nada”. “Isso se aplica não só à vida, mas a situação em que a gente está vivendo no país. É um personagem que compreende o outro pelo coração e tem empatia, uma necessidade que a própria pandemia impôs também... Me vem uma frase do Ferreira Goulart na cabeça: ‘uma parte de mim é todo mundo’. Ela é assim, ela enxerga a causa do outro e toma para si aquela luta. Isso é muito bonito. A melodia da vó Noca seria ‘levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima’”, conta.
Gravação na pandemia
Completamente filmada antes de estrear em novembro, “Um Lugar ao Sol” teve grande parte das cenas gravadas durante a pandemia da Covid-19, o que requereu protocolos sanitários rígidos. Para Marieta, trabalhar nesse período foi importante para cuidar da saúde mental.
“Ter a salvadora vó Noca para estudar, entrar no universo dela e encontrar os colegas foi redentor. Não sei o que seria se não tivesse a ficção para passar esse período difícil… É claro que sempre tinha a tensão do vírus circulando, mas com todas as precações e cuidados, a gente pode lidar”, conta a atriz, que ainda narra as diferenças de se gravar uma trama durante a pandemia.
“Se tornou algo meio misterioso. A gente se alimenta do outro, do colega, do ensaio, pelo olho, pela boca, pelo jeito, mas isso não era possível. Você via aquele olho e só na hora do ‘gravando/ação’ que você enxergava (o rosto todo do parceiro) e pensava: ‘tem outras coisas aqui’… Foram estímulos e maneiras novas, além de uma qualidade extrema da novela porque a gente pode fazer menos cenas por dia. A gente não tinha o ritmo normal de gravar 30 cenas por dia. Essa chance foi especial e o resultado dela também está no ar. As imagens estão sofisticadas, estão lindas… Tivemos essas vantagens também”, reflete.