Denise FragaGlobo/Divulgação

Rio – Após mais de 20 anos sem papel fixo em novelas, a atriz Denise Fraga, de 57 anos, está de volta aos folhetins. A artista interpreta Júlia em “Um Lugar ao Sol”, trama de Lícia Manzo no horário das 21h da Rede Globo. Em entrevista, ela comenta a felicidade de retornar às telinhas e a trajetória da personagem, uma cantora fracassada que tem problemas com o alcoolismo.
“Não faço novela há muito tempo. Lícia e eu já tinha um ‘namoro’ de outra época, mas que não deu certo. Outros convites não davam certo também porque estava sempre em turnê no teatro. Fiquei feliz com essa trama. É um privilégio grande estar com o elenco, com o Maurício Farias (diretor), com a Lícia. Há uma particularidade no texto dela porque os personagens falam de si com muito coerente e clareza. Isso dá voz a muita gente como a minha personagem, que tem o dilema do adicto”, diz.
Na história, Júlia sempre foi uma ausência física, emocional e financeira na vida do filho, Felipe (Gabriel Leone). Tanto que o jovem tem a avó, a psicanalista Ana Virgínia (Regina Braga), como principal referência materna. Com narrativa sensível, algumas cenas de embriaguez e até de incêndio provocado pela bebida em excesso comoveram a web e renderam elogios a Denise.
“A adição tirou coisas preciosas dela como a proximidade com o filho, o personagem do Gabriel… (A história traz) essa solidão, a dificuldade que é, o dilema eterno, não é fácil superar e você vê isso nas reuniões dos Alcoólicos Anônimos… Uma coisa incrível da novela é fazer as pessoas conhecerem o trabalho desses grupos”, afirma.
Na esfera pessoal, Denise conta que tem uma relação saudável com o álcool, mas revela que bebeu mais durante o isolamento provocado pela pandemia. “Todos nós bebemos mais vinhos obviamente (risos). Ainda mais no início quando a gente achava que merecia um prêmio por estar em casa. Mas a minha relação com o álcool sempre foi serena. Gosto de beber, mas bebo socialmente”, garante ela, que reflete sobre a adição na sociedade atualmente.
“Eu fico pensando que todo mundo deveria ir a essas reuniões porque estamos cheios de vícios. A adição hoje é uma coisa que permeia a nossa vida. A gente está sendo estimulado em alta voltagem, não tem como falar de vicio só de droga, de álcool, de bebida. Estamos todos mergulhados em vidas que gostaríamos que fossem diferentes”, pensa.
Várias camadas
Apesar de Júlia ser alcoólica, termo correto para pessoas com vício em bebida, que Denise faz questão de frisar, a atriz reforça que a personagem vai além dessa temática e possui outras nuances, principalmente em relação ao contato dela com a música. Em uma cena, Denise chegou a performar a canção “Compasso”, de Angela Ro Ro.
“A personagem é linda. Além de tudo, ela tenta manter um otimismo, é um otimismo trágico. Ela mantém a alegria. Então, adorei fazê-la. De toda maneira, ela tenta dizer que está tudo bem e, por isso, ela se enfia em enrascadas. Tem humor e tragédia melancólica muito bem escrita… O que é mais bonito nessa personagem é a relação que ela tem com a arte, com a música. É querer acreditar que aos 50 e tantos anos ela ainda vai dar certo, que ela ainda vai gravar. Essa crença e esse otimismo… É uma personagem muito linda”, completa.
Gravações na pandemia
A atriz conta que gravar na pandemia foi um desafio, mas que lhe fez bem. “No início, a gente falava: ‘será que não vai dar certo?’ Isso apertava meu coração… Foi uma guerrilha, de máscara, de acrílico, com todos os protocolos. E a coisa foi sendo assimilada… Eu tenho pena só de a gente não ter podido fazer as festas e os encontros necessários, as festas no camarim. Mas foi inesquecível. Uma vitória plena dentro desse desafio”, conta.
“Fiquei muito feliz de estar trabalhando com essas pessoas, nesse momento tão terrível que a gente está vivendo, com um texto tão humano, falando de coisas sutis e dando voz a tantas angustias que estão aí, nesses dois anos, entre quatro paredes”, finaliza.