Juliana Paes dá vida à personagem Maria Marrá no remake de ’Pantanal’Divulgação / TV Globo

Rio - Juliana Paes completou 43 anos neste sábado e não poderia ganhar um presente melhor: estreia, na segunda-feira, no horário nobre da TV Globo, o remake de "Pantanal", novela de Benedito Ruy Barbosa com adaptação de Bruno Luperi e direção artística de Rogério Gomes. Na trama, a atriz interpreta Maria Marruá, que na primeira versão, em 1990, na TV Manchete, foi vivida por Cássia Kis.
Maria leva uma vida feliz ao lado do marido, Gil (Enrique Diaz), até que precisa enterrar cada um dos três filhos. Embrutecida pela dor da perda, ela chega ao Pantanal sem vida, sem alma, sem esperança. Brava, recebe a alcunha de Maria Marruá. Quando engravida de Juma (Alanis Guillen) pensa em abandonar o bebê no Rio, mas é impedida pelo destino. 
"Maria Marruá é forjada na violência, na perda da identidade, da terra, do que é seu. Então, quando você não tem mais nada, você só tem a si mesmo, seus próprios instintos. Eu tentei trabalhar a Maria nesse lugar. No lugar da dor, da solidão... A solidão de perder coisas que são muito intrínsecas para o ser humano, que é a sua própria identidade. O público vai se identificar com ela no sentido da redescoberta, de que apesar de todas as dores ainda é possível encontrar um lugar de amor, que (para ela) é quando a Juma nasce", diz Juliana sobre a personagem.
A artista também conta que não pensou duas vezes antes de aceitar o papel. "Quando o Papa (Rogério Gomes, diretor) me ligou e me falou que era a Maria Marruá, eu, sempre muito fã da Cássia Kis, falei: 'Começamos quando? Quando é que a gente viaja?’. Eu já tinha vontade de conhecer o Pantanal também. Sabe quando junta a fome com a vontade de comer? Juntou tudo! O desafio por ser o personagem de uma atriz que eu admiro tanto, de quem eu sou fã, e a história, todo o entorno", relembra a atriz, que ressalta que "Pantanal" representa uma memória afetiva para boa parte dos telespectadores. 
"Para mim, como para muitos brasileiros da minha geração, 'Pantanal' está em um lugar de memória afetiva, está em um lugar de conforto, de casa. Eu lembro exatamente da posição da minha mãe e do meu pai sentados, da cor do sofá onde eles ficavam (assistindo à novela). Lembro de as vezes não estar na sala, estar em outro lugar, mas de ouvir aquela música que ecoava na casa inteira e a arara passando… Aquilo era uma atmosfera diferente na casa das pessoas. A gente tem um público cativo de novela que, no meu sentir, está muito emocionado de revisitar essa história e creio que não é só pela história, mas por essa sensação, por essa emoção que essa novela traz pra gente, por esse lugar de aconchego, de casa, de talvez uma certa nostalgia, mas das boas". 
Caracterização
Uma das partes do trabalho que Juliana mais gosta é a caracterização, quando ela finalmente consegue ver a personagem ganhar vida. Para viver Juma Marruá, a atriz precisou se despir de algumas vaidades, deixar surgirem alguns fios brancos nos cabelos, deixar a sobrancelha crescer. Mas, para ela, isso não foi um problema. 
"O personagem acontece mesmo depois que você coloca a roupa e se vê com o cabelo pronto, a maquiagem pronta. Primeiro, a gente faz um esboço do que vai ser a personagem nas duas fases (da novela). Então, primeiro eu sentei na cadeira da Val, que é nossa maquiadora. A gente começou a imaginar como seria o rosto de uma mulher que nunca se protegeu do sol, nunca teve acesso a filtro solar ou nem sempre teve acesso ao chapéu. Como seria a pele dessa mulher? Melasmas? Onde a gente põe esse melasma? Marcas de expressão? Como fazer isso de uma maneira que fique natural, que a gente não precise usar prótese? Porque isso também é algo que fica muito dramático, mas que quando aparece na tela - e hoje em dia a gente trabalha com muita definição - ao mesmo tempo causa uma estranheza", diz Juliana sobre o processo de caracterização. 
"A gente foi pensando nessas linhas de expressão marcadas, na sobrancelha que deixei crescer e não fiz, nos cabelos brancos que a gente deixou surgir. E era o meu cabelo branco natural que ia dando a linha pros outros cabelos que iam se fazendo. E aos poucos a gente foi desenhando assim, essas marcas de expressão, manchas, cabelo. Não uma mulher que não se cuida, mas uma mulher onde o tempo agiu, onde o sol agiu. Depois eu entrei na sala da Marie, figurinista, e a gente começou a entender como essa mulher se veste. Tem um belo dia que a gente chega na caracterização e faz tudo isso: as manchas, as linhas, unha suja... É quando você se olha no espelho e o personagem vem. Mesmo com todo o trabalho de corpo que a gente faz antes, de toda a leitura que a gente faz antes, é nesse momento que você olha tudo isso, que entende a figura do seu personagem, e começa a trabalhar em cima de uma imagem, não só das emoções e sensações", explica. 
Considerada uma das mais belas atrizes brasileiras, Juliana conta que tem recebido muitos questionamentos sobre como é se ver interpretando uma mulher mais envelhecida. Ela garante que é "gratificante" e até mesmo poético poder abandonar os padrões em prol da arte e se deleitar com o resultado. 
"A gente vive esse universo, as vezes, muito estético. Eu tenho recebido muitas perguntas nesse sentido. Como é se ver envelhecida, maltratada? Parece que estão perguntando como é fazer esse esforço. Acho que não é esforço nenhum, muito pelo contrário, é gratificante poder abrir mão da vaidade, da estética vigente. E, mais do que abrir mão disso, ver beleza nisso. Vejo beleza nas olheiras, no cabelo branco, vejo poesia nessas marcas do tempo... Não é esforço nenhum. É um prazer poder abandonar essa mochila da vaidade, do perfeito... e não só gostar de fazer, mas se deleitar vendo o resultado. O processo diário é catártico, é você sentar ali com a sua carinha de cidadão comum e, de repente, está impresso no seu rosto aquele cenário, aquela paisagem, aquela música, aquele som. É muito gratificante".
Vai virar onça?
Um dos grandes mistérios de "Pantanal" que envolvem a personagem Maria Marruá é a fama que ela tem de virar onça nos momentos em que está muito brava. Juliana prefere não dar sua opinião sobre o assunto e convida os telespectadores a assistirem à novela para descobrir se ela vai mesmo virar onça ou não. 
"Prefiro não dizer o que eu penso. Vou deixar isso para o suspense de 'Pantanal'. Não é spoiler, mas, assim, talvez nessa versão, o Papa tenha escolhido trabalhar mais ainda com esse mistério, com essa dúvida. Ela vira mesmo onça ou isso é falatório de gente do local? Ela vira mesmo ou isso é uma sensação de quem viu uma mulher tão forte que disse que ela vira onça e as pessoas realmente acreditaram nisso? Foi uma escolha do Papa trabalhar ainda mais essa aura de mistério em torno dessa transformação", explica Juliana. 
"A gente não vai ver nenhuma cena no estilo 'X-Men', uma transformação completa acontecendo. Essa escolha foi um acerto porque trabalhar o mistério, a percepção de cada um, como cada personagem fala dessa mulher que vira onça, é um tempero gostoso de ver. O público é a parte dessa história que vai entender a sua maneira. Essa diferença entre as percepções é um tempero muito gostoso", finaliza.