Alanis Guillen como Juma Marruá em ’Pantanal’Divulgação/Globo

Rio - Quando foi exibida pela primeira vez, na TV Manchete, em 1990, a novela "Pantanal", de Benedito Ruy Barbosa, fez um sucesso estrondoso. As belas imagens do local ficaram no imaginário dos telespectadores que, cerca de 32 anos depois, vão poder se deslumbrar novamente com a natureza e as paisagens pantaneiras no remake da obra, que estreia nesta segunda-feira, na TV Globo. Com direção artística de Rogério Gomes, a nova versão de "Pantanal" tem o texto adaptado pelo neto do autor, Bruno Luperi. 
Assim como acontece em toda adaptação, algumas mudanças foram necessárias, mas Luperi garante que a essência da novela continua a mesma. "O tempo é um agente fundamental pro Pantanal. Ele influenciou não só a questão social, estamos falando de vários adventos que surgiram nesses últimos 30 anos. Com a internet, as barreiras diminuem, as fronteiras todas quase desaparecem, mas em termos de dramaturgia a gente precisa manter aquele mesmo universo. É a mesma história que estamos contando, mas estamos trazendo ela 30 anos pra frente. A ideia é que aquela dramaturgia proposta 30 anos atrás pelo meu avô na versão original aconteça hoje à luz do nosso tempo. ('Pantanal') É uma obra prima. Essa é uma grande dificuldade do texto, respeitar esse clássico e trazer reinterpretado 30 anos depois, preservando a essência da história original", explica.
"Pantanal" conta a história do velho Joventino (Irandhir Santos) e seu filho, José Leôncio (Renato Góes / Marcos Palmeira). Trabalhando como peão de comitiva, Joventino aprende a importante lição de que a natureza pode mais do que o homem e que nada se conquista através da força, como ele imaginava. O velho Joventino ganha fama por trazer os bois selvagens, os ditos marruás, no feitiço. Porém, ele desaparece sem deixar rastros, e seu filho, José Leôncio, fica sozinho à espera de seu pai.
Na versão original, Cláudio Marzo deu vida aos três personagens: Joventino, José Leôncio e o Velho do Rio, uma espécie de Entidade que protege o Pantanal. "O Cláudio Marzo fez os três personagens na versão original por uma questão até logística. A novela foi realizada na Manchete, com dificuldades de execução, produção… O Cláudio Marzo acabou assumindo os três meio que por obra do acaso, do destino. Ele foi pra fazer o Velho do Rio, mas houve um problema com o ator que faria o José Leôncio e ele ficou com todos os personagens. Quando a adaptação foi confirmada pela Globo, eu comecei a ler a novela inteira e não tinha essa necessidade no texto", explica Luperi. 
"Não tinha essa demanda no papel de que fosse o mesmo ator fazendo esses personagens e era até mais bonito que não fosse. O esteio central do José Leôncio, o que o prende no Pantanal, é a expectativa do pai voltar. Na ideia dos personagens, era mais forte a gente ter um José Leôncio que tem diferenças do pai, que não é a cópia dele", analisa. 
Irandhir Santos, que vive Joventino, conta que criou seu personagem baseado no fato de que, mais tarde, ele iria se tornar o Velho do Rio, vivido por Osmar Prado. "Eu recebi o convite para fazer o Joventino e fiquei muito feliz, mas eu fiquei ainda mais feliz quando eu soube que o Velho do Rio seria o Osmar Prado, um ator por quem tenho toda a admiração. O Joventino, então, passou a ir se moldando a partir desse dado. Fosse qual fosse o caminho que eu iria percorrer para construir essa persona, tudo isso teria que chegar na porteira, no patamar de entrega pra construção do Osmar Prado", diz.
"Eu olho para o meu Joventino e eu vejo um ser, um homem um passo antes da Entidade. Ele está a um passo de se transformar no ser que se torna guardião da natureza. A construção do Joventino se deu através do estudo sozinho, como sempre faço, se deu através dos encontros que realizamos com os outros atores, da conversa com o diretor e todos os departamentos, mas eu confesso que o meu Joventino se estabeleceu fortemente quando encontrei o Osmar e a gente conversou, uma conversa longa, lá Pantanal. Ali eu pude entender até que ponto eu cavalgaria e desceria do cavalo para entregar as rédeas para esse ator. O Joventino é um homem do trabalho, é um pai amoroso, mas é esse homem um passo antes da Entidade, que é vivida pelo grande Osmar Prado. Essa foi a estrutura que eu criei emocionalmente para criar o Joventino", completa Irandhir.
O Pantanal
As gravações de "Pantanal" aconteceram nas mesmas locações utilizadas 30 anos atrás, na primeira versão da novela. Ainda assim, o cenário sofreu algumas mudanças por conta da ação do homem na natureza. "Esses 30 anos que passaram são muito intensos na mudança (da paisagem). Hoje tem muita poeira e pouca água. O bioma como um todo está sofrendo uma seca muito grande. Todo mundo teve uma relação muito forte com o Pantanal, lá a natureza fala mais alto que o homem. Esse grito está muito mais agudo, mais intenso, porque o homem chegou muito mais próximo do Pantanal atualmente que 30 anos atrás", afirma Bruno Luperi. 
Juliana Paes, que vive a Juma Marruá, fala sobre a sensação de estar no local. "Acho que se a gente tivesse começado a gravar, talvez, pelo estúdio, não teria tido esse molho todo. Quando você chega no Pantanal, vem um dado diferente, vem uma energia contemplativa. O Pantanal te convida a isso, a levantar as orelhas, a lançar o olhar pra fora. Essa energia de contemplação fica impregnada na gente. Tem muito barulho porque os bichos cantam muito alto. Com esse som alto, que acorda a gente, o barulho da natureza tão forte chamando, você silencia. É um silencio preenchido de si mesmo, você inevitavelmente entra em contato com a sua natureza mais selvagem", diz a atriz. 
Para o diretor Rogério Gomes, o "Pantanal" é o grande protagonista da trama. "É muito difícil o Pantanal não sobressair, pra mim ele é o protagonista dessa história toda. Chegando com respeito e entendendo o tamanho daquele lugar... Ele é imbatível, gigante. Você se sente em outro planeta. São lugares muito fortes, é uma energia muito forte. Então,  é muito difícil não ter o Pantanal como protagonista". 
Benção do avô
Bruno Luperi revela que seu avô, Benedito Ruy Baborsa, está confiante de que ele fará um bom trabalho. "Final de 2019 foi a primeira vez que me perguntaram se eu queria fazer a novela. Me disseram que meu avô só aceitaria se eu fizesse (a adaptação), a Globo também, por conta de uma ideia que eles tinham sobre falar desse Brasil profundo que meu avô retratou", diz.

"As trocas com ele são muito boas. Ele vai fazer 91 anos, completamente lúcido ao falar de trabalho. É um autor que tem a marca de ter feito a carreira escrevendo sozinho. Ele tem muito cuidado, muito zelo com a questão de mexerem no texto dele. Meu avô me deu a benção, um voto de confiança", completa.
"'Pantanal' foi a obra divisora de águas na carreira dele. Depois de 'Pantanal' ele voltou pra Globo, no horário nobre, escrevendo 'Renascer', 'Rei do Gado', 'Terra Nostra', 'Esperança' e se consagrou. O sucesso é a prova de que ele estava certo. 'Pantanal' era uma novela que era pra acontecer na Globo. O remake ser nessa emissora, que foi onde ele concebeu essa história, fecha um ciclo".