Rodrigo Sant'Anna é a dona Isadir de 'A Sogra Que Te Pariu', primeira sitcom brasileira da NetflixDivulgação/Netflix/Helena Barreto

Rio - Conhecido por dar vida e rosto ao subúrbio carioca em diversas produções nacionais de destaque, Rodrigo Sant'Anna está de volta com uma nova personagem que promete conquistar o público por sua familiaridade. Em 'A Sogra Que Te Pariu', que estreia nesta quarta-feira na Netflix, o humorista mostra o que acontece quando uma moradora do Cachambi, na Zona Norte do Rio, decide se mudar para a mansão do filho na Barra da Tijuca e as confusões que se desenrolam a partir dessa convivência.
Com dez episódios de 25 minutos, a série é a primeira sitcom brasileira, com plateia e várias câmeras, a ser lançada na plataforma de streaming e ainda marca a estreia de Rodrigo em uma produção original da Netflix. A comédia inicia com a chegada de dona Isadir à casa de seu filho, Carlos (Rafael Zulu), durante a pandemia do coronavírus, e a professora aposentada já tem um atrito com a nora, Alice (Lidi Lisboa), logo nos primeiros cinco minutos.
Em entrevista ao DIA, Sant'Anna revela que a trama da série foi baseada na história real que o ator viveu ao receber sua mãe, Ana Lúcia, na casa onde mora com o marido, Junior Figueiredo. Não foi por coincidência que a matriarca serviu de inspiração para a construção de dona Isadir: "O ponto de partida pra mim é a minha mãe", afirma o comediante, que explica como foi a criação da personagem.
"As mulheres foram muito fortes e relevantes na minha história: minha madrinha, minha avó e minha mãe, eu devo tudo a elas. Eu acabo fazendo uma miscelânea em alguns momentos. Tem uma coisa dos anéis e cordões da Isadir que vem muito da minha madrinha. Minha madrinha era exatamente essa mulher muito vaidosa que você fala: 'dinda, pelo amor de Deus, não precisa de tanto cordão'. Mas, em contrapartida, tem essa coisa da minha mãe, que, por exemplo, já teve um namorado virtual, e a gente tem um episódio em que a Isadir conhece alguém no Tinder. Então, eu vou fazendo uma mistura", conta o ator.
Subúrbio na telinha
Outro elemento que está sempre presente nos trabalhos de Rodrigo Sant'Anna é a figura do morador do subúrbio, tendo em vista diversos papéis que o ator assumiu, desde a icônica Valéria Vasques, no 'Zorra Total', até o camelô Denílson, de 'Um Suburbano Sortudo'. Nascido e criado no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, o ator fez questão de levar essa classe social para a televisão mais uma vez, não apenas com dona Isadir, mas também com Fátima (Solange Teixeira) e Cezinha (Ney Lima), vizinhos da protagonista que garantem  boas risadas do público.
Para o humorista, é "a cor dessas pessoas" que explica todo o seu interesse pelo grupo que muitas vezes é marginalizado em grandes produções. "Tem uma frase no seriado que diz: 'O subúrbio pode ter ruas que não são tão bacanas, casas que não são tão bonitas, mas tem pessoas que são'", declara Rodrigo, com lágrimas nos olhos.
"Eu fico emocionado porque as pessoas do subúrbio vivem uma precariedade muito grande e elas são muito felizes, são muito animadas... Elas são muito gesticulativas e falam alto, e é caloroso! Pra mim, uma palavra que traduz o subúrbio é o 'calor', e não só no sentido literal. Eu acho que talvez isso me leve a querer falar: 'Isso é Brasil, gente! É essa galera que fala alto, que canta 'parabéns' no ônibus, e que espera uma hora pro ônibus [chegar] e, na verdade, cria uma família naquele transporte'", descreve.
Evolução do humor
Para deixar a série bem contextualizada, Rodrigo faz uso de diversas referências ao longo da trama, com brincadeiras que citam desde a cantora e ex-BBB Karol Conká, até o remake da novela 'Pantanal'. Considerando o clima tenso que a comédia enfrenta após episódios como o tapa que Will Smith deu em Chris Rock por uma piada feita na cerimônia do Oscar 2022, o artista fala sobre o cuidado que teve na hora de escolher as anedotas que usaria durante as gravações da sitcom.
"A gente fica muito atento pra que não seja pejorativo ou ofensivo. O nosso cuidado é que se busque referências, mas que a gente evite de ir num lugar onde a pessoa possa se sentir ofendida", esclarece. "Eu acho que a maior limitação do humor é a gente entender 'até onde eu não vou machucar alguém' e que, assim como a sociedade, o humor é algo que evolui com o tempo. Sem dúvidas, tem coisas que eu fiz que eu jamais faria novamente, e, daqui a pouco, terão outras que eu não poderei mais fazer. Eu acho que a gente vai evoluindo", opina Sant'Anna.
E é com essa sensibilidade que o ator expõe o interesse em estender 'A Sogra Que Te Pariu' pelo máximo de temporadas que puder, além de comemorar a participação na primeira sitcom nacional da Netflix. "É um misto de nervosismo, felicidade, responsabilidade de corresponder expectativas... É a sensação de me sentir representante da linguagem do nosso país e trazer isso de uma maneira contundente, colorida, divertida, e com a nossa identidade", diz Rodrigo.