Renata SilveiraManoella Mello / TV Globo

Rio - A trajetória da narradora Renata Silveira no Esporte é marcada pelo pioneirismo. Apesar de nunca ter pensado em seguir esta carreira, a jornalista de 33 anos acumula marcos importantes, como ter sido a primeira mulher a narrar uma Copa do Mundo masculina na TV aberta, na Globo. Este ano, Renata e Luís Roberto se revezam no comando dos jogos do Brasil pela Copa do Mundo feminina, que acontece na Austrália e na Nova Zelândia. 
"É uma honra ser uma das vozes que estão narrando os jogos do Brasil na TV Globo. Não sei onde a gente vai chegar, mas acho que a gente vai ter lindas histórias para contar, despedida da Marta... Estou muito feliz com esse momento. Ano passado pra mim já foi uma conquista que aos poucos estou entendendo o que aconteceu. Me tornar a primeira mulher a narrar um jogo de Copa do Mundo na TV aberta e agora a Copa feminina. Eu costumo dizer que daqui a pouco eu não vou ter mais adrenalina no meu corpo, porque toda hora é um momento novo, um desafio pela frente, a primeira isso, a primeira aquilo", dispara Renata, que anseia pelo momento em que se tornará normal ver mulheres ocupando esse lugar. 
"Não vejo a hora de ser normal ver mulher narrando futebol e a gente acabar com o 'primeira isso, primeira aquilo'. Agora vai ter a segunda, a terceira... Tem várias mulheres ocupando espaços. E que assim seja e vai ser! O futuro é muito promissor", comemora a profissional
Garota da Voz
Renata Silveira se tornou narradora depois de participar do concurso "Garota da Voz", da Rádio Globo, em 2014. "Não imaginava uma mulher fazendo isso (ser narradora) e não imaginava eu fazendo isso também. Eu sendo essa pessoa que estaria ali, narrando… Tudo aconteceu em 2014 através de um concurso da Rádio Globo. Então, hoje poder ser essa referência, ser essa inspiração... Não vou dizer nem que é um sonho, porque nunca imaginei estar nesse papel. Mas é a parte mais legal de tudo: receber mensagens de pessoas que se inspiram, que gostam do meu trabalho, é legal demais", afirma a jornalista. 
"Na última Copa masculina, a ficha começou a cair em relação a isso. Ao longo do processo, ao longo da jornada, eu começo a entender o nosso papel, a nossa representatividade, o nosso lugar nessa transmissão", afirma. 
Parceria com Luís Roberto
A narradora cita Luís Roberto, com quem divide os jogos da seleção, como uma inspiração. "É uma honra estar dividindo os jogos do Brasil com o Luís, principal narrador da casa. Ele sempre foi uma referência. Poder estar dividindo com ele esse espaço é imensurável", garante.
"Eu lembro que assim que eu cheguei na Globo, pedi para assistir a um jogo do Luís. Era um Flamengo e Corinthians, um jogo gigante. Estavam (no local) o Luís, o Roger (Flores), e o Junior. Eu sentei atrás deles, começou o jogo e eu fiquei emocionada. Uma coisa é você acompanhar sempre na televisão, como a gente sempre acompanhou. Outra coisa é você estar ali na cabine, acompanhando com eles. Me inspira muito", completa. 
Preparação
Renata conta como foi sua preparação para a Copa do Mundo e revela que o processo não foi muito diferente de outros campeonatos. "A preparação é como todas as competições. O estudo das seleções, das atletas, da própria competição. Desde que eu estou na Globo tenho narrado muitos jogos da Seleção Brasileira, seja amistoso, Copa América, Olimpíadas... Então, a primeira coisa que eu fiz foi pegar todas as minhas anotações. Eu sou aquela raiz, do caderno, devia estar fazendo as coisas no computador, mas não. Eu faço no caderno", explica.
"Peguei todas as minhas anotações, de todos os jogos, principalmente desde 2019 pra cá, que eu acho que é o que a gente realmente tem que comparar, a mudança da seleção de futebol feminino de 2019 pra cá. Ver essa evolução e acompanhar tudo isso foi muito legal. A preparação foi de muito estudo, cuidar da voz também, porque tem a nossa rotina envolvida com outros eventos da TV. E tentar chegar da melhor forma possível fisicamente, mentalmente, pra trabalhar esta Copa". 
Ela também ressalta que a TV Globo e o SporTV estão acompanhando a modalidade há bastante tempo, o que garante uma preparação a mais. "A gente chega quase pronta para esse desafio. É diferente de você chegar só narrando futebol masculino, do nada cair uma Copa do Mundo feminina no seu colo e você não acompanhou nada. Mas não. A gente está narrando todo esse ciclo, a gente viu Olimpíadas, Copa América, campeonatos de base, Brasileirão, sub-17, sub-20. A Lauren, que hoje está na seleção, outro dia a gente estava narrando ela nos jogos da base no SporTV", relembra. 
Brilho especial
Questionada sobre as diferenças entre narrar uma Copa do Mundo masculina e um mundial feminino, Renata revela que para ela a competição entre as mulheres tem uma "purpurina" especial. 
"Não me entendam mal. Não é que seja mais especial, mas tem uma diferença, sim, pelo menos para mim, narrar futebol feminino. Quando a gente está estudando, se preparando para os jogos, a gente estuda obviamente todas as questões do jogo, da competição e da vida dos atletas também. A gente sabe que pros meninos também não é fácil chegar onde eles estão, mas por outro lado, para as meninas a luta é muito maior", analisa. 
"Tem a questão do preconceito, ter que sair de casa escondido pra jogar bola, os pais não aprovarem que elas joguem, chegar no campinho só ter meninos e elas serem as únicas meninas... Então, quando a gente fala de futebol feminino, quando eu estou ali narrando um jogo de futebol feminino, eu estou envolvida também com todas essas causas e questões. A gente sabe que não foi fácil para todas aquelas atletas chegarem até onde elas chegaram. Tem uma purpurina por trás que brilha mais um pouquinho sim", finaliza.