Eliane Giardini caracterizada como Agatha, em 'Terra e Paixão'Manoella Mello / TV Globo

Rio - Eliane Giardini, de 70 anos, está de volta à TV aberta na pele da misteriosa Agatha, em "Terra e Paixão", na Globo. A atriz entrou na trama de Walcyr Carrasco causando um verdadeiro terremoto com o retorno da personagem que há anos era dada como morta pelos moradores de Nova Primavera, cidade fictícia onde se passa a história. O reencontro com os filhos, Caio (Cauã Reymond) e Jonatas (Paulo Lessa), abandonados pela mãe ao nascerem, e com o ex-marido, Antônio La Selva (Tony Ramos), foi marcado por fortes emoções nos capítulos da última semana. Mas a artista garante que ainda há muito mais drama a caminho e alerta para os próximos passos de Agatha, que passou mais de 20 anos presa.
"A Agatha chega como uma pessoa vitimizada, querendo o perdão das pessoas, porque ela aprontou muito, né? Mas eu sei, também, que ela é aproveitadora, ela chega querendo reaver tudo que ela tinha. É uma personagem complexa, porque ela não quer só o dinheiro. Se ela quisesse só o dinheiro, ela não tinha abandonado a vida poderosa que ela tinha. A vida que a Irene (Gloria Pires) tem hoje era a vida que ela tinha. E ela não quis, ela foi embora por um amor", ressalta a atriz, que faz sua primeira personagem fixa em uma novela desde 2019, quando atuou em "Órfãos da Terra".
No capítulo da última quarta-feira, o público conheceu mais sobre o passado de Agatha. Em um flashback que trazia Bianca Bin como a personagem na juventude, a ex-mulher de Antônio combina uma fuga com um médico chamado Evandro, vivido por Rafael Cardoso, deixando o filho para trás com o então marido. A suposta morte durante o parto foi apenas uma maneira de escapar sem ser perseguida pelo fazendeiro. "Me parece que Agatha é uma pessoa bastante impulsiva, que vai em busca mais do afeto. Embora ela pense que está querendo reaver o dinheiro e o poder, eu acho que ela quer mais o afeto mesmo das pessoas. Pelo menos, eu quero acreditar nisso. Eu acredito em redenção, acredito que ela tem salvação", afirma Eliane.
Romance e rivalidade
Reprisando a parceria de "Caminho das Índias" (2009), quando viveram o casal Indira e Opash, Eliane Giardini e Tony Ramos agora se reencontram após viveram um grande amor no passado. Apesar do casamento com Irene (Gloria Pires), o personagem de Tony sempre deixou claro, desde o início da novela, que a mulher que ele "mais amou na vida" foi Agatha. 
Para a atriz, a possibilidade de um romance entre os dois não está distante: "Novela é um mistério. A gente não sabe exatamente como é que a coisa vai se dar, mas me parece que eles estão se encaminhando para isso. Tem uma ligação entre os dois. Eles se encontram e, quando eles se olham, eles não ouvem nada do que está se falando. Eles estão ali nas memórias deles do passado, nas coisas boas. E ela fala isso muitas vezes, que o Antônio era outra pessoa, que ele gostava de dançar, que ele era uma pessoa adorável. Eles viveram um momento muito bom. Eu acho que essa memória está nas células dela", analisa Eliane.
Depois de anos presa por um crime que diz não ter cometido, Agatha já iniciou um embate com Irene, que chegou a "encomendar" a morte da rival, no entanto, o plano não deu certo. A atual matriarca da família La Selva, porém, não vai sossegar enquanto não tirar a personagem de Eliane do caminho. "A Irene está ocupando exatamente o lugar que Agatha acha que é o lugar dela, que ela deve ocupar. Não sei exatamente como é que vai ser. É uma coisa muito esperada. Por mim, inclusive", revela a atriz.
Maternidade
Por outro lado, Eliane não mede as palavras ao comentar a experiência de interpretar uma personagem que abandona os próprios filhos ao ponto de dizer que "uma criança só iria atrapalhar" o affair com Evandro (Rafael Cardoso). "É triste, mas eu acho que essa é uma das coisas que move a Agatha, esses amores, o desejo de ser amada... Eu sofro com essas falas. Eu falo que foi a Bianca (Bin) que falou, não fui eu (risos)", brinca a atriz, que é mãe de Juliana, de 46 anos, e Mariana, de 43, ambas fruto do casamento com o ator Paulo Betti, de quem se separou em 1997.
Enquanto a relação entre Agatha e Jonatas segue abalada após o rapaz se surpreender com a notícia revelada pelo pai, Gentil (Flavio Bauraqui), ela vai tentar se aproveitar da aproximação com Caio, segundo a atriz. "Tem uma cena em que eu vou para a casa do Caio, para tentar tirar dinheiro dele. Dói, sabe? Porque eu estou tentando estabelecer uma relação real de amor, e eu acho que é uma relação real. Eu trabalho dando um carinho real", desabafa Eliane, que também já interpretou a mãe de Cauã Reymond na minissérie "Dois Irmãos" (2017).
"Eu acho que, quando eu disse pra ele (Caio), que ele foi um filho muito amado e muito desejado, naquele momento houve uma cura nesse personagem. Não sei se é verdade. Acho que, no momento em que ela engravidou, realmente havia esse momento de paixão (com o Antônio). Mas, quando ele ouve isso, há uma mudança nítida do personagem de lá para cá. Ele se acerta com a Aline, com a mãe... Ele fica num momento de muito empoderamento, porque ele se curou naquele momento. Então, eu reforço essas questões porque acredito na redenção", afirma.
Fora das telinhas, Eliane destaca que sua experiência com a maternidade a levou a entender as decisões radicais que mães tomam motivadas pelo amor aos filhos. "São diárias essas questões. Eu acho que o filho sempre é uma prioridade, pra mim, é uma prioridade absoluta. Então, diariamente, se está tudo bem com eles, eu estou ótima. Se tem alguma questãozinha, nada fica bom. É muito complicado, eu tenho que, primeiro, resolver essa questão, ficar bem com isso. Eu vejo com a minha mãe. Ela tem 92 anos e fica em cima de mim do mesmo jeito, querendo saber se eu estou bem, se eu não estou. Acho que isso não acaba nunca, é pra sempre."
Dupla de sucesso
Em sua quarta novela de Walcyr Carrasco, a atriz faz questão de celebrar a parceria de sucesso que rendeu personagens memoráveis como a Ordália de "Amor à Vida" (2013), lançada no Globoplay recentemente, da mesma forma como foi exibida originalmente há dez anoss. "É uma delícia, é muito bom. A gente tem uma parceria boa. Ele sempre me dá ótimos personagens. Acho que a gente está muito bem", diz Eliane.
Conhecendo bem o autor, a veterana também pede que o público fique atento às reviravoltas da novela, que se aproxima de seu centésimo capítulo, e não descarta uma "segunda morte" de Agatha. "Eu já me acostumei com isso também. Não tem apego. Não dá pra se apegar porque, daqui a pouco, faz e a Agatha morre amanhã. E é bem possível que aconteça, inclusive", sugere.
Talento nos palcos
Fora das telinhas, a atriz também mostra sua veia romântica na peça "Intimidade Indecente", ao lado de Marcos Caruso, com quem brilhou em "Avenida Brasil" (2012). O espetáculo, que fez uma temporada de estrondoso sucesso no Rio e agora retornou para São Paulo, conta a história de um casal que se separa aos 60 anos, mas volta a se encontrar em diferentes fases da vida, até os 90.