Babu Santana relembrou infância na Igreja Católica para interpretar o frei Severo de 'Amor Perfeito' Victor Pollak / TV Globo

Rio - Babu Santana, de 43 anos, vive um momento especial como um dos destaques da novela "Amor Perfeito", da Globo, que se aproxima da reta final. Na pele do frei Severo, o ator celebra a oportunidade de fazer um papel inédito em comparação com os trabalhos da carreira. Contracenando com grandes nomes da TV brasileira, como Tony Tornado, Tonico Pereira e Antonio Pitanga, ele fala sobre a emoção de dar vida a um religioso e exalta a representatividade negra na trama.
"Foi a chance de mostrar uma outra faceta, de um personagem mais tranquilo, um religioso, um líder. Exercer essas qualidades de um personagem, para mim, foi muito importante, já que eu venho vindo sempre de personagens mais truculentos, mais mal-encarados. Poder fazer o frei Severo foi um grande presente para a minha carreira. Foi um dos trabalhos que mais me deu trabalho, e um dos mais prazerosos", afirma o ator, que entre diversos outros trabalhos marcantes, esteve, ainda, no elenco do "BBB 20".
Comunhão em cena
Para Babu, a Irmandade também se apresentou como a oportunidade de dividir cena com colegas ilustres: "O meu núcleo foi, talvez, a minha maior inspiração. Estar com Tony Tornado, Antonio Pitanga, Chico Pelúcio, Allan Souza Lima, Tonico Pereira... Nesse núcleo, eu tenho meus velhos e novos ídolos. Então, estar nesse núcleo foi muito importante para a composição do Severo", afirma.
O ator ainda ressalta a parceria com Levi Asaf, de 10 anos, que interpreta o pequeno Marcelino, o filho perdido de Marê (Camila Queiroz) e Orlando (Diogo Almeida). "Eu já preveni os pais dele: 'Não saiam de perto, senão eu levo para casa' (risos). O Levi é meu novo ídolo. É um garoto que não deixa de ser criança por um segundo. Ele tem muito do personagem, é impressionante como ele encanta a gente. Um moleque tão maduro, tão ciente do que está fazendo. É muito engraçado contracenar com ele, muito gostoso. A mesma admiração que eu cultivo há anos pelo Tony Tornado, eu cultivo pelo Levi", exalta.
Criação religiosa
O convite para interpretar o clérigo na obra de Duca Rachid, Julio Fischer e Elísio Lopes Jr. fez Babu resgatar a infância na Igreja Católica e os estudos em um colégio tradicional no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio. "Eu fiz crisma, a primeira comunhão. Então, eu tive vários padres em que eu pude me inspirar. Até porque o Severo é muito plural, ele não é só 'severo', ele tem todo esse carinho. Tive todo o início da vida católica, estudei no Divina Providência. Isso me ajudou muito a compor o personagem. Hoje, não sou mais católico, mas eu tenho muito carinho pelo catolicismo, tenho muito conhecimento, já li muito a Bíblia. Como eu estava muito tempo afastado, eu fui em algumas missas. Como a novela é uma obra aberta, a gente vai sempre se reinventando", detalha o artista.
Representatividade
E a religiosidade do personagem não foi o único desafio que Babu enfrentou durante a preparação e as gravações da novela, prevista para ter seu último capítulo exibido em 22 de setembro. "Eu não vejo dificuldade em fazer o frei Severo, a não ser colocar aquelas cinco camadas de roupa", brinca o ator, antes de emendar, em tom mais sério: "Acho que o difícil é nos colocar nessa situação, é mais distante. Eu raramente vi, por exemplo, figuras de padres na dramaturgia pretos. E parece que é uma coisa que não existe. Outra coisa que a gente vê muito na novela, que eu acho muito bonito, é essa classe média preta, que existia e é subtraída da história da nossa sociedade", opina.
Participando de um momento histórico na TV Globo com maior participação de artistas pretos em folhetins, Babu, porém, ressalta que que ainda existe um longo caminho a ser percorrido quando o assunto é representatividade. "Estamos avançando em passos lentos, mas estamos avançando, isso a gente não pode deixar de reconhecer. Mas ainda é muito pouco. Nós temos a metade da nossa novela preta, mas a gente tem que ter metade da (classe) executiva. Não só aqui da Globo, de uma empresa ou duas. Eu acho que tudo isso tem que ir mais para a raiz", defende.
"A gente tem uma rara felicidade de ter um diretor artístico preto, e isso é muito legal, talvez, esse seja o diferencial da nossa novela. No nosso elenco, tem muita gente que ralou muito e não é normal essas pessoas estarem onde estão. O Pitanga, o Tornado... Essa galera lutou muito. Eu posso ter 43 anos, mas já tenho 25 anos de carreira. Ocupar esse lugar e trazer a gente é fácil. Difícil é botar no lugar onde o André (Câmara) está. A gente precisa das metades desse lugar que o André ocupa. Não é tomar o lugar de ninguém, é conquistar os espaços que já é nosso por direito. Porque o nosso povo vem se preparando há muito tempo. É parar com essa história de '(temos que) ser duas vezes melhor'. Se a gente é duas vezes melhor, então devemos ganhar duas vezes mais".