Leticia Colin comemora a exibição de Todas as Flores na TV GloboJOAO COTTA / tv globo

Rio - Leticia Colin, de 33 anos, é um dos grandes destaques de "Todas as Flores", que estreia nesta segunda-feira (04), na TV Globo, na faixa das 23h, após o sucesso avassalador no Globoplay. No folhetim de João Emanuel Carneiro, a atriz interpreta Vanessa, uma vilã disposta a tudo para conseguir o que quer. Elogiada pelo público, a artista se mostra animada com a nova exibição e celebra a chance de mais pessoas poderem se emocionar com a trama. 
"Acho que vai ser um momento especial sentir essa novela chegando em outros lugares do Brasil. Há lugares no nosso país que a televisão ainda impera, e é através dela que as pessoas se informam, se emocionam", avalia Leticia, que completa: "Quero acompanhar a novela, sim. É uma oportunidade para gente se distanciar e ver de uma maneira mais envolvente, passado um tempo da obra que a gente fez. Porque, às vezes, junto com a gravação, com o processo e a gente se critica mais, se compara mais e está mais cansado também. Ver com distanciamento é uma coisa rica."
Filha de Zoé (Regina Casé), a estilista é irmã de Maíra (Sophie Charlotte), uma deficiente visual, por quem seu até então noivo, Rafael (Humberto Carrão), se apaixona. Apesar de se curar de uma leucemia após receber um transplante de medula de Maíra, a personagem não esconde o ódio e a inveja que sente pela irmã e atenta contra ela de diversas maneiras. 
"Me surpreendi várias vezes com o nível de maldade e com a inveja que a Vanessa tem da irmã, que leva ela a ser tão cruel. Ela chega a ser perversa, gosta de ver a Maíra sofrer", comenta Leticia, que recorda uma cena marcante das duas juntas. "Teve uma que gente gravou que tive que empurrar ela da escada, e depois a Maíra dava a volta por cima, puxando um canivete. Tinha que chutar a personagem. Fiquei mal com essa cena, essa sequência."
Entre as armações de Vanessa estão fingir sobre a volta do câncer e usar a gravidez, fruto da relação dela com o amante Pablo (Caio Castro), para tentar manter o noivado com Rafael, herdeiro da Rhodes (grife de luxo). "Com certeza a Vanessa é a grande vilã da minha carreira. Mas espero que venha outros grandes personagens também e grandes desafios", dispara a atriz, que chegou a acreditar na redenção de sua personagem. 
"Acreditei em vários momentos. Até porque o João Emanuel (autor) é famoso por isso de fazer as piores criaturas das novelas, fazer você ter pena delas e ter entendimento e perdão pelo o que elas fizeram. Mas achei interessante também isso não existir. É isso que ele quis retratar: no mundo tem muita gente assim, que é egoísta até o fim, que não aprende coma vida, que sensibiliza com a dor do outro", opina.
A artista também cita a importância de abordar temas como capacitismo, termo usado para designar qualquer tipo de atitude que discrimina pessoas com deficiência, em seu núcleo. "Acho que muitas pessoas passaram até a conhecer esse termo capacitismo e passaram a entender que o que a Vanessa fazia não era só um comentário, uma gíria ou expressão da nossa língua portuguesa. A gente tem muito impregnada na nossa linguagem associações de cegueira que são muito pejorativas e que, na verdade, refletem o preconceito profundo em relação à diferença. Na verdade, as pessoas com deficiência precisam de inclusão, todos nós precisamos. O mundo tem que ser feito e pensado para pessoas que não enxergam, não escutam, não caminham. Nós somos essa multiplicidade, a gente não é o padrão perfeito. Ficou bem claro que o que a Zoé e a Vanessa faziam era errado, criminoso e nocivo".
Tema de abertura
Além de atuar, Leticia canta a música de abertura de "Todas as Flores", uma releitura de "As Rosas Não Falam", clássico de Cartola, ao lado de Sophie Charlotte. "Foi muito encantador poder cantar uma música do Cartola, até porque o samba está muito presente na nossa história. A Gamboa está ali onde a história transita, que é um lugar de samba, de resistência, da nossa formação como país. Significava muito gravar um samba. E adoro a Sophie, sou fã dela, a voz dela, o timbre. Encontrar essa parceria juntas também trouxe alguns desdobramentos até para gente descobrir coisas na relação cênica. Você grava uma música que tem uma menção a tantas coisas, é ampla, te permite metaforizar muitas coisas, de espinhos, segredos... Foi um embasamento bom também para construirmos nossa relação de irmãs." 
Aclamada pelo público
Por causa da exibição no Globoplay, a atuação de Leticia na novela se tornou assunto nas redes sociais. Os internautas não economizaram nos elogios à atriz e confessaram que amaram odiar a personagem. "Estou curiosa para saber como vai ser a reação nesse segundo ato tão importante da nossa novela. As pessoas entenderam bem que era condenável o que a Vanessa fazia, mas ao mesmo tempo se divertiam com ela. Essa era a proposta desde o início... As pessoas diziam muito que ela era terrível, que tinham medo dela, que não iam deixar a bolsa perto. Coisas engraçadas. E agora (a novela) vai para um monte de gente assistir", diz a artista, que acompanhou alguns memes que fizeram com personagem. 
"Acompanhei uma parte. Adorei e me diverti muito. Um dos que eu mais gosto é um que não falo nada, só fico reagindo com a cabeça, meio reiterando o que a personagem Débora (Bárbara Reis) fala pra Zoé, quando ela esculhamba ela. Eu fico ao lado só zoando a Zoé tomando a bronca, fico me regozijando e tirando uma onda com a cara dela." 
Emmy Internacional
Leticia foi indicada ao Emmy Internacional, no ano passado, na categoria Melhor Atriz por sua atuação em "Onde Está Meu Coração", do Globoplay. "Fui indicada e, para mim, já foi super vitorioso. Achei incrível conhecer essa premiação, viajar para Nova Iorque, conhecer todas as pessoas ao rodar do mundo que trabalham e que fazem o que a gente ama fazer. Na minha categoria, eu estava concorrendo com uma sul-africana, uma inglesa, uma francesa [Lou de Laâge, a vencedora]. É muito poderoso ver quanto nosso trabalho conta sobre nós, como país, como nação, quanto as pessoas ficam conhecendo sobre nossa cultura, pensamento crítico, liberdade, sobre tudo. Eu achei muito lindo entender como é útil o que a gente faz", exalta.
Com mais de duas décadas de carreira, a atriz tem no currículo novelas como "Malhação" (2002), "América" (2015), "Além do Horizonte" (2013), "A Regra do Jogo" (2015), "Novo Mundo" (2017), "Segundo Sol" (2018) e "Nos Tempos do Imperador" (2021), todas da TV Globo, além de séries, filmes e peças. Com uma carreira consolidada, ela diz não ficar envaidecida com os elogios que recebe. "Fico sempre muito feliz com esses reconhecimentos. Trabalho desde os 8 anos, tenho muita estrada, então, nada me envaidece, sobe minha cabeça, mas fico feliz, comemoro. É legal estar perto também de quem ama e respeita isso", finaliza ela, que venceu o prêmio APCA ((Associação Paulista de Críticos de Artes de TV, com "Onde Está Meu Coração".  
Vida pessoal
Mamãe de Uri, de 3 anos, fruto da relação com o também ator Michel Melamed, ela conta se o pequeno já a reconhece na TV. "Por enquanto, ele vê muito desenho. De vez em quando ele me vê em algum flash na TV, em alguma coisa que eu tenho que assistir. Tem cenas que acho importante ver, até para aprender com meu próprio trabalho. Mas tenho feito coisas muito pesadas e que não são ideais para ele assistir. E acho que ele não tem muita noção, fala um mamãe aqui, outro ali". Ela também se derrete pelo filho. "Uri está maravilhoso, crescendo, se desenvolvendo, desafiando a gente todos os dias com sua inteligência. Ele é muito perspicaz. Sempre muito bom estar perto dele, tento levar ele para todo lugar que eu vou. Me sinto melhor com ele perto. Tenho descoberto um prazer enorme em ser mãe."
Ao falar sobre Michel, a atriz não poupa elogios, mas alerta que nem tudo na vida é tão perfeito como as pessoas acompanham na internet. "Michel é meu grande companheiro de vida, de jornada, é muito poderoso estar ao lado de um artista que admiro tanto, com quem eu posso conversar, está disposto a me acolher, cuidar. A gente dá força aos projetos de cada um. Agora estamos na fase de gerar nosso espetáculo juntos, além de um filho. Mas não acredito em nada perfeito. Sou muito autêntica no Instagram, acho que até por isso não sou tão atuante. A vida real toma muito nosso tempo, não dá pra ficar o tempo todo online. Mas é isso, vida real. Tem dias desafiadores no casamento, na maternidade, na vida, na rotina, com nossos familiares, tem a saúde das pessoas que a gente ama. Acho importante sempre desconstruir também essa imagem, mas é uma grande sorte termos conseguido formar essa família."