Amaury Lorenzo vive o peão Ramiro na novela ’Terra e Paixão’Manoella Mello / TV Globo
Rio - Amaury Lorenzo caiu definitivamente nas graças do público que acompanha "Terra e Paixão", na TV Globo. Aos 37 anos, o ator tem seu primeiro papel de destaque na emissora depois de participações menores em novelas como "Pega Pega" (2017) e "A Dona do Pedaço" (2019). Interpretando o peão Ramiro na obra de Walcyr Carrasco, o mineiro não esconde a felicidade com o carinho que tem recebido dos telespectadores. Ele enaltece, ainda, a parceria com Diego Martins, que vive o divertido Kelvin, com quem o capanga de Antônio La Selva (Tony Ramos) se envolve.
"Minha vida toda, (foi) o teatro colocando comida na minha mesa... No teatro, a gente tem um público de dez a 150 pessoas, no máximo. E, agora, o que muda para mim é que tem milhões de pessoas assistindo ao meu trabalho. Então, eu fico muito grato pelo carinho que recebo de todas as faixas etárias, de todas as pessoas. Eu estou muito feliz e ainda assimilando isso", celebra o artista, que iniciou a carreira aos 12 anos e já atuou como diretor, roteirista e bailarino.
'Kelmiro'
Amaury atribui o sucesso do personagem às cenas cômicas com o ex-garçom do bar que pertencia à falecida Cândida (Susana Veira). Ramiro, que vive repetindo o bordão "Eu sou macho", sofre ao não conseguir viver sua sexualidade plenamente. Até o momento, a dupla trocou apenas um selinho e muitos "apertõezinhos", deixando os fãs do casal "Kelmiro" na torcida por um "beijo de novela", ainda mais depois dos sonhos inusitados, alguns envolvendo casamento, que Ramiro teve com o rapaz na trama.
"Me surpreendeu, não no sentido de que não esperava isso. Me surpreendeu por ter sido tão rápido. Eu sou professor de artes cênicas, há muito tempo, de criança, jovens, adultos e melhor idade, e o amor é algo que une tudo isso. São personagens que estão falando de amor, de ser amado. Nesse país, onde as pessoas têm muito preconceito, isso é importante. A gente tem consciência disso. E, de repente, são personagens tão queridos. A minha resposta é amor."
E o galã faz suspense ao comentar a expectativa por uma cena de sexo entre o peão e Kevinho, que desmaiou ao flagrar Ramiro nu depois de um banho, no capítulo da última terça-feira (19). "A gente vai tentando furar a bolha. Mas nós não vamos ser ingênuos, existe um tempo específico na nossa sociedade brasileira. Aí, é o autor, é a direção... O que eu posso dizer de mim, enquanto ator, é que sempre que eu percebo a possibilidade de avançar um pouco com relação a isso, eu vou avançando devagarinho", afirma.
"O Walcyr vai fazendo curvas dramáticas para segurar esse casal de uma maneira tão interessante que a gente se diverte muito fazendo. As pessoas vão se apropriando desse personagem de uma maneira tão leve e divertida. E eu e Diego estamos sempre dialogando isso na cena, porque não se encerra no set. Quando a gente sai daqui, a gente percebe que as pessoas se identificam com esse casal", destaca Lorenzo. "São personagens entrando em lugares onde a gente imaginava que não entrasse tanto. É pra gente entender que, quando a gente fala de afeto e de amor, não tem baia. A gente consegue chegar em todos os lugares", completa.
'Tem que ter humor, coração, afeto'
Mas nem só de romance vive Ramiro, que iniciou a novela como o responsável pela morte do marido de Aline (Barbara Reis), protagonista da trama. Ele também apareceu com uma noiva. Para Amaury, as múltiplas facetas que o "matador" revelou ao longo dos mais de 100 capítulos representam um desafio valioso. "O ator tem que estar disponível para todas essas camadas, e eu gosto porque vai trazendo contradições. Quando o público espera que ele vai ser apenas um assassino, eu puxo o tapete e digo: 'Não, olha esse cara carente, precisando de afeto'. Para mim, isso é muito grande, parece que você amplia o trabalho e fica mais rico. O personagem precisa ser diversificado", opina.
Ele entrega que chegou a ficar preocupado com o futuro do peão diante dos atos violentos dos primeiros meses no ar. "Se eu continuasse naquele caminho frio, calculista, de assassino, acho que eu não duraria muito na novela. Porque o público ia dizer: 'Tem que acabar com esse cara, Walcyr'. E eu não teria muito sentido de futuro na novela. O que eu comecei a pensar? Tem que ter humor, coração, afeto. À medida que você diz para o público que esse cara comete erros porque ele é um sobrevivente, o público se identifica. Não que o público seja assassino, mas é que o público percebe que, na dificuldade da vida, ele precisa sobreviver."
"Eu preciso ser inteligente e estar com o ouvido aberto para perceber: 'O autor está sugerindo coisas importantes para mim, então vou agarrar'. O Walcyr foi dando essas pitadas, eu fui percebendo, a direção foi percebendo e a gente apresentando mais camadas para ele. Porque na vida é assim, a gente é cheio de camadas. Só que a gente tende a fazer juízo de valor: 'O Ramiro é bom ou é mau?' O Ramiro é um ser humano."
Clássico no teatro
Sucesso na TV e também nos palcos. Neste domingo (24), às 18h, o ator sobe no palco do Theatro Municipal de Niterói, na Região Metropolitana, para apresentar "A Luta", com entradas gratuitas. O elogiado espetáculo é baseado na obra "Os Sertões", de Euclides da Cunha, e garantiu uma indicação ao Prêmio Cesgranrio de Melhor Ator para Amaury. No mesmo dia, o ator também se apresenta no Teatro Café Pequeno, no Leblon, Zona Sul do Rio, às 20h30, com ingressos a partir de R$ 30 (meia-entrada).
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