Paula Cohen

Rio - Imagina estar no elenco de uma novela que marcou sua infância. É exatamente isso que aconteceu com Paula Cohen, que interpreta Miriam, no remake de "Elas por Elas", da TV Globo. Na versão original da trama, em 1982, a personagem se chamava Eva e era interpretada por ninguém menos que Nathália Timberg. Paula conta como está sendo viver a enfermeira responsável por trocar o filho de Helena (Isabel Teixeira) e Jonas (Mateus Solano) por outro bebê na maternidade, fala sobre relação com o ator Marcos Caruso em cena, comenta o assédio do público e muito mais. Confira!
- Interpretar uma personagem que foi vivida por Natália Timberg na versão original causa uma responsabilidade maior?

É uma grande honra! Nathalia é, sem dúvida, uma das maiores atrizes de todos os tempos. Sempre fiquei impactada com as suas performances e tenho a sorte de tê-la visto tanto na TV como no teatro. Tão magnética, tão precisa, genial! Uma grande referência para todas as atrizes deste país.
- A versão original de 'Elas Por Elas' serviu de referência para você?

Essa foi uma novela que me marcou na infância, principalmente a música e a abertura. Eu era bem pequena, mas guardo essa memória. Quando recebi o convite, assisti a reprise e me veio uma sensação muito familiar. Agora, essa nova versão é uma releitura. Não é uma reprodução, isso seria impossível, porque a sociedade mudou, a linguagem da televisão mudou, mas sinto que de alguma forma a sensação da novela original me acompanha. Em todo caso, sempre será uma nova obra. No teatro, por exemplo, isso acontece o tempo todo, textos clássicos sendo remontados com novos olhares constantemente. A mesma obra pode ser levada à cena por mil companhias distintas, sempre será outra obra, nunca a mesma!

- Miriam tem uma veia cômica, mas também carrega um mistério. Qual foi sua fonte de inspiração?

Miriam tem várias faces. Ela constrói algumas personas ao longo da trama para poder conquistar seus objetivos, fingir, esconder, dissimular. Neste primeiro momento ela teve uma tinta mais cômica, é só uma de suas tonalidades, outras virão. Por exemplo, neste momento ela acabou de viver uma tentativa de assassinato, foi enterrada viva e resgatada. Naturalmente ninguém sai desta experiência da mesma maneira, então a partir daí já veremos uma nova faceta da Miriam. Nesse sentido, acho que ela vai surpreender ao longo da trama. Sobre fonte de inspiração, eu mergulhei em alguns referências de filmes e livros, revi alguns de Bette Davis, revi o 'Coringa', entre outros. Um livro importante para o processo foi 'Mentes Perigosas', da Ana Beatriz Barbosa Silva.

- Sua troca com o Marcos Caruso deu muito certo. Já se conheciam antes?

Não, não o conhecia pessoalmente. Obviamente já tinha assistido muito o seu trabalho, não só na TV como no teatro. Sempre o admirei como artista. Deu muito certo mesmo a nossa química em cena. O que para mim é uma enorme alegria, estamos construindo juntos uma relação de parceria e confiança. Sempre que acontece isso com um colega é delicioso.

- Em seu currículo, existem alguns personagens cômicos, como a inesquecível Lota Pindaíba, de 'Nos Tempos do Imperador'. Para você, como atriz, o que é mais difícil: fazer o público rir ou chorar?

Fazer rir. A comédia é mais desafiadora. Ninguém finge que ri. A risada acontece e é um impulso absolutamente sincero. Para isso tem um tempo preciso, uma ciência própria. O drama é mais orgânico. Você se conecta com a dor da personagem e flui de outra maneira. Eu descobri o meu talento para a comédia depois de já ser considerada uma atriz dramática. A minha trajetória no teatro é marcada mais por papeis dramáticos que cômicos. Mas eu gosto mesmo é de papeis que transitam entre o dramático e o cômico, porque me parecem mais ricos e mais humanos pois assim é a vida.

- A TV causa uma visibilidade maior e, com isso, o assédio do público. Como lida com isso?

Eu gosto de expandir esse campo de comunicação. Fazer com que o meu trabalho dialogue com muita gente é algo que me estimula. Eu adoro ouvir o público. As pessoas me escrevem para passar suas impressões, falar sobre a trama, a personagem, eu acho isso um barato.

- Em tempos de redes sociais, como é a Paula na era digital?

Eu sou bastante presente nas minhas redes. Compartilho trabalhos, e também experiências pessoais do meu dia a dia. Administro as minhas redes de forma orgânica. Publico o que gosto, desde pílulas poéticas, momentos especiais, bastidores, dicas de obras, etc...

- Junto com o reconhecimento, vem também as cobranças, comparações e até críticas. Lida bem com o ônus da profissão?

Somos pessoas públicas, estamos expostos a um sem fim de opiniões, enaltecimentos e críticas. Faz parte do jogo. Sou a favor de uma crítica que construa pensamento, pois somos seres cheios de opiniões e a troca de impressões e olhares pode ser agregadora. O que não me interessa são manifestações superficiais, vazias, maniqueísmos e lacração. Acho que não acrescentam ao debate. Para realizar o meu trabalho não me pauto nem pelos prêmios que recebi nem pelas críticas. Gosto muito de contar uma história que vivi: uma vez fiz um espetáculo de Heiner Müller, dirigido por um diretor búlgaro genial, uma sumidade na Alemanha, chamado Dimiter Gotscheff. Fizemos “Hamlet Máquina”, um texto fascinante e assombroso, uma releitura de Hamlet no pós-guerra. Eu amava a montagem. Foi para mim um grande aprendizado, sabia que algumas pessoas amavam também e outras se sentiam muito incomodadas com a obra. No festival de Córdoba, na Argentina, fizemos o espetáculo e no final fomos vaiados por uma parte da plateia, enquanto outra parte do teatro aplaudia efusivamente. Isso me fez pensar que uma vaia pode não ser algo negativo porque carrega ali um incomodo genuíno, uma das funções da arte é mexer com as estruturas.


- Além da novela, você está no cinema interpretando Matilde, no filme 'Rodeio Rock,' e também se preparando para estrear no teatro com o espetáculo 'Finlândia'. Essa inquietude sempre fez parte da sua vida?

Sim, sempre. Sou uma atriz proponente, sempre vou atrás de realizar os meus projetos pessoais, assim como também os convites do mercado vão chegando e vou fazendo escolhas. O que não existe nesta profissão é um panorama estabelecido. Cada hora estamos realizando um trabalho diferente, num lugar diferente e temos que estar preparados para isso. É uma vida pouco convencional e muito desafiadora, a inquietude é força motriz do nosso oficio.