Thalita CarautaJorge Bispo / Divulgação

Rio - Thalita Carauta vive um momento desafiador na carreira com sua primeira protagonista em novelas, a Adriana de "Elas por Elas", na TV Globo. Com quase 30 anos de experiência em teatro, cinema e televisão, a atriz, de 41 anos, surgiu na pele da veterinária que reviveu traumas do passado com a reunião das sete amigas, depois de 25 anos afastadas. Assumindo o papel que foi de Esther Góes na versão original do folhetim de 1982, a carioca abre o jogo sobre o processo intenso de construção da personagem para a adaptação escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson, com direção artística de Amora Mautner.
"Eu posso dizer que a Adriana foi a personagem que me deu mais trabalho até hoje", confessa a artista. "É uma personagem que está muito na sutileza, na subjetividade, nas situações que vão chegando pra ela. Em cada esquina tem uma reviravolta na vida dela, então, eu vou descobrindo a Adriana de acordo com as demandas da cena. De maneira mais concreta, a inspiração vem de tantas mulheres que você vê no ônibus, eu vejo dentro da minha casa... Esses exemplos de mulheres como a Adriana, tem que ser um trabalho mais sofisticado, de procura muito minuciosa, humanidade realista. Sem sobra de dúvida, é a personagem que mais me exigiu e que vai continuar sendo construído até o fim", afirma.
Thalita não esconde a surpresa com a boa recepção que teve entre o público pelos dramas do reencontro com Jonas (Mateus Solano), de quem estava noiva na juventude, até ser traída pelo rapaz, que engravida Helena (Isabel Teixeira). No presente, o empresário decide se separar da ricaça para ficar com Adriana, que, agora, é dona de uma pet shop que administra junto com a filha, Ísis (Rayssa Bratillieri), e a divertida tia Marlene (Maria Ceiça). Para Thalita, a personagem carrega uma série de características que geraram a identificação dos telespectadores.
"Quando a gente constrói um personagem, a gente não sabe exatamente como vai atingir as pessoas. A Adriana foi essa mulher que muita gente conhece, ou que muita mulher se identifica. Batalhadora, uma mulher muito íntegra. Mesmo que você não seja, você conhece alguém parecida, uma mãe, ou irmã, que tem essa história de ser mãe solo, teve que ir pra vida muito cedo. Ela conseguiu se reerguer, construir uma vida, mesmo passando por abalos emocionais. Ela é uma mulher muito brasileira, partindo dessa perspectiva das mães solo, de como a mulher negra é tratada, de quem não é escolhida para casar, que sofre determinados abusos... Mesmo assim, não dá pra ter essa certeza de que o público vai torcer, então é sempre uma surpresa e uma expectativa quando você lança um personagem para o mundo", explica.
Família e romance
A atriz ainda chama a atenção para a maneira como o núcleo da personagem não apenas equilibra momentos cômicos e dramáticos, mas também oferece um reflexo da sociedade brasileira. "Outra representatividade muito forte é essa trinca de mulheres. Isso representa muito o Brasil em que a gente fala da família tradicional, composta por um homem, uma mulher e um filho, mas em que o homem nunca está presente", opina ela, que é mãe de Bento, de 10 anos, fruto do relacionamento com Aline Guimarães. Atualmente, Thalita namora a atriz Tamirys O'hanna.
"É um retrato da nossa família brasileira composta por mulheres. Começa de uma matriarca, a tia Marlene, que teve cuidar da sobrinha e da filha da sobrinha, enquanto a Adriana trabalhava para levantar a família inteira. Foi lindo ver essa construção de uma família que tem como seus arrimos essas mulheres negras e, hoje, tem a mistura. Você vê a Ísis como uma filha branca e isso muda a dinâmica, de como se educa a filha que tem um realidade completamente diferente da sua. A Ísis já é herdeira! Ela tem a pet, um apartamento, que a Adriana batalhou muito para conseguir e a tia Marlene mais ainda", acrescenta.
No momento, os espectadores acompanham o romance entre Adriana e Jonas, que enfrenta um divórcio conturbado de Helena, enquanto fica a dúvida sobre até quando o relacionamento entre a médica e o empresário vai durar. "A gente fica sempre especulando o que pode rolar, qual pode ser a virada de autor e nem eu sei responder. A Adriana está confiando piamente nesse cara, mas eu tenho minhas dúvidas", brinca a artista. "Tudo pode acontecer. Eu estou na mesma expectativa, estou doida pra caçar um spoiler (risos)."
Reconhecimento
Enquanto isso, fora das telinhas, Thalita Carauta também aguarda pelo resultado das votações do prêmio Melhores do Ano, em que concorre na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel de Mauritânia, em "Todas as Flores". Recentemente, a atriz esteve em dose dupla na TV Globo com a exibição da novela de João Emanuel Carneiro na faixa das 23h.
"A Mauritânia já tinha alguns elementos, logo no início, que a gente entendia que podia ser algo que fosse comunicar com as pessoas. Tem humor, é um personagem desenhado, destemido. Mas, ainda assim, por mais que houvesse a possibilidade de ter empatia do público, por outro lado, tinha a preocupação moral. É uma ex-garota de programa, 'atriz de filmes adultos', como ela fala, e a gente ainda vive num país que tem seus conservadorismos", reflete.
"A gente apostava que ela teria uma entrada com o público, mas nunca imagina a proporção. É muito legal quando você é indicada para um prêmio, porque é uma festa de celebração, de reconhecimento do trabalho que é tão nosso. Fazer parte de uma premiação como essa significa que você tocou muitas pessoas, é muito forte. Não é só o prêmio, muitas vezes, é resultado do que você conseguiu tocar no outro. O mais incrível é ser indicada porque toquei o coração das pessoas, essa é a finalidade da minha profissão", declara Thalita.
O sucesso com a personagem da novela original do Globoplay rendeu o convite para o trabalho atual da atriz, que ficou conhecida pelo grande público como humorista em produções como "Os Suburbanos", com Rodrigo Sant'Anna, e no extinto "Zorra Total". "Foi muita caminhada. Hoje eu trabalho com pessoas e estou inserida em projetos que nunca pensei que fosse possível", admite. "Fico feliz quando olho pra trás e vejo que vim até aqui pelo meu trabalho. Não sou herdeira, ninguém me colocou aqui dentro. Eu batalhei por cada coisa foi conquistada."