Samantha JonesMaria Magalhães/Divulgação

Rio - Aos 26 anos, Samantha Jones só tem o que comemorar. A baiana chama a atenção no horário nobre ao interpretar Zinha de "Renascer". Em entrevista a O DIA, a atriz fala sobre a carreira na arte, a construção da sua personagem e a descoberta da bissexualidade, fato que cruza com ficção e realidade.
Por pouco, Samantha não estaria no folhetim escrito por Benedito Ruy Barbosa. Na versão original exibida em 1993, a grande parceria de João Pedro era o Zinho, interpretado pelo ator Cosme dos Santos. A mudança veio no texto adaptado por Bruno Luperi.

"Não foi uma mera mudança de gênero. A Zinha traz para essa versão uma série de discussões novas. A presença de uma mulher num ambiente majoritariamente masculino; a suspeita de uma possível relação com João Pedro; a relação dessa mulher com sua autoestima; a relação desse entorno masculino com uma mulher de fala firme", explica Samantha, enfatizando a importância da alteração.
Apesar da mudança no gênero, a personagem segue na parceira de João Pedro, vivido por Juan Paiva, no trabalho na fazenda. A atriz afirma que já possuía um conhecimento superficial sobre a produção do fruto na região, mas foi durante as preparações para o papel que se aprofundou.
"Eu sabia algumas coisas, de modo geral. Uma parte da minha família é do sul da Bahia [Senhor do Bonfim] e morei lá na infância. Mas aprendi mais a fundo durante as preparações, em que tivemos a oportunidade de manusear alguns instrumentos e entender melhor sobre os processos e fases", explica.
A amizade com João Pedro quase se tornou romance, o que causou uma surpresa na atriz. "Confesso que não esperava. Primeiro porque sou super defensora da amizade inabalável de João Pedro e Zinha e acho que uma relação amorosa poderia trazer conflitos confusos", diz a atriz, que tem a cena do beijo entre os amigos como favorita.
"É uma cena que mostra uma tentativa revelando justamente a consistência dessa amizade. João Pedro quando sugere o beijo, já cogita que ele pode dar errado. Mas o que eu adoro mesmo é perceber que as pessoas visualizam muitas trajetórias possíveis. Isso é maravilhoso", comenta a artista sobre Zinha, que, após a tentativa fracassada de romance com João Pedro, começa a encarar a descoberta sobre sua sexualidade.
Bissexualidade
Samantha é aberta sobre sua bissexualidade e seu relacionamento com a atriz Manu Morelli. Para ela, tornar esse aspecto público é uma extensão natural de quem ela é.
"Eu passei a adolescência no interior e, nesse sentido, pensei que pudesse ser um assunto delicado, mas não foi tanto. Foi importante ter pessoas próximas que legitimam minha bissexualidade”, conta a baiana, que não vê sentido em esconder o namoro com outra atriz.
"Algo assim seria até um contrafluxo para nós. Tornar esse assunto público é quase inevitável. Tem uma parte da minha intimidade que gosto de preservar, claro, mas não tenho problema algum em revelar com quem me relaciono ou demonstrar afeto em público", diz.
Da paixão à profissão
A jornada de Samantha no mundo das artes começou cedo, nas ruas do interior da Bahia, onde teatro, literatura de cordel, circo e música se entrelaçavam em sua formação. Essa paixão a levou a fazer diversos cursos no estado e, posteriormente, a cursar atuação cênica na Unirio, no Rio de Janeiro, onde se formou em 2021.
Sobre sua trajetória até então na Globo, ela reflete: "Acho que cada trabalho teve seu tamanho e importância para o momento em que foi feito. 'Um Lugar ao Sol' foi meu primeiro trabalho na casa. Enfrentávamos a pandemia do covid-19, um momento super delicado em que o distanciamento era regra".
Samantha destaca ainda outra personagem importante na sua carreira: a Ciça de "Todas as Flores". "Ela foi, para mim, uma personagem labiríntica, dessas que a falha de caráter está mais associada a uma tentativa de alterar o que a aprisiona do que ao desejo pela perversão. Gosto de pensar nela como uma pessoa possível: nem só boa, nem só má".
A artista, que também é cantora, revela sua paixão pela arte: "Eu sempre fui intuitivamente artista. Comecei a escrever por causa da literatura de cordel. Eu escrevia o poema e depois colocava a melodia".
Animada, Samantha revela que o público ainda pode esperar muita emoção em "Renascer". "Parceria, grito e cara feia, paixão platônica e os desdobramentos disso tudo. Zinha também está à procura de si; da menina doce que há de existir junto com a de facão na cintura". E com um toque de esperança, ela conclui: "É meu quarto trabalho na Globo e acho que a Zinha vai ser a primeira a encontrar um lugar ao Sol".