Livro sobre Gilberto Braga escrito por Artur Xexéo e Maurício StycerDivulgação

Rio - Gilberto Braga é considerado um dos maiores escritores de novelas no país, com trabalhos de sucessos, como "Vale Tudo" (1988), "Dancin' Days" (1978), "Paraíso Tropical" (2007) e "Anos Rebeldes" (1992). No entanto, o que muitos não sabem é que a sua história daria um folhetim digno de horário nobre. Parte da sua trajetória na carreira e vida pessoal, incluindo tragédias familiares, foram reveladas na sua biografia, que chegou às livrarias recentemente pela editora Intrínseca, três anos após a morte do novelista aos 75 anos.

O livro "Gilberto Braga - O Balzac da Globo" foi idealizado e começou a ser escrito pelo jornalista Artur Xexéo. Com sua morte em 2021, poucos meses antes da de Gilberto, o também jornalista, e crítico de TV, Mauricio Stycer assumiu o projeto após um convite do biografado.

A obra percorre desde a infância de Gilberto na Tijuca até sua juventude em Copacabana, abrangendo suas experiências como professor de francês e crítico de teatro. Stycer destaca que os momentos mais surpreendentes revelados estão relacionados aos dramas pessoais, como o assassinato da avó paterna pelo marido, um fato inédito apresentado no livro, e a depressão da mãe após a morte do pai.

"A história do pai é muito forte porque quando ele morre, a família descobre que o padrão de vida que levava não era condizente com o salário do pai", explica Stycer, referindo-se aos indícios de que o provedor da casa, um escrivão de polícia, recebia um "dinheiro por fora", como o próprio Gilberto revelou anos depois.

"Tem um detalhe que ninguém contou, mas que coloquei no livro", destaca o coautor. "Gilberto queria muito colocar em uma novela a história de uma empregada doméstica que emprestou dinheiro para ajudar a família".

Referências

O novelista, que escreveu personagens lembrados até hoje, tais como a Júlia Matos, em "Dancin' Days", Maria Clara Diniz, de "Celebridade", e a inesquecível vilã de "Vale Tudo", Odete Roitman, levou algumas experiências pessoais para as suas obras.
"A Áurea de 'Dancin' Days' foi inspirada na sua mãe (Yedda), assim como o personagem de Mário Lago, Alberico, teve um pouco do avô paterno", revela o biógrafo. "Ele escreveu essa novela diante de um quadro na parede".

No livro, os autores lembram outras referências de Braga em suas novelas. O sobrenome de um amigo de infância na personagem Solange Duprat, interpretada por Lidia Brondi em "Vale Tudo" e detalhes de um conhecido diplomata em Odete Roitman (Beatriz Segall), são alguns exemplos.

Pioneiro na televisão

Além da representação de momentos pessoais, Gilberto trouxe para seus roteiros temas relevantes para a sociedade. Em "O Balzac da Globo", Xexéo e Stycer mostram como ele foi pioneiro ao tratar na TV, de forma inédita muitas vezes, de temas como racismo, sexualidade, e teve de enfrentar desafios nos tempos da ditadura.

"Na novela 'Brilhante', por exemplo, o personagem de Denis Carvalho era homossexual, mas a censura não deixava falar essa palavra. Ele sofreu com isso a novela inteira e reconheceu no final que, por ter proposto um tema ousado e a censura ter vetado, a compreensão da novela foi prejudicada", revela Maurício.

Artur Xexéo e Mauricio Stycer mostram ainda que o escritor, que tinha apenas a intenção de encontrar uma maneira de ganhar a vida, acabou revolucionando o mundo da teledramaturgia.

"O Gilberto renovou o nível do melodrama. Trouxe diálogos muito bons, com uma qualidade de texto excepcional, retratando a elite e classe média carioca de um jeito que as pessoas se identifiquem", comenta.

Produção do livro

Com 63 anos e 38 de carreira, Maurício Stycer escreveu o perfil biográfico do Silvio Santos e do Homem do Sapato Branco, mas nunca havia pensado em fazer uma biografia. Ele conhecia e acompanhava o trabalho do Xexéo, mas não sabia que estava escrevendo o livro.

"Quando comecei a fazer a pesquisa, encontrei uma quantidade enorme de matérias e colunas sobre a carreira do autor feitas por ele. Inclusive, eu trouxe várias para o livro, colocando o Xexéo quase como um personagem", conta Stycer.

A pesquisa envolveu entrevistas com cerca de 70 pessoas, proporcionando uma imersão nos bastidores das produções de Gilberto Braga, e ressaltou que poderia ter coletado um número de depoimentos muito maior. “Biografia tem muito isso. Toda pessoa que conheceu o biografado tem uma história para contar sobre ele”.

O coautor de "Gilberto Braga - O Balzac da Globo", que não quis revelar quais são os próximos trabalhos, faz questão de ressaltar a importância de Artur Xexéo em toda a construção do livro, desde o início até a sua conclusão. "É uma grande homenagem a Gilberto, mas também a ele".