Rio - Aplicar em poupança ou investir em renda fixa? Essa pergunta ganha força sempre que a taxa básica de juros da economia brasileira ganha musculatura. Fixada pelo Banco Central, a taxa básica é assim chamada porque serve de base ou referência para todo tipo de contrato — carnês, créditos, empréstimos, financiamentos. Hoje, a taxa está em 14,25% ao ano, acima da inflação oficial, em torno dos 10% ao ano. Por isso a pergunta: poupança ou renda fixa? Em tempo de inflação e juros altos, a matemática elementar depõe contra a poupança, que rende pouco mais de 6% ao ano. A primeira alternativa a ser considerada é a renda fixa, na forma de fundos de investimentos, que fazem parte do mercado de certificados ou títulos predominantemente públicos.
Esses papéis são vendidos pelo governo aos bancos e revendidos pelos bancos aos clientes. Assim, os bancos aumentam cada vez mais seus lucros, ao mesmo tempo em que financiam e ajudam o governo a aumentar cada vez mais seus gastos. No meio está você querendo entrar nesse “bom negócio”.
Imposto e administração
Mesmo a poupança sendo isenta de Imposto de Renda (IR), os fundos são de fato mais lucrativos, desde que o dinheiro fique lá no longo prazo (pelo menos cinco anos). No médio ou no curto prazo, esses investimentos cobram dos clientes IR regressivo (de 22,5% a 15%, dependendo da permanência da aplicação). Ou seja, a tributação sobre a rentabilidade é decrescente: quanto mais tempo o dinheiro ficar aplicado, menor a alíquota de incidência e menor o imposto a ser pago. Essas alíquotas são cobradas em maio, sobre os rendimentos de dezembro a maio, e em novembro, sobre os rendimentos de junho a novembro. Além do IR, também pesa na conta que os fundos cobram dos clientes a Taxa de Administração anual, a partir de mais ou menos 0,5% (em caso de aplicação inicial acima de R$ 50 mil) até mais ou menos 4% (para fundos com saldos menores). A caderneta também é isenta dessa Taxa Administrativa.
Daí que, para fugir da poupança e optar pelos melhores fundos, em busca de ganhos significativos, em geral, o investidor deve ter disponível mais de R$ 50 mil (de modo que possa exigir Taxa de Administração abaixo de 1 por cento) e deve manter o dinheiro aplicado por mais de dois anos (a fim de pagar menos imposto, no caso, a alíquota de 15%). O problema, do ponto de vista dos poupadores — como já vimos — é que mais de 80% deles têm saldo de até R$ 5 mil, dez vezes menos que o necessário — levando em conta esse exemplo, com essas condições.
Nem conscientes, nem alienados
Fazer o quê? Mesmo não sendo ainda poupadores plenamente conscientes, os brasileiros também não são poupadores meramente alienados. Não é justa a generalização de que a paixão nacional pela caderneta, mesmo em tempos de perdas, é sintoma de deseducação financeira ou desinformação econômica. Como se viu, os críticos dos poupadores não podem esquecer ou ignorar que, dentre as aplicações de baixo risco, são poucas as alternativas no mercado para ganhos significativos. Por isso — insisto — faz sentido, sim, iniciar o pé de meia com uma poupança, mesmo sabendo que ela é apenas uma proteção ou uma segurança para o dinheiro — no máximo, a melhor das piores aplicações. Importante será fazer o saldo crescer (mais com depósitos do que com juros) até que ele possa ser transferido para uma boa renda fixa.
Confiança de 'segunda classe'
Os poupadores mantêm a confiança na caderneta mesmo depois de o governo Dilma ter mudado o cálculo dos rendimentos. Regras para a remuneração dos depósitos de poupança, estabelecidas no artigo 12 da Lei 8.177, de 1991, foram alteradas pela Lei 12.703, de 2012. Assim, além da caderneta tradicional, aquela com rendimento médio de 6% ao ano, passou a existir desde de 4 de maio de 2012 uma outra caderneta, com ganhos menores. Essa “poupança de segunda classe” tem rendimentos fixados em apenas 70% da taxa básica de juros do Banco Central, a chamada Selic — sigla do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, que é o depositário fiel dos certificados ou títulos públicos, aqueles que o governo vende aos bancos e os bancos revendem aos clientes (formando o mercado de renda fixa).
O X da questão e dos saldos
Para a prova dos 9, sugiro que se faça o seguinte: em janeiro de qualquer ano, o cliente aplica uma quantia x na poupança e a mesma quantia x nos fundos. Nesse caso, basta esperar até dezembro, comparar os saldos, tirar as próprias conclusões e fazer as próprias escolhas. Por fim, para melhorar as conclusões e as escolhas, cabe procurar apoio e aconselhamento profissional junto a corretoras registradas pelo Banco Central do Brasil (www.bcb.gov.br).
Bom domingo e boa sorte.