Rio - A crise econômica fez mais 3,87 milhões de desempregados em um ano no país, atingindo, ao todo, 14,2 milhões de pessoas no trimestre encerrado em março de 2017. O número é recorde desde que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, iniciou em 2012.
O resultado divulgado ontem revela que a taxa de desemprego passou de 10,9% no trimestre até março de 2016 para 13,7% no trimestre até março de 2017 — também a mais alta já registrada na série histórica da pesquisa desde 2012.
A taxa de desemprego só não foi mais elevada porque 574 mil brasileiros migraram para a inatividade no período de um ano. O aumento na população que está fora da força de trabalho foi de 0,9% no trimestre encerrado em março ante o mesmo período de 2016.
O nível da ocupação, que mede o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, foi estimado em 53,1% no trimestre até março, o mais baixo de toda a série histórica.
O mercado de trabalho brasileiro perdeu 1,225 milhão de vagas com carteira assinada no período de um ano. O total de postos de trabalho formais no setor privado encolheu 3,5% no trimestre encerrado em março de 2017, ante o mesmo período do ano anterior, segundo os dados da Pnad Contínua.
O contingente de trabalhadores com carteira assinada no setor privado encolheu para 33,406 milhões de pessoas no trimestre até março, o menor patamar da série histórica da pesquisa.
Já o emprego sem carteira no setor privado teve aumento de 4,7%, com 461 mil empregados a mais. O total de empregadores cresceu 10,8% ante o trimestre encerrado em março de 2016, com 403 mil pessoas a mais. O trabalho por conta própria encolheu 4,6% no período, com 1,074 milhão de pessoas a menos nessa condição.
Houve redução ainda de 162 mil indivíduos na condição do trabalhador doméstico, 2,6% de ocupados a menos nessa função. A condição de trabalhador familiar auxiliar cresceu 0,5%, com 10 mil ocupados a mais.
Indústria, construção e comércio afetados
A indústria voltou a dispensar empregados. A atividade cortou 342 mil trabalhadores no período de um ano, segundo a Pnad Contínua. O total de ocupados na indústria recuou 2,9% no trimestre encerrado em março de 2017 frente ao mesmo período de 2016. A construção extinguiu 719 mil postos em março frente um ano antes, uma queda de 9,5% na ocupação no setor.
O comércio dispensou 233 mil no trimestre, recuo de 1,3% na ocupação no setor frente ao mesmo período de 2016. Houve corte de vagas na agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (menos 758 mil empregados, recuo de 8%) e outros.
A cada dia há menos vagas formais
Os dados do mercado de trabalho não refletem ainda qualquer sinal de recuperação da atividade econômica, afirmou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
“Os dados não são absolutamente nada favoráveis, não mostram nenhum sentido de recuperação do mercado de trabalho brasileiro”, declarou Azeredo.
Segundo ele, o resultado mais preocupante da divulgação é a extinção contínua de vagas formais. “Sem dúvida a notícia mais impactante é termos chegado ao nível mais baixo da carteira de trabalho desde 2012, quando a pesquisa começou”, disse ele, que acrescentou: “A pessoa que tem acesso à seguridade deixa de ter. A pessoa que tem acesso a plano de saúde deixa de ter. Quem tem acesso a seguro-desemprego vai trabalhar na informalidade e deixa de ter”, pontuou.