Por thiago.antunes

Rio - O episódio da delação premiada dos executivos da empresa JBS virou alvo de grande polêmica na economia brasileira. Não obstante a defesa intransigente do procedimento de sua eficácia pelo Ministério Público, sobretudo pelo que ainda não se conhece e pelo que ainda vai ser revelado, paira no ar a percepção comum de que o crime compensou no caso dos irmãos Batista.

As cenas na televisão dos irmãos Joesley e Wesley viajando em um avião a jato para os Estados Unidos e depois a fachada do edifício onde passaram a morar em Nova Iorque, sem contar as postagens recuperadas nas redes sociais do padrão de vida e hábitos exóticos familiares chamaram a atenção.

Toda essa ostentação parece um deboche com o cidadão comum brasileiro, que jamais foi agraciado com financiamentos de bancos públicos com juros reduzidos ou que motivou o governo por meio de seus braços formais a se tornar sócio do negócio.

A questão que ainda não foi esmiuçada é a falta de governança corporativa nas práticas de gestão dos irmãos Batista e demais administradores do Grupo JBS. Como dirigentes, todos sabiam dos conteúdos da delação e da capacidade explosiva que teriam no mundo político e econômico. Sabiam que, quando tudo viesse à tona, a cotação do dólar iria disparar, a bolsa de valores despencaria e o Brasil entraria em ebulição.

Eles venderam as ações que possuíam do próprio conglomerado empresarial e apostaram na desvalorização do câmbio, ganhando muito e, segundo especulações, lucrando mais do que provavelmente irão pagar no acordo de indenização. Usaram, supostamente, informação privilegiada e confidencial para benefício próprio e empresarial.

Por mais que o acordo na esfera da Justiça e suas consequências sejam reveladoras e certamente importantes, não se pode admitir que lucrem financeiramente com o fato. Cabe, então, à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e demais autoridades competentes apurarem os fatos. E também compete ao país debater se é correto que os irmãos Batista saiam ilesos desse rolo todo, pois continuam na boa vida, em uma das capitais do mundo, com dinheiro no bolso, livres e faceiros.

Gilberto Braga é professor de Finanças do Ibmec e da Fundação Dom Cabral

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