Rio - A interrupção das obras de Angra 3 agrava ainda mais a crise do sistema elétrico nacional. Sem falar nos prejuízos para as prefeituras de Angra dos Reis, Paraty e Rio Claro, com a redução na oferta de empregos, a interrupção dos investimentos e a diminuição no nível de arrecadação de impostos e encargos. A oferta adicional de energia que a usina proporcionaria aliviaria a sobrecarga do sistema afetado pelo baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas e acionamento das usinas térmicas.
A situação financeira que passa a Eletronuclear, responsável pelas usinas, se agravou com a não renovação do parcelamento da dívida da empresa com o BNDES para a construção de Angra 3. Com isso, as despesas mensais da Eletronuclear vão aumentar em cerca de R$ 30 milhões, provocando déficit em seu fluxo de caixa que comprometerá pagamentos a fornecedores, especialmente à Indústria Nucleares do Brasil (INB), responsável pelo fornecimento do combustível nuclear às usinas Angra 1 e Angra 2.
Para piorar, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA), em tramitação no Congresso, contingencia o orçamento para o exercício 2018 da INB. Somado os dois fatos, atraso do pagamento da Eletronuclear e contenção do orçamento, a INB terá dificuldades para fornecer, no ano que vem, combustível às duas usinas nucleares em operação o que pode levar à interrupção de Angra 1 e 2 com reflexos diretos no fornecimento de energia ao Sistema Interligado Nacional. E isso em 2018 que, segundo os prognósticos dos órgãos especializados em clima, será marcado pela falta de chuvas.
Diante desse cenário, é importante o apoio da Eletrobrás, dos ministérios de Minas e Energia e do Planejamento, do BNDES e do Congresso em propor medidas e apresentar sugestões que evitem crise maior ao sistema elétrico no próximo ano. E assegurem a continuidade operacional da indústria nuclear, estabelecida ao longo das últimas décadas e motivo de projeção do país no cenário tecnológico mundial.
Sérgio Malta é presidente do Conselho de Energia da Firjan