Raquel Xavier, moradora da favela do Quiabo, na Vila Kennedy: 'Vamos passar fome'
 - ONG Rio de Paz
Raquel Xavier, moradora da favela do Quiabo, na Vila Kennedy: 'Vamos passar fome' ONG Rio de Paz
Por MARTHA IMENES
O auxílio emergencial, pago a desempregados, trabalhadores informais e autônomos que ficaram sem fonte de renda por conta da pandemia, não será renovado. Sua vigência acaba no dia 31. A informação foi passada pelo presidente Jair Bolsonaro a seus apoiadores, que se aglomeravam no Guarujá, litoral de São Paulo, na quarta-feira. Aos apoiadores, o presidente reconheceu que os beneficiários querem a renovação do auxílio, mas argumentou que a capacidade de endividamento do país teria chegado ao limite.
O que é contestado pelo professor Mauro Osório, que é economista e diretor da Assessoria Fiscal da Alerj, o governo poderia emitir papel moeda (real) e estender o auxílio emergencial enquanto durar a pandemia de coronavírus.
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Ele explica que a emissão não impactaria a inflação e nem as contas públicas. "Injetar papel novo na economia não traria impacto inflacionário que comprometesse o endividamento", conta Osório.
O economista acrescenta que a extensão do auxílio ajudaria, inclusive, a aquecer a economia. "Os impostos no Brasil são indiretos, como IPI e ICMS, por exemplo. Isso quer dizer que essa população que recebe o auxílio quando faz qualquer compra esse dinheiro volta pro governo", complementa.
Já o consultor econômico Raul Velloso é taxativo: "Tem de prorrogar o auxílio emergencial, senão será uma burrice total". Velloso explica que o Brasil vive uma situação de guerra e que nestes momentos o endividamento público ou a emissão de moeda, por um tempo limitado, são necessários. "Qualquer efeito ruim que tiver será limitado no tempo, mas pode ser aceitável", acrescenta.
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"Qual o mal de emitir moeda se ela não tem custo? É acelerar os preços. Mas isso representa quase nada diante da capacidade ociosa da economia", avalia Velloso.
Sem comida
É importante destacar que dos 66 milhões de pessoas que receberam o auxílio, 24 milhões vão mergulhar na pobreza extrema com o fim do pagamento.
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Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que a maior parte das pessoas utilizou o dinheiro para comprar comida. Ou seja, com a continuidade da pandemia e o fim do auxílio emergencial, essas pessoas ficarão sem ter o que comer.
Segundo a pesquisa, mais da metade (52%) dos entrevistados recebeu o auxílio emergencial do governo. Desse total, 49% informaram que o uso mais frequente foi para compras de alimentos, roupas, produtos de higiene, limpeza ou outro tipo de bem de consumo.

A pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira foi feita a partir de 2 mil entrevistas realizadas pelo Ibope Inteligência em 127 municípios no período 17 a 20 de setembro de 2020.
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No RJ, 5,5 milhões de pessoas vão mergulhar na pobreza extrema
Em todo Estado do Rio de Janeiro, 5,5 milhões de pessoas receberam o auxílio emergencial do governo federal durante a pandemia e coronavírus. Esse número corresponde a 32% da população. Somente na capital, foram mais de 2 milhões de pessoas beneficiadas, totalizando 30,05% da população, segundo pesquisa da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Isso quer dizer que com o fim do auxílio serão 5,5 milhões de pessoas no estado mergulhadas na pobreza extrema porque, com a covid à solta, escolas estão fechadas e mães não têm onde deixar seus filhos; trabalhadores domésticos foram dispensados, pequenos negócios fecharam, o comércio reduziu seu efetivo e ambulantes e autônomos ficaram sem trabalho.
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"Se o auxílio emergencial acabar, eu e minha família podemos passar fome", lamenta a desempregada Raquel Xavier Soares, de 36 anos, que tem 7 filhos e o marido vive de biscate.