Caderneta de poupança acumula queda de poder aquisitivo em um ano
Brasileiros que aplicaram na caderneta perderam 7,15% de poder aquisitivo em 12 meses. Essa redução não era registrada desde outubro de 1991, quando o poupador perdeu 9,72%
Em 12 meses, a rentabilidade da poupança apresentou redução de 7,15%, o pior nível desde 1991 - Agência Brasil
Em 12 meses, a rentabilidade da poupança apresentou redução de 7,15%, o pior nível desde 1991Agência Brasil
Rio - A rentabilidade da poupança descontada a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses, no mês passado, apresentou redução de 7,15%. A queda de poder aquisitivo em níveis de 7,15% não era registrada desde outubro de 1991, quando o poupador perdeu 9,72% em 12 meses. Os dados são de um levantamento feito pela Economatica, plataforma de informações financeiras.
O estudo mostra também que o investidor vem tendo perdas de poder aquisitivo acumuladas há 12 meses, desde setembro de 2020. Inclusive, a perda de poder aquisitivo em agosto deste ano foi a décima segunda consecutiva. A maior sequência de meses em queda de poder aquisitivo, dentro da amostra, aconteceu entre fevereiro de 2015 e setembro de 2016, com 20 meses de perda de poder aquisitivo em 12 meses.
A Economatica lembra, ainda, que os poupadores tiveram outras duas sequências de 12 meses seguidos de queda de poder aquisitivo: a primeira entre os meses de novembro de 2002 e outubro de 2003 e a segunda entre os meses de janeiro de 2013 e dezembro do mesmo ano.
Retorno da poupança
O estudo demonstra a rentabilidade da poupança descontada a inflação medida pelo IPCA de 1990 até 2020 nas janelas de 8 meses (janeiro – agosto). Em 2021, os pesquisadores indicaram que a poupança teve recuo de 4,08%, valor que não era registrado para os oito primeiros meses de cada ano desde 1991. Nos oito primeiros meses de 1991 até 2021, a poupança só perdeu para a inflação em três oportunidades (1991, 2015 e 2021), conforme apontou a pesquisa.
Entenda a regra da poupança
A regra da nova poupança, válida para contas abertas a partir de maio de 2012, estabeleceu que, quando a taxa básica de juros, a Selic, for igual ou inferior a 8,5%, a poupança pagará 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR), atualmente zerada. No dia 4 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a Selic de 4,25% para 5,25% ao ano.
Sendo assim, com a taxa de juros atual, a poupança rende 3,675% ao ano, nível quase três vezes inferior à inflação, que acumula alta de 9,68% nos últimos 12 meses. Isso indica uma "desvalorização" do dinheiro depositado na caderneta, já que o valor empregado não aumentou em comparação aos preços.
Investimentos
Na avaliação da Economatica, o Ibovespa e o Bitcoin foram os únicos investimentos que registraram rentabilidade positiva entre todos os listados na janela de 12 meses. Nos 12 meses fechados em agosto passado, segundo o estudo, o Bitcoin apresentou rentabilidade de 248,76% descontada a inflação medida pelo IPCA. Entre as aplicações tradicionais, o Ibovespa foi o único que teve rentabilidade positiva com 8,99% descontada a inflação.
A pesquisa revelou também que todos os demais índices de referência apresentaram rentabilidade negativa em 12 meses. Já o ouro contabilizou o pior desempenho, com queda de -20,54% descontada a inflação e -12,85% em valores nominais, conforme revelou a plataforma de informações financeiras.
O estudo apontou que, no último mês, todas as aplicações tiveram rentabilidade negativa, sendo que o índice de fundos imobiliários (IFIX) registrou a maior queda, com -3,47% descontada a inflação e -2,63% nominalmente. O Bitcoin, no mês de agosto, teve rentabilidade positiva descontada a inflação de 11,62%
Entre 1º de janeiro e 31 de agosto, somente o Bitcoin mostrou rentabilidade positiva com valorização de 51,48% descontada a inflação, enquanto o ouro teve o pior desempenho, com queda de -10,61%. Excluindo o Bitcoin das três amostras, em todos os períodos, todos os índices tiveram rentabilidade negativa, exceto o Ibovespa que na janela de 12 meses registrou rentabilidade positiva acima da inflação de 8,99%.
Aplicações mais rentáveis
Especialista em finanças e educador financeiro, Washington Mendes explica que as aplicações dependem do perfil do consumidor. De acordo com ele, para entender as aplicações mais rentáveis, o investidor, diferentemente da poupança, terá que estudar. Para isso, o interessado pode buscar informações dentro da plataforma das corretoras ou fazer algum curso para área de investimentos, segundo recomendou Mendes.
Ele também exemplifica as opções para investir: "Fundos de investimentos, LC (Letra de Câmbio), LCI e LCA (Letras de Crédito Imobiliário e Agronegócio), debêntures, Tesouro Direto, criptomoedas, CDB (Certificado de Depósito Bancário), ações, fundos de ações, ETF's, derivativos, Certificados de Operações (COE) e investimentos internacionais, mesmo morando no Brasil".
O economista da Órama e professor do Ibmec RJ, Alexandre Espírito Santo, reforça que os investimentos dependem do perfil de risco de cada um. "Existem ótimas opções, melhores do que a poupança, sem dúvidas. Existem, por exemplo, fundos que remuneram a Selic, sem taxas de administração", explica, citando o fundo ÓRAMA Liquidez, "que pretende render Selic, com taxa de administração de 0,25% ao ano, índice muito baixo".
Cenário da poupança
Diante do contexto negativo em relação à rentabilidade da poupança, surge a dúvida se esse cenário vai continuar nos próximos meses. Conforme informou Alexandre Espírito Santo, vai depender se o Banco Central elevará a Selic acima de 8,5% ao ano. "Nossa projeção é que a Selic caminhe para esse número ano que vem, mas não ultrapasse. Assim, não vejo com bons olhos esse tipo de investimento", pondera.
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