Cartão de crédito tem sido dor de cabeça para muitos consumidores brasileirosijeab - Pixabay - Creative Commons

Um levantamento da Paschoalotto, empresa especializada em cobrança, apontou que 68% dos endividados brasileiros têm entre 25 e 51 anos, e 70% desse contingente é composto por mulheres. Os consumidores estão cada dia mais "apertados" com as dívidas, e diversos fatores contribuem para o não pagamento dos débitos. Além da inflação ter abalado a renda das pessoas, as altas taxas de juros dificultam a vida de quem recorre a empréstimos ou financiamento de bens de consumo. 
Os números da pesquisa consideram os mais de 5,5 milhões de devedores que passam pelo sistema da Paschoalotto mensalmente. O levantamento mostra ainda que o endividamento atinge, em grande parte, as famílias com uma renda mensal de até dez salários mínimos, que respondem por 76% do total.
Segundo o especialista em finanças Alexandre Prado, o aumento no número de mulheres assumindo posições de chefia das famílias e a publicidade direcionada a elas são fatores determinantes para o aumento da presença feminina nos índices de inadimplência do país.
"As mulheres, hoje, estão assumindo esse papel de chefiarem as famílias e de serem as principais provedoras dos lares. Tem também a questão da publicidade que é direcionada a elas, como a estética, o 'bem-vestir' e a cobrança que há pelos cuidados com a imagem. Talvez esse aspecto também pese no sentido de consumir mais", disse Prado.
As contas do dia a dia, com carnês, cartão de crédito e financiamentos ficando de lado são apontados como grandes causadores de um índice tão alto, mas o maior vilão, segundo Prado, é a falta de educação financeira dos brasileiros.
"Independentemente de ser mulher ou homem, o que há no Brasil é uma carência por educação financeira. As pessoas não sabem como lidar com o seu dinheiro, como controlar ou como guardar. O brasileiro não tem consciência da sua própria renda nem como essa renda se compõe ou deve ser gasta. Então o cartão de crédito, erroneamente, recebe o título de vilão, porque não honrando os pagamentos, e 'jogando para frente', as dívidas acabam se tornando uma bola de neve, muito por conta dos juros absurdos que incidem sobre esses valores que não são pagos", afirmou o especialista.
Saindo da 'ciranda financeira'
A operadora de caixa, Isis Pereira Silva, não conseguiu pagar o cartão de crédito e, hoje, vê a dívida virar uma bola de neve.
"Eu estava em um trabalho há três meses e encerraram o contrato antes do previsto, por conta da venda da empresa. Por isso acabei me endividando no cartão de crédito. Hoje, na empresa que eu trabalho, meu salário é muito menor e não consigo pagar o cartão. A dívida virou uma bola de neve, e não sei o que fazer", explica.
Para Haroldo Monteiro, professor de Finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), o Brasil apresenta índice de inadimplentes alto por conta do desemprego e da perda do poder aquisitivo da população, causada pela inflação. Segundo ele, a espiral inflacionária contribuiu para a redução da renda da população nos últimos 18 meses.
"A pessoa que tinha alguma dívida ficou realmente sem condições de pagar suas parcelas, porque o valor do débito sobe e as aparecem os problemas para efetuar os pagamentos, visto que os salários não acompanharam essa inflação no país", afirmou o professor.
De acordo com Monteiro, para não entrar nessa "ciranda" e não se endividar, o primeiro passo é trazer a educação financeira para dentro da própria casa.
"Todos devem estar com o objetivo de seguir um orçamento, porque a questão do endividamento passa muito pelo entendimento familiar. Sentar, conversar e viver com seus próprios meios. Você pode se endividar, mas tem que ter certeza que poderá honrar seus compromissos. O ideal, no melhor dos mundos, é que você separe algo em torno de 20% da sua renda para ter uma reserva de urgência, caso aconteça algum imprevisto, como uma doença, por exemplo", disse.
Monteiro alertou ainda para os riscos do uso do crédito. Ela frisou que, para o consumidor que já enfrenta os débitos e quer sair do vermelho, o melhor caminho é renegociar essas dívidas.
"Muito cuidado com o cartão de crédito. Não adianta pensar em usar o crédito para financiamento no rotativo, porque a taxa de juros é muito alta. Então, temos que efetivamente tentar não usar. Caso já esteja endividado, quando achar que não consegue mais pagar, o melhor é renegociar urgentemente a dívida com o banco, pegar um empréstimo em uma linha mais barata, quitar as dívidas e se organizar novamente", explicou o especialista.
Como os consumidores devem pagar mais caro pelas dívidas, outra possibilidade é tentar fazer portabilidade entre bancos para encontrar taxas menores nas instituições financeiras. No entanto, antes da migração, é preciso colocar na ponta do lápis se será vantajosa a mudança, já que será cobrado o Custo Efetivo Total (CET), tarifas e IOF.
* Estagiário sob a supervisão de Marlucio Luna