Cerca de quatro em cada dez pessoas (43%) que recebem o Auxílio Brasil estão inadimplentes — ou seja, deixaram de pagar alguma conta no mês passado —, enquanto 48% conseguiram manter as contas em dia, aponta pesquisa PoderData. Entre os que não recebem o benefício, a inadimplência é um pouco maior, chegando a 48%. Nesse grupo, 44% seguem com as contas em dia.
A pesquisa foi realizada de 14 a 16 de deste mês, já considerando o recebimento das parcelas no valor de R$ 600. No último mês, 47% da população deixou de pagar alguma conta. Outros 45% mantiveram os boletos em dia. Em maio, o percentual era de 50% a 43%, respectivamente. Os dados sugerem, portanto, que os beneficiários pouco sentiram o efeito do programa assistencial no que diz respeito à quitação de débitos.
Crédito consignado
O crédito consignado, empréstimo para beneficiários do Auxílio Brasil, previsto para ser liberado em setembro, deve ampliar o de brasileiros endividados. A União permitiu que bancos oferecessem empréstimos sem estipular teto para os juros e isentando o governo de responsabilidade em caso de superendividamento.
Paola Loureiro Carvalho, assistente social e diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, afirma que a medida destoa do ideal de combate à miséria.
"As razões que atestam a crueldade dessa medida superam o âmbito econômico e atingem o plano ético. É consenso consolidado que do ponto de vista de política pública de combate à pobreza e aumento de bem-estar, o crédito em geral não deve ser prioridade", avalia.
Segundo a especialista, o crédito consignado funciona quase como um programa de transferência de renda para o sistema financeiro, que se aproveita da situação de pobreza da população para aumentar os juros.
"Os consignados sequestram o caráter de proteção social dos benefícios ao entregar parte dos recursos ao sistema financeiro, em prejuízo da dignidade dos beneficiários. Sequestra o direito de se viver o futuro com dignidade ao submeter famílias em situação de desespero, em decorrência da miséria, à armadilha do empréstimo", afirma.
"A própria lógica de funcionamento dos mercados de créditos, com suas estratégias de marketing, induzirá a população ao endividamento. Maximiza-se o lucro deliberadamente, de maneira totalmente descolada do ponto de vista ético quando brasileiros, inclusive aqueles com limitados recursos socioemocionais em decorrência de insegurança alimentar/nutricional, tomam decisões alheias aos próprios interesses", completa.
Fernando Weigert, diretor da Neoconsig, diz que já há bancos oferecendo empréstimo com juros anuais de quase 100% em algumas cidades. De acordo com as regras anunciadas pelo governo, o valor da renda que poderá ser comprometida pelos usuários do Auxílio Brasil é de 40%, sendo que até 35% poderá ser utilizado para o empréstimo pessoal e 5% em saques e despesas do cartão de crédito consignado.
A pesquisa PoderData foi realizada entre 14 e 16 de agosto. Foram entrevistadas 3.500 pessoas com 16 anos de idade ou mais, em 322 municípios nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
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