Uma conta alta de energia é um problema muito comum e pode ter impacto significativo no orçamento familiar. A geladeira é um dos grandes vilões da conta de luz, ocupando o quarto lugar na lista dos 10 equipamentos que mais consomem energia, mesmo sendo um dos poucos eletrodomésticos que precisa ficar conectado à rede elétrica 24 horas por dia.
Mas, ao contrário do que muitos pensam, não é difícil descobrir o consumo do equipamento. Basta verificar quantos kWh (quilowatt-hora) gasta — número disponível na etiqueta na própria geladeira — e olhar quanto custa o kwh na conta de luz. “Normalmente as geladeiras ficam ligadas 24 horas por dia, durante os 30 dias. Então é só multiplicar o valor por 24 (horas) e depois por 30 (dias do mês)”, explica o engenheiro Ighor Ananias.
Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontam que o consumo médio de uma geladeira nova, com capacidade de 280 litros, é de 25 kWh por mês. Para um modelo de 360 litros, o gasto sobe para 31,5 kWh. Quando se pensa em um modelo de duas portas, com freezer acoplado e com capacidade de 400 litros, pode chegar a 58,1 kWh.
No entanto, esses valores são médios e consideram modelos novos, em perfeito estado de funcionamento e fabricados de acordo com as normas recentes de economia de energia. Geladeiras antigas podem chegar a demandar consumo de 150 kWh para permanecer em funcionamento.
O mestrando em Sociologia Política Gabriel Torres, de 26 anos, mora sozinho há mais de um ano. Ele conta que está sempre buscando equilibrar as contas, porque os horários das aulas não o permitem exercer atividade remunerada. Com o tempo, percebeu que a conta de luz era o verdadeiro problema no fechamento do mês e que a sua geladeira era a grande vilã da fatura.
“Percebi que o gasto maior vinha da geladeira, porque não tenho o costume de usar o chuveiro elétrico. Só podia ser dela, porque é um modelo mais antigo que ganhei de uma tia. Não tinha como comprar uma geladeira nova. Quando fiz o cálculo, foi certeiro”, contou.
Entre uma dica e outra, Torres percebeu que nenhuma conseguiu realmente ajudar: “Tentei fazer um esquema que me falaram de desligar a geladeira durante um certo período de tempo no dia e depois religar, mas não deu muito certo. Nos dois meses em que fiquei tentando fazer isso, a minha conta de luz veio mais alta que de costume”.
O caso de Torres mostra que há muitos mitos sobre como tentar manter o consumo de energia da geladeira baixo. A aposentada Joelma Siqueira, de 67 anos, também acreditava que ligar e desligar o eletrodoméstico faria diferença na conta de luz, até ter uma surpresa desagradável.
“No primeiro mês deu certo. Mas no mês seguinte, a minha geladeira estragou. Foram mais de sete anos com ela me fazendo companhia. Chamei o rapaz que mora perto de casa, que sabe consertar geladeira pra tentar resolver, mas não teve jeito. Ele me indicou comprar outra, porque aquela já não prestava mais”, contou a aposentada.
O engenheiro mecânico Ighor Ananias destaca que, para garantir um baixo consumo da geladeira, o ideal é evitar abrir a porta sem necessidade. O clássico "abrir a porta para pensar" prejudica eficiência energética da geladeira. Isso porque o ar frio interno escapa e o ar externo, que está em uma temperatura mais elevada, entra, fazendo com que o motor tenha que trabalhar mais para voltar a temperatura ideal.
"Outro costume a se evitar é o de deixar uma roupa atrás da geladeira para secar. A grade traseira da geladeira tem a função de trocar calor com o ambiente e a roupa atrapalha a corrente de ar na região, o que interfere diretamente no bom funcionamento do equipamento", alerta.
Da mesma forma, manter o espaçamento da grade da geladeira para a parede de acordo com o recomendado pelo fabricante é fundamental para uma boa troca de calor. "Além disso, dentro da geladeira o ideal é não obstruir as saídas de ar para que o ar gelado circule de forma mais uniforme entre os alimentos. Nas geladeiras mais novas também é possível regular o termostato (sensor que controla a temperatura) de forma mais eficiente, reduzindo a potência em dias mais frios ou quando a geladeira está mais vazia".
O especialista explica ainda que é preciso sempre conferir se o eletrodoméstico está funcionando de maneira correta e, que um ponto extremamente importante na manutenção da geladeira é garantir a correta vedação da borracha da porta. “Um teste rápido e prático é posicionar uma folha de papel onde a borracha toca e fechar a porta: se a folha cair indica que a borracha não está vedando adequadamente. Além disso, de forma geral, é manter a geladeira limpa e não tampar as saídas de ar internas”, explicou.
Como escolher uma geladeira econômica?
Fernanda Pontes, de 32 anos, está noiva e esperando o Black Friday — dia que inaugura a temporada de compras natalícias com promoções em lojas e grandes redes varejistas — para comprar uma geladeira para a sua casa nova. Segundo a nutricionista infantil, ela e o noivo estão há dois anos economizando para os preparativos do casamento e sonham em ter uma geladeira moderna.
"A gente lutou muito para conseguir juntar o nosso dinheirinho. Lucas fala que quer, de qualquer jeito, uma de 614 L. Eu disse que não tem necessidade, sendo só nós dois e o nosso filho de dois anos. Mas, na verdade, também fico sonhando por uma geladeira dessas. Sei que pode acabar implicando na conta de luz, mas não há nada como realizar os nossos sonhos", contou.
De acordo com Ighor Ananias, é preciso tomar cuidado na hora da escolha: "Na hora de adquirir uma geladeira nova, o consumidor deve atentar para a etiqueta de eficiência, verificar se ela é nível A, com um menor consumo kwh. É bom ter em mente que geladeiras que comportam um maior volume gastam mais energia, mesmo que estejam vazias, então comprar um eletrodoméstico que seja incompatível com a sua real necessidade vai gerar um gasto de energia desnecessário", disse.
O engenheiro mecânico também chama destaca que o consumidor deve analisar se o equipamento realmente está de acordo com as suas necessidades do dia a dia. "A etiqueta de eficiência em si já ajuda muito na escolha de uma geladeira econômica. Mas entre as de nível A, uma geladeira com menor consumo em kWh será mais econômica. Além disso, o ideal é escolher uma com volume interno compatível com sua necessidade: uma pessoa que mora sozinha provavelmente não precisará de uma geladeira grande", alerta.
Especialistas também recomendam que a tecnologia do modelo "Inverter" controla o funcionamento do compressor de acordo com a quantidade de alimentos armazenados e com a frequência do abre e fecha da porta. Com isso, a geladeira só funciona com mais potência quando é realmente necessário e de forma automática, evitando desperdícios de energia.
Luiz Felizardo Barroso, presidente da Cobrart Gestão de Ativos, orienta o consumidor anotar todas as suas despesas, por menor que elas sejam, além de evitar compras por impulso. “Na hora de escolher a geladeira saiba se o preço pedido e se as condições de pagamento propostas estão compatíveis com as suas possibilidades financeiras, naquele momento, bem como sua capacidade de endividamento, a qual nunca deve ser exaurida”, disse.
"Resista aos apelos das propagandas, de produtos muitas vezes enganosos. Escolha um modelo que lhe satisfaça plenamente e que atenda às suas necessidades, pois do contrário se tornará um monstro em sua cozinha", concluiu.
Para o melhor preço, é importante pesquisar em diferentes lojas, aguardar liquidação e utilizar, até mesmo, aplicativos que sinalizam quando o desconto é vantajoso.
Como economizar dinheiro?
A especialista em economia doméstica Cláudia Custódio ressalta a importância do planejamento do orçamento familiar em tempos de crise — e com inflação —, inclusive aproveitando para ensinar educação financeira para as crianças.
“O primeiro passo para uma economia doméstica saudável é se organizar. É importante começar fazendo um levantamento de todas as despesas fixas como água, luz, aluguel, para se ter uma ideia real do tamanho das despesas diante das receitas”, disse.
“Outra dica é a contenção nos gastos com supermercado, com a elaboração de lista com apenas os itens básicos, fazendo ao máximo para não fugir do programado para as compras”, explicou
A profissional ainda chama a atenção para a pesquisa que deve ser feita antes de adquirir qualquer produto: “Se comprar algo novo realmente for necessário, pesquise. Isto não vale apenas para preços, mas também para o produto em si. Alguns produtos são caros não pela sua qualidade, mas sim pela marca que consta nele. E, por mais que alguns realmente justifiquem o preço, é preciso se perguntar se aquelas características são realmente necessárias para o seu uso”.
Atenção com a etiqueta
Antes de comprar uma geladeira nova é importante ficar de olho em alguns parâmetros do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). A agência faz uma avaliação dessa categoria de produtos para o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), tendo como objetivo elencar os modelos com melhor eficiência energética, ou seja, aqueles que não vão pesar no bolso do consumidor no fim do mês.
Em julho, o Inmetro determinou que todas as geladeiras vendidas no Brasil devem trazer a nova Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (Ence). Ela é obrigatória tanto para os refrigeradores produzidos no território nacional quanto para os importados.
Entre as novidades da etiqueta, está a inclusão das três subclasses que indicam a diferença de consumo de até 30% entre os produtos mais eficientes. Há, ainda, a introdução de um QR Code que, por meio de um código virtual, mostrará ao consumidor o status do registro do refrigerador, podendo ser ativo, inativo, suspenso ou cancelado.
"O QR code se tornará uma ferramenta cada vez mais importante na interação do consumidor com a etiqueta, dando a ele uma série de informações que podem ajudá-lo na decisão de compra do equipamento mais eficiente energeticamente e obviamente mais barato em termos de consumo", destacou o Inmetro.
A etiqueta foi atualizada pelo Inmetro, mas a antiga ainda estará em circulação, o que pode causar confusão para muitas pessoas na hora da compra. Basicamente, ela trazia categorias de A a E, agora vai ter A+++, A++ e A+, que indicam os modelos que consomem, respectivamente, menos 30%, 20% e 10% de energia do que o tradicional "A".
De acordo com o órgão, "a pretensão é alertar o consumidor sobre qual produto realmente gasta menos energia e incentivar que a indústria adote novas tecnologias em seus produtos para que se tornem mais eficientes". As lojas terão o prazo de um ano para vender os produtos com a etiqueta antiga que possuem no estoque.
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