Lula se encontrou com reitores de universidades e institutos federais nesta quinta, 19Marcelo Camargo/Agência Brasil
'A gente podia nem ter juros', afirma Lula, em nova crítica ao Banco Central
Presidente diz ver exagero na meta de inflação fixada pelo Comitê Monetário Nacional para 2023
Brasília - O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a criticar o Banco Central pela política de juros e inflação. Ao reprovar novamente o fato de a autoridade monetária ser independente, Lula apontou um descompasso entre a Selic e o IPCA, que mede o aumento dos preços, e disse que "a gente poderia nem ter juros". Na quarta-feira, 18, em entrevista à Globo News, o chefe do Executivo criticou a meta de inflação estabelecida pelo Comitê Monetário Nacional (CMN) e disse que ela obriga um "arrocho" na economia.
"Qual é a explicação de a gente ter um juros (Selic) de 13,5% hoje? O Banco Central é independente, a gente poderia nem ter juros", disse Lula em encontro com reitores de universidades e institutos federais na manhã desta quinta-feira, 19, no Palácio do Planalto. "A inflação está em 6,5%, 7,5%, por que os juros (Selic) estão a 13,5%?", questionou, em discurso para reitores de universidades federais, na manhã desta quinta-feira, 19.
A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro do ano passado, fixou a Selic - taxa básica de juros - em 13,75%, e não 13,5%, como disse Lula. A inflação acumulada em 2022 foi de 5,79%, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O presidente do BC, Roberto Campos Neto, justificou o estouro da meta à elevação do preço do barril de petróleo e à retomada da economia, entre outros fatores.
Lula disse na quarta-feira, 18, ver exagero na meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 3,25%, com intervalo de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. "Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%. Quando faz isso, é preciso arrochar mais a economia para atingir aquele 3,7%. Por que precisava fazer 3,7%? Por que não faz 4,5%, como fizemos [nos mandatos anteriores]? A economia brasileira precisa voltar a crescer", afirmou o presidente.
Aprovada pelo Congresso em 2021, a aprovação da autonomia formal do BC estabelece, entre outros pontos, mandatos fixos para a diretoria. Essas mudanças, segundo o Banco Central, reduzem a influência política sobre seus dirigentes, que determinam o patamar da Selic (a taxa básica de juros da economia), atualmente em 13,75% ao ano. Com esse instrumento, o BC controla a quantidade de dinheiro na economia e o impacto que isso tem sobre os preços.
Além disso, a autonomia é vista como um sinal positivo para o mercado financeiro - em especial, investidores internacionais. Em tese, com mandatos fixos os diretores do BC teriam mais condições de manter a continuidade da política monetária, independentemente do presidente da República eleito. Ela blinda, por exemplo, pressão contra subir a taxa básica de juros (o que encarece os empréstimos) em momentos que a inflação estiver alta, mas a economia cambaleante.
Em mais uma crítica ao mercado financeiro, Lula disse que "a única coisa que não é tida como gasto pelo mercado é o pagamento de juros da dívida" que, segundo ele, é visto como investimento. De acordo com o presidente, há uma desconfiança do mercado "em tudo o que a gente fala de investimento". "Eu não vejo essa gente falar uma vez em dívida social."
Na avaliação de Lula, não se pode aceitar a negação do Estado. "O Estado é importante, porque o Estado pode ser regulador da justiça social neste País", comentou, destacando a importância de se fazer uma reforma tributária.
O presidente ainda citou a dívida de estudantes no Fundo de Financiamento Estudantil do Ensino Superior (Fies). "O País tem tolerância com ricos que devem, por que não com jovem que se formou e pode pagar?", disse, e emendou: "Uns conseguem juntar bilhões, outros não conseguem juntar tostões."
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