Chicão conversou sobre o futuro e oportunidades no RioOnde Produções/SmartSummit

O Rio de Janeiro sediou nesta quinta, 2, e sexta-feira, 3, o Smart Summit — um evento de investimentos e economia. O prefeito da cidade, Eduardo Paes, estava confirmado, mas não pôde comparecer. Chicão Bulhões, Secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação da Prefeitura, falou sobre a economia do Rio. Entre os assuntos abordados, estavam dicas para novos empreendedores, investidores e aqueles interessados na economia carioca.
Em palestra, Chicão afirmou: "Rio quer ser a capital da tecnologia do país e da América Latina". Ele explicou que o projeto "Programadores Cariocas " está formando 5 mil jovens com bolsa para que haja mão de obra qualificada em todos os locais da cidade. "A gente vai avançar um pouquinho mais esse ano com projetos sociais. O Rio está voltando a ter uma nova cara", disse. "A gente tem muita pressa para entregar resultado, a gente fala sim na linguagem de mercado, não atoa o prefeito me colocou lá, pra gente ter essa interação", explicou.
Sobre a Invest Rio, Bulhões afirmou: "Criamos para ter um contato mais ativo de venda no Rio de Janeiro lá fora. Dois anos e temos mais dois para continuarmos ouvindo o mercado e abraçarmos o mercado financeiro novamente na cidade. Não queremos perder mais pra São Paulo do que a gente já perdeu. Tem coisa que não adianta competir. Vai ser melhor lá e beleza, mas tem vários que dá para o Rio ser epicentro da conversa: startup, digital, economia verde.. e tenho certeza que o Rio não só quer ser mas será o epicentro dessas discussões", afirmou.  
Chicão Bulhões, Secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação da Prefeitura do Rio - Onde Produções/SmartSummit
Chicão Bulhões, Secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação da Prefeitura do RioOnde Produções/SmartSummit
Guilherme Benchimol, fundador da XP e carioca, comentou que sonha em voltar ao Rio, contudo vê pouco estímulo para o morador do Rio apostar em um negócio próprio para trabalhar com o seu negócio. "Acho que a dificuldade aqui é a vocação do empreendedorismo. As pessoas que têm esse interesse foram saindo daqui para buscar oportunidades", afirmou o CEO da empresa, que se mudou para São Paulo.
De acordo com ele, o que falta ao Rio é "voltar a formar grandes empreendedores". "E que queiram ficar aqui. Isso é o que gera esperança para os jovens", afirmou. Ele pontou ainda sobre o tratamento dispensado ao cliente no setor de serviços. "Isso impacta na economia aqui. É necessário mais gentileza, mais comprometimento", destaca.
Para Benchimol, é difícil, porém possível o Rio retomar o protagonismo que já teve no passado dentro da economia.
Guilherme Benchimol, fundador da XP, em palestra com Bruno Hora, CMO da InvestSmart, e Marcel Navarra, sócio diretor da empresa - Divulgação/SmartSummit
Guilherme Benchimol, fundador da XP, em palestra com Bruno Hora, CMO da InvestSmart, e Marcel Navarra, sócio diretor da empresaDivulgação/SmartSummit
Questionado sobre o porquê de manter o escritório no Rio, Bruno Hora, sócio e CMO da InvestSmart, empresa  credenciada pela XP que assessora investidores de todos os tamanhos, disse que é justamente para incentivar a cidade. "A gente tem o propósito de formar empreendedores aqui e resgatar o mercado financeiro carioca", afirmou.
Samyr Castro, fundador e CEO da InvestSmart, completou, dizendo que "o sonho é que cada um possa ter um assessor de investimentos". A respeito do empreendedorismo, ele apontou: "O Rio é uma oportunidade incrível para quem quer montar uma empresa. As coisas estão baratas, os aluguéis, as lojas... Nunca foi tão barato montar uma sala comercial, principalmente porque muitas pessoas aderiram ao home office". Castro explicou ainda que é contra o método de trabalho em casa para empresas que ainda não são estáveis.
Chicão Bulhões e Samyr Castro - Onde Produções/SmartSummit
Chicão Bulhões e Samyr CastroOnde Produções/SmartSummit
Castro aponta que "o Rio tem que pensar em algo diferente". "A gente está vendo nosso Estado, nossa cidade, sair de ser uma das grandes cidades... Há cidades no interior de São Paulo que têm uma riqueza parecida. Acho que a parceria público-privada poderia ajudar, sim, mas depende da parte pública desburocratizar algumas coisas. Eu adoraria poder ajudar o Rio, ter o setor público perto da gente e poder ajudar o Estado a voltar a ser protagonista", afirmou.
Chicão disse que o Rio está muito na linha da cidade como capital da tecnologia e da economia verde. "Avançamos muito em temas importantes da economia verde. Por exemplo, incentivamos muito o mercado de voluntario de credito de carbono. Também enviamos pra câmara um projeto de lei de redução de impostos", contou. "Temos grandes empresas, temos tecnologia e pessoas gerando conhecimento. Às vezes a gente só precisa dar um empurrãozinho. Então o centro de energias e finanças do amanhã é um hub que junta mercado e pesquisa", apontou.
O secretário afirmou ainda que a prefeitura está motivando no ISS na cadeia de mercado: "Incentivamos que qualquer setor que se preocupe com certificação da maneira correta, possa procurar a prefeitura e até o limite de R$ 60 milhões vai fazer projetos e pode abater do ISS".
Além disso, ele contou que haverá uma mudança regulatória para o uso de terra e espaço urbano do Rio de Janeiro. A ideia da prefeitura é trazer as pessoas para morarem no centro, mas precisa ser economicamente viável e também atrativo. "O valor do metro quadrado do centro não pode ser impossível, não pode afastar o investidor. O prefeito vai fazer um anúncio em detalhes, porém vocês podem ter certeza de que vai ser extremamente ousado, vamos nos livrar de alguns paradigmas antigos do uso de terras no Rio", explicou.
"Estamos há dois anos retomando os projetos pra cidade, temos grandes eventos de tecnologia pra acontecer. No porto, empresas de tecnologia vão pagar menos impostos, temos oportunidade, escritórios vazios, vai sair do papel e começar a mudar ano que vem, então corre para aquela região", recomendou aos investidores. "E pessoas também vão morar na região. Já tem 6 empreendimentos novos subindo", contou.
Para o Centro da cidade, ele prometeu que iriam avançar na inovação. "Vai ser desafiador pro mercado entender o que aconteceu ali, mas vai valer a pena. Olhem pro Centro e fiquem atentos a essas mudanças", alertou.
Chicão ainda ressaltou sobre o projeto "Rio Cripto", onde impostos podem ser pagos com criptomoedas. "Então se a sua empresa faz isso, pode buscar a Fazenda e ofereça esse serviço para o seu cliente", recomendou.
O secretário adiantou também que a Prefeitura do Rio vai lançar um portal onde será possível abrir uma empresa online em 45 segundos: "Acabou a consulta prévia de local. Façam onde vocês quiserem, porém sejam formais com a Prefeitura do Rio de Janeiro. No fundo, é uma nova forma da cidade interagir com ela mesma."
Novos empreendedores
Para Castro, o mais importante ao se tornar um empreendedor é ver uma dor: "É você pensar, o que está faltando na cidade? Onde posso entrar em um nicho mais específico? Tem muitos setores, mas o primeiro passo é ter um planejamento".
Ele explica ainda que, para empreender, é preciso encontrar algo que saiba fazer. "Eu sou muito contra investir em coisas que não tem ideia. Por exemplo, não tem sentido ser um advogado e querer uma empresa que vende software. Não gosto muito de pensar no setor, mas sim o que você sabe fazer muito bem e como consegue escalar aquilo ali", explica.
Como se tornar investidor?
Para aqueles que desejam começar a investir, mas não sabem como ou acreditam que não possuem dinheiro suficiente, Castro afirma que "o segredo não está no valor, na quantidade, e sim no tempo."
Com dados, ele apontou que a cada 100 brasileiros, após trabalharem 40 anos, só cinco conseguem chegar à independência financeira, e apenas um vai ficar rico. Ou seja, 95% dos brasileiros ficarão pobres após 40 anos de trabalho. "Isso acontece por falta de consciência em poupar e educação financeira. Hoje, se você pega um jovem de 18 anos, que começa guardando R$ 100, ele chega aos 60 com mais de 600 mil", explica.
Castro também apontou que a partir de R$ 10 já é possível começar a investir e em bons produtos. "A principal dica que eu deixo é que os brasileiros abram uma conta em corretoras independentes para que comecem a poupar. Pode começar com produtos conservadores, que não precisa entender muito sobre o assunto e pode resgatar a qualquer momento. É tipo uma poupança, mas rendendo muito mais", explica.
Para ele, é necessário que o dinheiro saia da famosa poupança e seja aplicado em fundos de renda fixa mais rentáveis. "Depois que ele avaliar o perfil de investidor dele, pode começar a ver coisas de maior risco. Não adianta, quanto maior o risco, maior o retorno", destaca.
Em comparação com os bancos clássicos, ele explicou que os produtos são caros, e as corretoras independentes já democratizaram isso. Ou seja, com R$ 100 ou R$ 10 milhões, se tem acesso ao mesmo produto, fazendo com que qualquer pessoa consiga ter uma boa carteira. "E ainda tem a Selic próxima de 14%. As pessoas ganham 7% ou 8% na poupança. Aplicando na Selic, ganham 13% ou 14% sem risco", explica.
Economia do Brasil
Com a troca de governo neste ano, saindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a entrada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), muito se falou sobre a economia no país e as mudanças que podem acarretar.
Para Pablo Spyer, economista e CEO da Vai Tourinho, também presente no evento, "enquanto em 2022 a preocupação era a inflação, este ano é a defasagem".
Para ele, os principais pontos a serem observados são a inflação, independência do Banco Central (BC), as reformas e o arcabouço fiscal.
Spyer diz que o novo governo é bem visto mundo a fora e atrai dinheiro para o Brasil. "Estão dando o benefício da dúvida. Internamente, claro, talvez os investidores tenham começado com um pé atrás. Tem o viés da esquerda, interferência nas estatais, mas as declarações do Haddad tranquilizaram os investidores", pontua, citando as prioridades do ministro de criação de regra fiscal no lugar do teto de gastos e avanço da reforma tributária.
"Temos um dos sistemas tributários mais complexos do mundo. As empresas gastam 1.500 horas por ano para declarar imposto no Brasil. Nenhum lugar do mundo gasta isso tudo. O tempo médio nos tribunais do Brasil com processos fiscais é de mais de oito anos anos. Os valores envolvidos são metade do PIB do país", apontou.
Spyer reforça que é necessário que o Brasil cuide do aspecto fiscal, pois o "benefício da dúvida" pode dar lugar a preocupações e receios, fazendo com que os investidores estrangeiros, se não virem mudanças concretas, prefiram outros países. "Então precisamos comprovar nossas boas intenções e feito isso o Brasil está condenado a crescer", conclui.
Ele se mostra otimista com o Brasil: "Acho que a gente vai superar as estimativas de crescer de 1 a 1,5% ao ano. A gente vêm batendo essas estimativas há muito tempo. Pode parecer um PIB pequeno se comparado com o passado, mas se compararmos com o mundo, por exemplo,  com os Estados Unidos, que devem crescer 0,5%, é muito bom."
Spyer aponta ainda alguns fatores positivos para a retomada do crescimento econômico:
"O setor de serviços está voltando com força. Agronegócio deve ter outra safra recorde. A gente obviamente vai sentir a desaceleração do planeta, mas a reabertura da China, que é nosso maior parceiro comercial, nosso maior cliente, é muito positiva para nós, e me faz acreditar que vamos crescer mais do que o mundo acha", afirmou.
Para ele, o maior desafio do Brasil é o quadro fiscal. "A gente precisa correr com as reformas e definir o novo arcabouço, que vai substituir os tetos dos gastos e sinalizar para os investidores estrangeiros que a gente não vai explodir com as contas públicas, que temos responsabilidade fiscal e isso vai atrair ainda mais investimentos pro Brasil", apontou.