Campos Neto reafirmou o compromisso do Banco Central de combater a inflaçãoMarcelo Camargo/Agência Brasil
Campos Neto diz que BC busca equilíbrio entre custos de combate à inflação e o de não combate
Presidente do Banco Central reconheceu os efeitos do aperto monetário sobre a atividade econômica
São Paulo e Brasília - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, reconheceu os efeitos do aperto monetário sobre a atividade econômica, mas reiterou que a autoridade monetária vai perseguir as metas de inflação. Em fórum do Bradesco BBI, Campos Neto afirmou que o BC tem procurado um equilíbrio entre os custos do combate à inflação e os de não combatê-la. Nesse sentido, disse que perseguir a meta já em 2023 nunca foi o objetivo, uma vez que demandaria juros muito altos.
Mesmo assim, observou mais de uma vez durante o evento que o preço de enfrentar a inflação é, no longo prazo, menor do que o de deixar os preços subirem descontroladamente para poupar a atividade econômica no curto prazo.
Campos Neto disse não ser verdade que a inflação seja só de oferta, sem relação com pressões vindas da demanda. Assim, deixou mais uma vez claro que a função do BC é combater efeitos secundários da inflação, citando a alta de preços dos serviços e dos núcleos ainda altos.
Em relação a usar como referência o núcleo, ao invés do IPCA cheio, nas decisões de política monetária, o presidente do BC avaliou que este é um debate técnico. Observou, no entanto, que, em países emergentes, o mais comum é dar maior peso à inflação cheia, mesmo quando os núcleos sejam observados.
Campos Neto minimizou também os estouros de meta da inflação nos últimos anos. "Países com inflação mais baixa furam metas tanto ou mais que o Brasil", comparou o presidente do BC, acrescentando que não vê problemas com o sistema de metas de inflação no Brasil.
Crises bancárias dos EUA e Europa e efeitos sobre crédito
O presidente do Banco Central disse ainda que as crises bancárias têm origens diferentes nos Estados Unidos e Europa, porém convergem a um cenário de desaceleração de crédito em ambas as economias. "Implicação disso é que o crédito vai desacelerar. A gente imagina uma desaceleração de crédito grande na Europa e nos EUA", declarou.
Nos EUA, observou o presidente do BC, o problema é de bancos regionais, cuja regulamentação é diferente e, citando o SVB como exemplo, a base de depositantes é concentrada e limitada, o que leva a uma fragilidade dessas instituições.
Já na Europa, continuou Campos Neto, o problema é diferente, relacionado à baixa rentabilidade dos bancos, com questionamento do mercado ao modelo de negócio. Apesar disso, Campos Neto considerou relativamente rápida a solução dada pela Suíça ao Credit Suisse.
Em relação às condições de crédito no Brasil, Campos Neto julgou que os bancos apontam desaceleração de crédito, porém sem enxergar uma crise. Os bancos, acrescentou, dizem que o problema no crédito é de oportunidades, sendo que o crescimento de 7,5% do crédito previsto no Brasil é compatível com resto do mundo.
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