Ministro da Fazenda, Fernando HaddadAntonio Cruz/Agência Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na última sexta-feira, 7, que o governo federal vai discutir uma nova regra para gastos obrigatórios, ou seja, que são vinculados a algum piso ou a arrecadação federal, como investimentos em Saúde e Educação. A declaração foi dada em entrevista à "Folha de São Paulo".

O ministro irá propor uma regra "mais estável", que não varie de acordo com a orientação de cada governo, seja ele conservador ou progressista. "Até o final do ano queremos uma rediscussão sobre isso. Queremos evitar isso que é recorrente: os governos progressistas revogam as desvinculações, os governos conservadores reintroduzem (regras que desobrigam o governo a gastar com certas rubricas do Orçamento, como em saúde ou educação)", disse.
"O que nós queremos discutir, depois da reforma tributária, é uma regra que acabe com esse vai e vem, que dê uma estabilidade maior e mais consistente para esse tipo de despesa (obrigatória ou de crescimento vinculado a receitas)", declarou ao jornal.

O ministro ainda afirmou que a prioridade do momento é a reforma tributária e que a nova regra para gastos obrigatórios só será discutida após a aprovação do texto. Haddad adiantou também que irá fazer uma revisão nas desonerações.

Perguntado sobre a resistência de alguns setores com uma possível elevação da carga tributária, Haddad rebateu: "O que eles vão ganhar de redução de taxa de juros é muito mais importante do que eles vão passar a pagar devidamente. Eles não estão entendendo o equilíbrio macroeconômico que nós estamos perseguindo".

"Se, quem não paga imposto, passar a pagar, todos nós vamos pagar menos juros e a economia vai crescer. Para o bem comum. Enquanto setores privilegiados continuarem a fazer o que estão fazendo, lobby no Congresso, lobby no Judiciário, lobby para erodir a base fiscal do Estado... (vamos ter isso) cinco BNDES no Orçamento da União", completou o ministro.

Novo arcabouço fiscal
Haddad tenta angariar novas fontes de receita para sustentar as metas propostas no novo arcabouço fiscal. O conjunto de regras propõe, através de metas de superávit e controle de gastos, zerar o déficit público primário da União no próximo ano e ter superávit primário de 1% do PIB em 2026. O superávit primário é o resultado positivo de todas as receitas e despesas do governo, excluindo gastos com pagamento de juros.

Como anunciou Haddad, os gastos da União se limitarão a 70% do crescimento da receita. Com isso, o Orçamento volta a ter aumento real, ou seja, acima da inflação. No entanto, caso a arrecadação não seja suficiente para atingir a meta de superávit, esse percentual cai para 50% no ano seguinte e 30% no posterior.

Com isso, o crescimento mínimo da despesa federal será de 0,6% por ano (em termos reais, além da inflação) e no máximo de 2,5% (crescimento limitado, ao ano, a 70% do crescimento da receita).

Perguntado sobre o piso, o ministro defendeu que as metas são factíveis com o potencial de crescimento da economia brasileira.

"O aumento do gasto durante o teto de gastos foi de 0,6% ao ano. Mesmo com a medida mais dura já tomada na história mundial, que foi o teto de gastos, a despesa cresceu 0,6%. Nos sete anos de governos ultraneoliberais, a despesa cresceu 0,6% (ao ano)", disse.
"Na minha opinião, seria um equívoco vender para o país uma coisa que nem os governos ultraneoliberais conseguiram entregar. É melhor apresentarmos uma coisa factível (levando em conta) o potencial de crescimento que a economia brasileira tem. O pressuposto de muitas das perguntas que você está me fazendo é: o Brasil nunca mais vai crescer", concluiu.