Cidade das Artes recebe centenas de visitantes no Expo Favela Innovation 2023Marcos Porto / Agência O Dia
Empreendedores exaltam visibilidade dada pelo Expo Favela Innovation: 'Somos gigantes'
Evento começou neste sábado e vai até segunda. Segundo dados divulgados na feira, 39% dos moradores destas regiões possuem um negócio próprio e 75% têm a intenção de empreender
Rio – A Cidade das Artes recebe, neste sábado (29), o primeiro dia da Expo Favela Innovation, maior feira de negócios de comunidades do mundo. De acordo com a pesquisa do Instituto Data Favela, apresentada no evento, 39% dos moradores destas regiões têm um negócio próprio e, dos que ainda não possuem, 75% pretendem empreender. Quem participa da exposição exalta a visibilidade gerada pelo evento para quem empreende na periferia.
Organizado pela Favela Holding e produzido pela InFavela, com parceria social da Central Única das Favelas (Cufa), a abertura do evento contou com a presença do prefeito Eduardo Paes e do Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, além do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
"O grande ganho que temos com esse evento é expor a força das nossas favelas. O que a Cufa tem feito ao longo da sua história, especialmente com esta Expo Favela, é liberar a potência destas regiões. Para nós do Rio de Janeiro, que é a capital das favelas, é uma honra receber este encontro aqui", afirmou Eduardo Paes.
"Quero dizer da minha honra e orgulho de estar aqui como ministro dos Diretos Humanos. Nós queremos investir nas comunidades, nas favelas e nas associações de moradores, para que elas possam se organizar. O nosso papel é dar as condições para as pessoas permaneçam bem e vivam com dignidade para que possam construir um futuro e viver uma vida plena", destacou Silvio Almeida.
Para Luciana Oliveira, que está na feira com o estande do projeto Empodera Samba, um site que busca dar voz e visibilidade às mulheres no samba e no carnaval, o evento é muito importante para o empreendedor da favela.
"É uma ocupação de espaço onde nós, que somos favelados, pretos, periféricos, que somos discriminados e perseguidos, estamos em pé de igualdade, mostrando para o asfalto que somos gigantes". Ela confessou seus planos para o futuro. "Agora eu quero estar na feira nacional", desejou.
Liliana Martins, idealizadora da marca Fundanga Vestuário, que produz moda agênero, com o paetê como principal matéria-prima, classifica o evento como uma oportunidade que os empreendedores de favelas têm para mostrar seus negócios.
"Existem muitos talentos escondidos que não têm chance de se expressar para o resto do mundo. Esta é uma oportunidade para as pessoas divulgarem e levarem seus projetos para outros lugares e provarem que não é questão do local de nascença. Na comunidade tem muita gente que desenvolve soluções práticas dentro das suas limitações para melhorar a própria vida e a das pessoas que estão com ela", disse.
Oyatunbi Rogeria, que está expondo o projeto Espaço Cultural Útero Ancestral, que promove palestras, biblioteca itinerante e arrecadação de brinquedos, se mostrou grata por participar do Expo Favela.
"Com esta feira, nós, que somos pequenos empreendedores, vamos ser vistos e teremos reconhecimento. Quero usar os aprendizados que estou tendo para agregar eles na minha carreira e alavancar o meu projeto, que hoje é itinerante. Eu só tenho gratidão", contou.
39% dos moradores de favelas possuem negócio próprio, aponta pesquisa
A pesquisa inédita, que tem como objetivo compreender o atual cenário do empreendedorismo nas favelas com foco em suas potencialidades, perspectivas e desafios, apresentada pelo Instituto Data Favela no evento, aponta que 56 % dos entrevistados se consideram empreendedores e 39% já têm um negócio próprio.
Além disto, 44% dos negócios próprios foram iniciados nos últimos dois anos. Entre os estabelecimentos mais comuns estão restaurante e venda de refeições, serviços de estética e cabelereiro, revenda de produtos cosméticos, construção civil e reformas, e comércio especializado, como avicultura e farmácia.
Enquanto 42% dos entrevistados abriram o próprio negócio por oportunidade, 58% se tornaram empreendedores por necessidade. Entre as maiores dificuldades que enfrentam estão a falta de capital, com 55%, e a gestão financeira, com 25%.
Entre os empreendedores das favelas, 98% apontam que faltam recursos financeiros para seu negócio. A maioria dos entrevistados, 66%, conta que possui dificuldade em conseguir crédito, enquanto 33% nunca nem tentou. Grande parte , 57%, se declarou informal, ou seja, não possui um CNPJ.
Em retrospectiva sobre os últimos 12 meses, somente 17% dos empreendedores experimentaram um aumento em suas vendas, 47% sentem que não houve alteração e 35% que houve diminuição. Mas a perspectiva para o futuro se mostra mais positiva: 9 em cada 10 se declaram otimistas em relação ao futuro de seu negócio e 73% acreditam no crescimento de suas vendas para os próximos 12 meses.
A digitalização dos negócios também está presente nas favelas: 6 em cada 10 dos empreendedores atendem seus clientes pela internet. Para 34%, qualificação e capacitação na área de marketing digital é uma prioridade.
O Expo Favela Innovation 2023 abre espaço para o empreendedorismo das favelas cariocas, com exposições e startups, palestras, Arena Universitária, shows de grandes artistas da favela e do asfalto, mentorias, Favela Literária, conferências, espaço games, entre outras atrações.
O evento acontece nos dias 29, 30 e 31 de julho na Cidade das Artes, localizada na Av. das Américas, 5300, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Os ingressos, que custam entre R$ 7,50 e R$ 30, poderão ser adquiridos na plataforma virtual do Expo Favela Innovation.
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