Do fechamento a R$ 4,9868 no último dia 15 até esta quarta, a divisa recua 2,35%AFP
Na contramão do exterior, dólar sobe 0,30% com dúvidas sobre meta fiscal
Com máxima a R$ 4,8833 e mínima a R$ 4,8442, a moeda encerrou o dia cotada a R$ 4,8692
Após uma manhã de quarta-feira de instabilidade e troca de sinais, o dólar à vista se firmou em alta moderada ao longo da tarde, acompanhando a piora do ambiente doméstico em meio à divulgação do resultado do Governo Central em julho e de fala da ministra do Planejamento, Simone Tebet, sobre o projeto de lei orçamentária do ano que vem. Com máxima a R$ 4,8833 e mínima a R$ 4,8442, a moeda encerrou o dia cotada a R$ 4,8692, avanço de 0,30%.
Operadores notaram também influência de fatores técnicos, com investidores já rolando posições no segmento futuro e se preparando para a disputa amanhã da formação da última ptax de agosto. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para setembro movimentou mais de US$ 13 bilhões. Apesar da alta nesta quarta na contramão do exterior, o dólar à vista apresenta leve queda na semana (-0,13%). Do fechamento a R$ 4,9868 no último dia 15 até esta quarta, a divisa recua 2,35%
Segundo analistas, o dólar poderia ter avançado mais nesta quarta-feira por aqui não fosse o enfraquecimento da moeda norte-americana lá fora e o recuo das taxas dos Treasuries. Dados do relatório ADP de emprego privado nos EUA em agosto e a segunda leitura do PIB americano no segundo trimestre vieram abaixo do esperado.
O sócio e diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, observa que, após uma escalda na primeira quinzena de agosto, as taxas dos Treasuries, em especial do papel de 10 anos, experimentaram um alívio nos últimos dias, o que ajudou o dólar a voltar a operar por aqui ao redor de R$ 4,85.
"O ambiente externo está muito dependente dos dados. O dólar foi de pouco mais de R$ 4,70 no fim de julho para quase R$ 5,00 em meados do mês. Houve uma melhora grande e agora, na véspera de indicadores muito relevantes nos EUA e com a expectativa pelo orçamento de 2024, o mercado dá uma corrigida", afirma Monoli, lembrando que amanhã sai o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida pelo Fed, e na sexta-feira, 31, o relatório mensal de empregos (payroll) de agosto.
Segundo Monoli, a rodada recente de números mostrando moderação da atividade nos EUA reforçou expectativa de manutenção dos juros pelo Fed neste ano e de algum corte em medos do segundo trimestre de 2024. Ele pontua, porém, que ainda é preciso esperar a safra dos indicadores de setembro e outubro para que haja realmente uma definição sobre o rumo da política monetária americana.
No quadro doméstico, as atenções estão voltadas para a trajetória das contas públicas. A ministra do Planejamento disse que o governo precisa de R$ 168 bilhões em novas receitas para zerar o déficit primário no ano que vem. Anteriormente, as estimativas eram de que seriam necessários cerca de US$ 150 bilhões.
Entre as medidas para angariar recursos, o Planalto precisa emplacar a aprovação do projeto de lei do voto de qualidade do Carf, que já passou pela Câmara e tramita no Senado, e as medidas para tributar fundos exclusivos, offshores e trusts, anunciadas nesta semana. Tebet ponderou que vai "discutir no Congresso, com situação e oposição", se a meta fiscal será cumprida. "Se muitas medidas não forem aprovadas, teremos outra situação. Haddad tem outras cartas na manga", afirmou. O Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2024 será entregue ao Congresso amanhã, 31.
O Tesouro informou que as contas do Governo Central - que reúne contas do Tesouro nacional, Previdência Social e Banco Central - registraram em julho déficit primário de R$ 35,933 bilhões, superando a medida de estimativas de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast (R$ 31,900 bilhões). Foi o pior desempenho para o mês desde 2020.
"Temos algum grau de desconforto com a situação fiscal. O governo provavelmente não vai cumprir a meta de déficit zero porque precisa de projetos difíceis de aumento de arrecadação", afirma Monoli, da Azimut Brasil, para que, em um desvio da meta em até 0,5 ponto pode ser até relevado pelo mercado. "Se o governo entregar algo pior que 1 ponto, aí o mercado vai projetar uma piora contínua e o prêmio de risco vai subir, se refletindo nos preços dos ativos. Por isso, o mercado vai acompanhar daqui para frente muito a entrega de resultados."
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