De acordo com um estudo da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), ao menos metade dos brasileiros que investem não compreendem o que é inflação e como ela afeta o orçamento familiarReprodução/Agência Brasil

Rio - Quem acompanha o noticiário com regularidade se depara com algumas siglas que fazem referência a índices que medem a inflação. Quando o assunto é economia, é comum ouvirmos falar sobre IPCA, INPC e IGP-M. Mas será que a população compreende o que essas palavras significam e, principalmente, como elas impactam o cotidiano?
De acordo com um estudo da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), ao menos metade dos brasileiros que investem não compreendem o que é inflação. Em 2020, cerca de 3,4 mil pessoas em quase 150 municípios foram questionadas: "Imagine que o rendimento de seu investimento é de 1% ao ano e a inflação foi de 2% ao ano. Depois de um ano, quanto você imagina que poderá comprar com o dinheiro que ficou aplicado nesse período?". Uma a cada duas pessoas erraram a resposta.  
Para que serve cada índice
Antes de entender para que serve cada índice, primeiro é preciso saber definir inflação. Basicamente, inflação é o aumento contínuo de preços e serviços. E diversos fatores como a lei da oferta e da procura, aumento nos custos de produção, o preço do dólar, entre outros, podem fazê-la disparar. Já os índices servem para medí-la, o que ajuda a entender o impacto econômico da inflação na população. 
O economista e conselheiro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alessandro Azzoni, explica que há diferenças entre os três principais índices utilizados. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) tem seu foco nas famílias com renda de um a cinco salários mínimos. Sua coleta dos dados é feita entre o 1º dia e o 30º ou 31º dia de cada mês de referência, tendo em consideração os produtos e serviços consumidos, como alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transportes, entre outros. Os dados são coletados por técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que registram preços em 16 capitais brasileiras.
"Com o INPC mensuramos os índices regionais de preços, o que refletirá a inflação nas 16 capitais e depois extraímos o índice nacional. Dessa análise, podemos ter capitais onde o índice terá um crescimento inflacionário maior que o índice nacional e outras capitais que poderá ter deflação (queda de preços). Por este motivo, esse índice é mais utilizado pelos sindicatos para reajustes salariais", explica Azzoni.
Já o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem um espectro mais abrangente, pois analisa as alterações de preços de produtos e serviços na camada populacional que possui renda entre um a 40 salários mínimos. Atualmente, ele é utilizado como o índice de inflação oficial do Brasil, já que o Conselho Monetário Nacional (CMN) o usa como parâmetro dos ajustes da meta inflacionária do Banco Central. "Além de pesquisar produtos e serviços consumidos por essa faixa de renda, este índice define qual é o peso de cada um destes itens no orçamentos das famílias". 
Por fim, o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) tem seus dados coletados e mensurados entre o dia 20 do mês anterior ao dia 21 do mês de referência, e a sua composição para cálculo leva em consideração três outros índices com seus pesos relativos. São eles: o Índice de Preços do Produtor Amplo (IPA), com 60% de participação no cálculo do IGP-M; o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), representando 30%; e o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC), com 10%.
"A somatória desses três índices resulta no IGP-M. Esse dado nos proporciona uma visão mais macro da economia brasileira, tendo em vista os pesos dos índices acima citados no setor produtivo, e não só do consumo das famílias".
Falta de compreensão afeta orçamento
Para especialistas em finanças, a falta de compreensão dos brasileiros sobre o que é a inflação e como ela impacta no dia a dia afeta a administração dos orçamentos familiares. O educador financeiro Marlon Glaciano destaca que a inflação corrói o poder de compra.
"Penso que como são índices que afetam diretamente o preço de bens e serviços, cabe um cuidado maior tanto das pessoas, priorizando ter mais inteligência financeira, quanto do governo, criando mais políticas públicas de educação financeira", pontua. 
O estrategista-chefe da Acqua Vero Investimentos, Antônio van Moorsel, é outro que defende uma maior atuação governamental sobre esse assunto, através da inclusão do ensino sobre educação financeira nos currículos escolares.
"Acredito que atualmente uma parcela maior da população compreende a relevância dos índices de preços na rotina. No entanto, embora seja uma porção mais representativa do que no passado, ainda há um grande número de brasileiros que desconhece tais indicadores e sua importância. A democratização do acesso ao mercado financeiro, através do entendimento de que o ato de investir não é exclusividade de milionários, incitou parte da população a buscar mais conhecimento. Contudo, é necessário que haja empenho do governo em disseminar a educação financeira às classes mais desfavorecidas, através da inclusão, por exemplo, de cursos básicos sobre o tema no programa curricular da rede pública de ensino", diz.