Proporção de famílias com contas a vencer passou de 77,9% em fevereiro para 78,1% em marçoFreepik - Creative Commons
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), os brasileiros ficaram mais endividados e mais inadimplentes na passagem de fevereiro para março. A proporção de famílias com contas a vencer passou de 77,9% em fevereiro para 78,1% em março, aponta a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
O levantamento considera como dívidas as contas a vencer nas modalidades cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa.
A fatia de consumidores com contas em atraso também aumentou, passando de 28,1% em fevereiro para 28,6% em março. A parcela de famílias que afirmaram não terem condições de pagar as dívidas atrasadas, permanecendo assim inadimplentes, avançou de 11,9% em fevereiro para 12% em março. O resultado ainda é mais elevado que o de março de 2023, quando 11,5% estavam nessa situação.
Os dados também apontam que os mais pobres são os que puxam essa alta no endividamento e na inadimplência. No grupo com renda familiar mensal de até três salários mínimos, a proporção de endividados subiu de 79,2% em fevereiro para 79,7% em março.
Quanto à inadimplência, no grupo com renda familiar mensal de até três salários mínimos, a proporção de famílias com dívidas em atraso subiu de 35,8% em fevereiro para 36,4% em março.
De acordo com a avaliação da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), "esse resultado revela maior demanda das famílias por crédito, aproveitando o menor custo com juros".
Vale a pena contrair um empréstimo para quitar dívidas?
Dados do Banco Central mostram que as concessões de empréstimos no Brasil encerraram em 2023 com avanço de 4,7% em relação ao ano anterior, depois de um salto de 7,8% em dezembro.
Para o especialista em finanças e investimentos Hulisses Dias, recorrer a um empréstimo pode ser uma solução, mas só é atrativo quando as taxas de juros são significativamente mais baixas do que as taxas de juros das dívidas existentes.
"Se o empréstimo oferecer condições de pagamento mais favoráveis, como prazos mais longos e parcelas mensais menores, se torna uma boa opção. Quando se tem várias dívidas, trocar essas dívidas por um único empréstimo com uma taxa de juros menor simplifica o processo de pagamento", aponta.
"Avaliar a viabilidade do empréstimo envolve calcular cuidadosamente o custo total do empréstimo (CET), incluindo taxas e encargos, e compará-lo com o custo total das dívidas existentes", acrescenta.
"Sem um compromisso firme em controlar os gastos, evitar novas dívidas e construir uma reserva financeira, há o risco de cair em um ciclo vicioso de endividamento, tornando-se ainda mais difícil sair dessa situação. É importante encarar o empréstimo como uma ferramenta temporária para superar uma situação financeira desafiadora, e não como uma solução definitiva e constante para problemas de dinheiro", explica Bernardo.
"Ao analisar se é vantajoso ou não pegar um empréstimo, deve-se perguntar qual é a taxa de juros efetiva, que é diferente da taxa de juros nominal, lembra Hulisses Dias.
A taxa básica de juros da economia, a Selic, vem acumulando sucessivas quedas. Na última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), ela foi reduzida de 11,25% para 10,75% ao ano, sendo a sexta consecutiva. Mas, embora a Selic seja uma balizadora, Dias ressalta que, até o momento, o custo dos empréstimos não caiu na mesma proporção.
"A inadimplência nas linhas de crédito mais arriscadas continua alta, como o custo de captação para os bancos está menor, eles se aproveitam deste momento para ter um spread (ganhos na operação) maior e assim obter uma compensação pelo risco que estão expostos", afirma.
Já Bernardo explica que mesmo que as quedas na Selic influenciam os juros dos empréstimos, nem sempre essa correlação é direta.
"As taxas de juros praticadas no mercado são influenciadas por diversos outros fatores, como a política de crédito dos bancos, o perfil de risco do tomador, a oferta e demanda por crédito, entre outros. Ao analisar as taxas de juros, é importante priorizar não apenas a taxa nominal, mas também o Custo Efetivo Total (CET), que engloba todos os encargos e tarifas do empréstimo, garantindo uma comparação mais precisa entre as diferentes ofertas de crédito", lembra.
"Outro aspecto relevante a considerar é o prazo de pagamento do empréstimo. Mesmo que uma instituição ofereça uma taxa de juros mais baixa, um prazo mais longo pode resultar em um custo total mais elevado ao longo do tempo", acrescenta.
Tipos de empréstimos
O empréstimo pessoal é o mais comum. Nele, a instituição financeira concede o crédito sem exigir condições de como aquele dinheiro será gasto. É uma modalidade na qual uma instituição empresta uma quantia de dinheiro, que será paga em parcelas regulares ao longo de um período determinado.
"Geralmente, não é necessário fornecer garantias específicas (como um imóvel ou veículo), tornando-o uma opção acessível para muitas pessoas", explica Bernardo.
O empréstimo consignado é uma forma de crédito na qual as parcelas são descontadas diretamente da folha de pagamento do tomador do empréstimo, antes mesmo de ele receber o salário. "Esse tipo de empréstimo é geralmente oferecido a servidores públicos, aposentados e pensionistas, garantindo ao credor uma forma de pagamento mais segura", diz.
Já o empréstimo com garantia exige que um bem seja dado como garantia para liberação do crédito, como um veículo, imóvel ou aplicação financeira."Em contrapartida, a taxa de juros dessa modalidade é menor", ressalta Dias.
Vantagens de contratar um empréstimo
- Consolidação de dívidas: O tomador do empréstimo pode consolidar todos os débitos em uma única parcela. Isso reduz a quantidade de contas e pagamentos a serem acompanhados mensalmente. Em vez de lidar com múltiplos credores e datas de vencimento diferentes, o devedor terá apenas uma parcela a ser paga, facilitando o controle financeiro.
- Redução dos juros: Ao consolidar as dívidas em um único empréstimo com uma taxa de juros mais favorável, o devedor pode economizar dinheiro ao longo do tempo, pagando menos juros no total.
- Facilitação do controle financeiro: Com apenas uma parcela a ser acompanhada, torna-se mais fácil manter o controle sobre as finanças e evitar atrasos nos pagamentos. Isso pode ajudar a melhorar a saúde financeira geral, reduzindo o estresse e a ansiedade associados ao gerenciamento de múltiplas dívidas.
- Oportunidade de reorganizar as finanças pessoais: Concentrando a dívida em um único empréstimo, o devedor tem a oportunidade de reorganizar suas finanças pessoais de forma mais estruturada. Isso pode incluir a elaboração de um plano de pagamento mais claro e realista, estabelecimento de metas financeiras de longo prazo e implementação de hábitos financeiros saudáveis para evitar futuros problemas de endividamento.
Cuidado com fraudes
Solicitar empréstimo pela internet é seguro, desde que se tome algumas medidas de proteção. Além de pesquisar sobre a instituição, é preciso ficar atento aos sinais para ter certeza que a instituição e o empréstimo são legítimos.
As transações são, geralmente, criptografadas e há mecanismos de segurança de dados que protegem a transação. Ainda assim, é necessário ter cuidado com e-mails ou mensagens que pareçam estranhas. Se necessário, entrar em contato e verificar a autenticidade da comunicação antes de seguir os passos indicados é um bom caminho.
Fornecer os dados para que as instituições verifiquem o histórico de crédito é uma operação necessária para que a quantia solicitada seja liberada. As empresas que não fazem esse processo de checagem e não solicitam informações do cliente podem ser maliciosas.
A cobrança de taxas antecipadas não é permitida pelo Banco Central. Sendo assim, instituições sérias não fazem esse pedido. Também é importante saber que todas as empresas de empréstimos pessoais devem estar registradas como pessoa jurídica.
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