O atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, realizou junto com o futuro presidente, Gabriel Galípolo, a última coletiva de imprensa antes da transição. O encontro, marcado para a apresentação do relatório de inflação do quarto trimestre, serviu também como uma despedida para Campos Neto e o início de uma transição saudável, com troca de elogios entre os dois. Ambos comentaram sobre a alta dos juros e reforçaram a atuação do BC.
Galípolo, que assume o Banco Central em janeiro de 2025, elogiou bastante o trabalho de Campos Neto no período em que exerceu o cargo e a generosidade na transição. Segundo o futuro presidente, em todas as reuniões, era indicado que o peso das suas falas era diferente, pela iminência da troca de posições.
"Quero só agradecer, Roberto. Tenho muito orgulho de você ter me dado essa oportunidade de estar passando por essa primeira transição da autonomia do BC. Eu sou testemunha de que o Roberto, em todas as reuniões, atuou com preocupação em relação ao País, sempre, sempre, pensando o que era melhor para a economia brasileira e o que era para o país e em fortalecer a gente. E é um orgulho para mim poder passar por essa transição, na primeiro teste aqui da autonomia do BC. Agradeço como futuro presidente, brasileiro e como amigo", disse o diretor.
Na apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), Roberto Campos Neto avaliou que a instituição está bem equipada para continuar exercendo seu papel fundamental. "Eu tenho certeza que o Banco Central está bem preparado e equipado para continuar exercendo seu papel fundamental para a sociedade brasileira. Eu vou continuar defendendo e ajudando o Banco Central sempre, em forma clara e transparente, lutando pela autonomia e pelo aprimoramento da economia", afirmou.
Sobre juros, Gabriel Galípolo reiterou que a autoridade monetária deu um passo claro e transparente na direção de colocar em um patamar restritivo no País. "O Banco Central tem feito tudo o que pode fazer entendendo, vamos dizer assim, as disfuncionalidades que existem no mercado nesse período que nós estamos passando, onde tem algum questionamento e alguma incerteza em relação à política fiscal. O Banco Central está fazendo o que pode fazer", garantiu o diretor
Na última reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou os juros em 1 ponto percentual, levando a Selic ao patamar de 12,25%. No comunicado, o colegiado sinalizou aumentos de 1 ponto percentual nas próximas duas reuniões.
“A política monetária tem que seguir. A decisão do guidance está correlacionado com o fato de que os riscos se materializaram e isso ofereceu uma maior visibilidade para a gente. Entendemos que esse posicionamento fazia sentido para anunciar ele agora”, afirmou Galípolo.
O presidente do Banco Central, Campos Neto, disse que a autarquia tem buscado os "melhores instrumentos" para intervir no mercado de câmbio. A opção por atuar com leilões à vista se deve à pressão causada por uma saída de recursos, e não por operações de hedge tradicional, afirmou.
"Isso não significa que a gente não vai atuar daqui para a frente com swaps: a gente sempre olha as demandas, olha os fluxos, vê o que está mapeado na Ptax, o que é saída física, e escolhe os melhores instrumentos", afirmou Campos Neto. "A gente tem uma liberdade entre os instrumentos."
Campos Neto garantiu que o BC não leva a dívida em consideração na hora de interferir no mercado de câmbio e acrescentou que, em momentos nos quais ocorre uma mudança nos parâmetros de risco, pode haver corridas por proteção. Quando isso ocorre, as intervenções do BC têm de ser grandes o bastante para sanar disfuncionalidades, mas não podem gerar a percepção de que a moeda americana perdeu a capacidade de servir como proteção.
Campos Neto advertiu que a autarquia não deve ser confundida com uma perda de autonomia da autoridade monetária.
"O Banco Central acaba tendo uma função de comunicar o governo sobre o que está vendo em termos de mercado, em termos de fluxos internacionais, e isso não significa de nenhuma forma perda de autonomia", disse o banqueiro central. "A autonomia e o processo de transição em diversos governos vai mostrar que o BC tem essa função, é importante, mas não deveria se misturar em termos de autonomia," afirma.
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