Ministra do Planejamento, Simone TebetFabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse nesta quarta-feira, 12, que acredita na redução dos preços de muitos alimentos nos próximos 30 dias.
Tebet também afirmou que a redução para zero do imposto de importação de diversos produtos, incluindo a carne, pode ter efeito "meio que moral", levando produtores a aumentar a oferta e a reduzir preços para defender posições no mercado doméstico frente à competição estrangeira.

"A própria carne, embora falem assim 'nós somos exportadores', há um efeito assim meio que moral. Opa, se está isenta a importação de carne, ao invés de só exportar tanto, vou deixar um pouco mais para o mercado nacional. Com isso, baixo o preço para evitar a concorrência de fora", afirmou a ministra.
"Há um conjunto de fatores que vão mostrar que nos próximos 30 dias muitos produtos vão começar a baixar de preço", acrescentou na entrevista exibida pela GloboNews.
Gleisi pode ajudar na aprovação de medidas econômicas
Tebet afirmou que a nova ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, deverá dar suporte à agenda de medidas econômicas do Ministério da Fazenda, a despeito de eventuais discordâncias com o ministro Fernando Haddad. A ex-presidente do PT, segundo Tebet, é capaz de "vestir e desvestir" a camisa de acordo com o cargo que ocupa.

"Ela exercia o papel de presidente de um partido, que tinha uma posição ideológica e econômica muito clara. Ela não podia fazer outra coisa enquanto presidente de partido. Agora ela é uma ministra palaciana, fidelíssima ao presidente Lula, e sabe que o projeto de país que está em andamento na parte econômica é o projeto do governo dela", disse Tebet.
Corte de gastos
A ministra também disse que vê uma "janela" para o governo cortar gastos a partir de 2026, algo que não foi possível fazer nos últimos anos. Tebet afirmou que uma "janela de gastança" foi aberta no fim de 2022 com o objetivo de recuperar diversas políticas públicas.

Já na virada de 2026 para 2027, "seja qual for o próximo presidente", será necessário realizar um ajuste fiscal maior para evitar o crescimento da inflação e da dívida pública, na visão da ministra.

Tebet ressaltou ainda que a proximidade das eleições do ano que vem impede um corte de gastos mais profundo no momento. "Converse com os 54 senadores que vão para a reeleição. Eles não querem tratar desse assunto. Eu não tenho dúvida, conheço meus colegas e não os critico", afirmou.

Tebet revelou que esperava um Congresso "mais fiscalista" durante os dois primeiros anos do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Nós achávamos que teríamos um parceiro mais fiscalista no Congresso Nacional, não foi o que aconteceu", disse a ministra. "Então não adianta dar murro em ponta de faca. Democracia é isso e temos que conviver, e não temos que fazer qualquer crítica em relação a isso, faz parte do jogo democrático."
Orçamento  
A ministra disse que o fato do Orçamento de 2025 ainda não ter sido aprovado pelo Congresso "não faz falta", ao menos do ponto de vista fiscal e do equilíbrio das contas públicas.

Em entrevista à GloboNews, Tebet afirmou que trabalhar com 1/18 do Orçamento, como prevê a legislação enquanto a Lei Orçamentária Anual (LOA) não é aprovada, "não é ruim" para efeito de cumprimento da meta de déficit primário zero - que será cumprida, reiterou a ministra.

"O Orçamento não me faz falta nesse ponto, mas eu preciso por segurança jurídica, precisamos realizar obras e fazer a máquina do governo e da economia andar", disse Tebet. Segundo a ministra, o governo está "colocando tudo" dentro da peça orçamentária, como o Programa Pé-de-Meia e o Auxílio Gás.

Em relação aos próximos passos do governo na seara fiscal, Tebet destacou que o governo não irá "inventar subsídios" ou insistir em "fórmulas passadas" que não deram certo. "Não existe almoço grátis", afirmou a ministra, que chamou o colega Fernando Haddad, da Fazenda, de "herói", por enfrentar resistências dentro do PT.
Incerteza global
A ministra afirmou que os números da economia do país "nunca estiveram tão bons", ao citar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), da renda e do emprego.
"Nunca tivemos tantos jovens empregados e nunca tivemos tantas mulheres empregadas, nunca tivemos tanta formalidade", afirmou a ministra.
Na avaliação de Tebet, porém, o cenário de incerteza global está deixando de ser momentâneo para se tornar um fenômeno "estrutural", que se traduz em "insegurança".
"A incerteza é a pior palavra quando se trata de economia, mas a incerteza é conjuntural, ela é temporária. Acho que nós estamos passando por algo ainda pior, nós estamos passando por algo estrutural", disse a ministra, que citou também as questões climáticas e os conflitos armados em andamento.

Tebet reconheceu que o governo errou em alguns pontos, especialmente na comunicação com a população, "tanto na forma, quanto no conteúdo". A ministra afirmou, porém, que "aposta todas as fichas" no trabalho do ministro da Comunicação Social, Sidônio Palmeira, que assumiu o cargo no início do ano.

Tebet disse que o governo não pode "ter medo" de dialogar com a sociedade, mesmo em temas espinhosos, como a discussão sobre o fim da escala de trabalho 6x1. "A jornada 5x2 precisa ser colocada na mesa", disse Tebet, que defendeu um período de transição para as grandes empresas e uma proteção para os pequenos negócios.
Integração sul-americana
A ministra disse que a integração da América do Sul está "pronta para sair do papel" e sugeriu que o fluxo econômico entre os países da região deverá aumentar.
"Nós temos 200 milhões de sul-americanos que são possíveis consumidores nossos, e nós precisamos aproveitar. E eles têm 200 milhões de brasileiros à disposição deles para consumir os produtos deles", afirmou.

A proposta de integração, segundo Tebet, não começou agora, mas sim com algumas obras de infraestrutura no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A ministra disse que, por exemplo, a Bolívia possui fertilizantes e minerais nobres que o Brasil precisa utilizar no agronegócio, enquanto o país tem produtos como alimentos semielaborados e automóveis para "abastecer" a Bolívia. "Então, estamos do lado, temos um rio que nos divide, uma ponte que nos une."

A ministra também destacou o potencial que a América do Sul possui para realizar negócios com a China, dada a possibilidade de escoamento de itens pelo Oceano Pacífico. "Não é só pelo Porto de Santos, é pelo Pacífico. Nós vamos diminuir em 10 mil quilômetros a distância. Portanto, nós estamos falando de diminuir o custo dos nossos produtos quando essas rotas estiverem prontas."
Emendas parlamentares
Simone Tebet fez críticas ao crescimento descontrolado das emendas parlamentares, que podem virar "um caso de polícia".

"Eu já vi essa história antes, eu já vi esse filme antes. Não sou contra as emendas parlamentares, acho que elas são saudáveis. Neste patamar que sou contra", afirmou a ministra.
Segundo Tebet, em nenhum outro lugar do mundo o Parlamento tem tantos recursos quanto o Executivo para investimentos.

É preciso, segundo a ministra, encontrar um maior equilíbrio em relação às emendas, sob o risco de a situação atual levar a um cansaço da população brasileira com a classe política. Nesse sentido, Tebet disse que sua maior preocupação para as eleições do ano que vem é com o surgimento de candidatos de fora da política tradicional. "Não tenho medo da direita ou da esquerda tradicional, tenho medo de um outsider, que vem com ideias mirabolantes de um mundo totalmente distópico."