Indústria de calçados é um dos setores que pode se beneficiar do processo de internacionalizaçãoReprodução
As tarifas diferenciadas impostas por Trump à China — que chegaram a ultrapassar 100% em alguns produtos — podem alterar profundamente os fluxos comerciais globais. A depender da continuidade dessas medidas, o impacto será sentido em diversos setores e, de forma indireta, pode abrir espaço tanto para o Brasil quanto para outros países emergentes.
“Independentemente se essa taxação comercial será benéfica aos Estados Unidos, esse aumento de taxação para a China cria brechas importantes para o Brasil”, afirma Chacur. A observação se refere principalmente à indústria agropecuária, que pode ganhar enorme protagonismo ao suprir as demandas alimentares da China, um país com forte preocupação com segurança alimentar e que possui uma das maiores populações do mundo.
Com a relação comercial entre EUA e China fragilizada, a expectativa é de que a China redirecione sua demanda ao Brasil, principalmente no setor de alimentos. “O Brasil pode atender de forma relativamente rápida e com qualidade”, destaca o gerente.
Além disso, o Brasil também pode aumentar suas exportações para os Estados Unidos, ocupando o espaço deixado por produtos chineses que perderão competitividade em razão das tarifas. “Produtos de consumo como calçados, roupas, alimentos, bijuterias, embalagens, dentre outros são itens em que o Brasil pode entrar com força no mercado americano”, complementa.
O cenário, contudo, não é isento de riscos. A indústria chinesa, conhecida por seu alto volume de produção e preços agressivos, pode passar a inundar mercados alternativos — incluindo o Brasil — com produtos que antes tinham os EUA como destino. Isso impõe um desafio adicional para empresas nacionais que precisam estar preparadas para concorrer em preço e qualidade também no mercado interno.
A volatilidade do cenário político norte-americano exige cautela. Ainda assim, a tendência é de manutenção das tarifas mais agressivas contra a China, o que reforça a leitura de que o Brasil pode se consolidar como fornecedor alternativo para os Estados Unidos.
“Existe uma grande oportunidade no médio prazo. Mas é preciso se preparar para não se ‘queimar’, ter uma experiência ruim e ser forçado a sair do mercado em seguida. Os EUA são vários mercados em um só — vender para Miami é diferente de vender para Nova York ou Califórnia. Então, planejamento é tudo”, conclui.
Setores como alimentos, calçados, vestuário, acessórios, cosméticos e até o de serviços estão entre os que podem se beneficiar, desde que preparados para atuar no competitivo — e agora mais receptivo — mercado internacional.
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