Boulos reconheceu que parte da rejeição a sua campanha tem a ver com um receio por sua visão ideológica de esquerdaRafa Neddermeyer/Agência Brasil

São Paulo- O candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) disse nesta terça-feira, 22, que sua "carta ao povo" da capital paulista teve entre os principais objetivos dialogar com trabalhadores autônomos da periferia que votaram no primeiro turno em Pablo Marçal (PRTB), terceiro colocado na disputa com 1,7 milhão de votos. Para ele, o discurso de extrema direita, que considera hipócrita, teve mais apelo entre o eleitorado com esse perfil, e a votação do ex-coach ligou um "alerta" sobre o diálogo com a periferia em sua campanha.
"A maneira como esse segmento aderiu à candidatura do Marçal acendeu um alerta", disse Boulos em sabatina na GloboNews, em referência a trabalhadores da chamada economia digital, como motoristas de aplicativo, plataformas e do trabalho por conta própria. Ele aproveitou para reafirmar sua proposta de criar 96 pontos de apoio para motoboys e de discutir a liberação do rodízio para motoristas de aplicativo, por exemplo.
"O cara que pegou moto para trabalhar, a boleira ou a manicure que trabalham na garagem de casa, minha carta quis dar uma mensagem a essas pessoas", afirmou Boulos. "O fato de por muito tempo o nosso campo político (esquerda) não ter falado com elas nós reconhecemos. Nosso governo vai falar. A extrema direita soube passar uma mensagem mais sedutora, mas hipócrita, porque não está preocupada de verdade com essas pessoas."
O psolista reconheceu que parte da rejeição a sua campanha tem a ver com um receio por sua visão ideológica de esquerda. "É um receio. 'O Boulos é de esquerda, vai ter ranço ideológico', e não vai. Sou deputado há um ano e meio e aprovei três projetos com votos do União, do Republicanos, do MDB. Tenho consciência (de) que o papel que vou ter é de representar minha cidade, não meu partido."
Na sabatina, Boulos avaliou que o primeiro turno das eleições 2024 causou uma "ressaca precoce" que precisa ser revertida para o dia da votação final, no próximo domingo. "O primeiro turno foi tão atípico, com cadeira voando, laudo falso, que as pessoas entraram numa ressaca precoce antes da eleição acabar. Aí elas deixam de entender o que está em jogo na votação do próximo domingo", disse.
O candidato também foi questionado a respeito da possível cassação do contrato da Enel em São Paulo. O assunto ganhou força no debate político do segundo turno, durante os apagões causados pelas chuvas recentes. Boulos voltou a criticar a atuação de seu adversário, Ricardo Nunes (MDB), acusando-o de omissão.
"A concessão é feita pelo governo federal, mas a concessão acaba em 2029. Até lá, o contrato só pode ser interrompido por caducidade determinada pela Aneel, que tem presidente indicado pelo (ex-presidente) Jair Bolsonaro, aliado do (governador de São Paulo) Tarcísio de Freitas e de Nunes", afirmou Boulos. "Quantas reuniões eles não tiveram a portas fechadas com a Enel? São Paulo hoje não tem um prefeito. Ele gagueja pra responder pergunta, imagina ele numa reunião com o diretor da Enel ou com Bolsonaro?", disse.